Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Era uma terça-feira fria. Uma amiga sugeriu jantarmos no novo O Mirandês, restaurante português que abriu suas portas recentemente na Santa Cecília. Eu, adepta à novidades, topei! Ao invés dos tradicionais portugueses pomposos da cidade, O Mirandês é uma portinha com um balcão pequeno, luz intimista e mesas espalhadas pela calçada. Fui recebida pela Maria com um abraço apertado. Confusa sobre quem era ela, abracei-a efusivamente e então ela me soltou, sorriu e disse “Bem-vindos, eu sou a Maria”. Pronto, ali eu já tinha ficado fã da casa.
Numa espera pequena por uma mesa para 4 pessoas, aproveitei para xeretar o restaurante e bater um papo com o Vitor, o dono do local. Simpaticíssimo, respondeu a todas as minhas curiosidades. Quando me dei conta, eu e meus amigos já estávamos dividindo uma pequena mesa rente ao fio da calçada. A partir daí as surpresas vieram aos borbotões.
O Vitor é “O Mirandês“, já que essa é a naturalidade de quem nasce na pequena Miranda do Douro, em Portugal. Ele veio pra São Paulo aos 17 anos, tanto que o sotaque quase não é perceptível, a ponto de eu achar que ele era apenas descendente de portugueses. Ledo engano! Vitor é português de alma e coração.
Miranda do Douro fica bem ao norte de Portugal, na fronteira com a Espanha. Como o nome já indica, a cidade é cortada pelo Rio Douro. O Vitor saiu de lá aos 17 anos para morar e trabalhar com um tio em São Paulo. A parceria durou apenas 6 meses. Não demorou para ele entrar no ramo alimentício como sócio de uma rotisseria. A sociedade não deu certo e o Vitor passou 25 anos em outro ramo, mas o sonho de voltar pra cozinha se manteve aceso.
Entender a história do Vitor é entender cada detalhe d’O Mirandês. Da decoração à iluminação e comida, tudo foi pensado por ele, que não titubeou em alugar o local onde fica o restaurante quando soube que estava disponível. Ali, identidade não falta. O Vitor cresceu em meio ao cultivo de uvas, cuidado de hortas, vinhos e até matança de porcos. A adega da família, além de servir como estocagem de comida, vinho e lenha, funcionava também para encontros familiares e com amigos. Foi de lá que ele tirou a inspiração para fazer o cardápio de entradas d’O Mirandês: os petiscos de adega, comida preparada a partir do que se tem estocado na adega quando acontecem encontros nela.
O cardápio d’O Mirandês é baseado em frutos do mar, assim como a cozinha típica mirandesa. O bolinho de bacalhau é sucesso da casa e provavelmente um dos mais saborosos que já experimentei na vida. Foi ele quem fez o Vitor escolher o chef que comanda hoje a cozinha ao seu lado. Marcelo Cantuaria trabalhou por dez anos num restaurante português em Campinas e mais alguns anos num restaurante de frutos do mar no Guarujá. Experimentei o Polvo a Lagareiro (R$59), servido mergulhado no azeite, saborosíssimo além de super macio. O arroz de polvo (R$35), muito saboroso também, tem o arroz cozido na água de cozimento do próprio polvo com um refogado feito separadamente para cada prato. É de comer de joelhos. A alheira segue a receita original criada pelos judeus que viviam na região de Miranda do Douro, em Portugal. É um dos carros-chefes do cardápio e eu, que não sou muito fã de alheira, aprovei.
Para quem gosta de bacalhau, o cardápio conta com várias opções, como Bacalhau à Gomes de Sá (R$ 59) preparado em lascas com batatas em rodelas, pimentão, tomate, ovo e azeitonas ao forno acompanhado de arroz; o Bacalhau a Lagareiro (R$ 59), com batatas ao murro, brócolis e azeitonas nadando no azeite; o tradicional Bacalhau à Braz (R$ 49). Aviso: não há opções, além de batatas fritas, para vegetarianos.
A outra surpresa fica por conta da carta de vinho. São poucas opções, todas portugueses, com preços que variam de R$ 45 a R$ 80. Isso mesmo, você leu certo. Experimentei um alentejano delicioso, o Caso Único, que me deixou surpresa pelo preço (R$ 45). Também há uma caprichada carta de drinques com todos os clássicos da coquetelaria, cujos preços vão de R$ 17 a R$ 25.
Com o sucesso instantâneo do restaurante, Vitor já alugou a casa ao lado, que vagou para a sua sorte (e a nossa). Estive lá na última sexta-feira após o jantar, e O Mirandês virou também um ótimo ponto de encontro para um drinque, um petisco ou mesmo uma sobremesa.
É lugar para ir mais de uma vez. Eu já me senti em casa, e é assim que eu gosto de me sentir nos lugares que frequento.
O Mirandês
Terça a sexta, das 18 à 0h; sábados, das 14 à 0h e domingos, das 12 às 18h.
Não efetuam reserva.
Rua Canuto do Val, 216, Santa Cecília
*Fixe = mais legal em português brasileiro
Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.
Ver todos os postsO restaurante é ótimo. Mas a lotação desanima quem não tem paciência :)
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.