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No-fly: o movimento das pessoas que não voam mais

Quem escreveu

Renato Salles

Data

24 de July, 2019

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Você já parou de usar canudinho? E de comer carne? Virou vegan? Pois é, a gente se esforça cada dia mais para reduzir as ações que influenciam no aquecimento global, mas nunca é suficiente. Agora você vai ter que parar de voar. É o que prega o movimento no-fly, o “veganismo” das viagens. Encara essa?

Cálculos do IPCC mostram que a aviação responde sozinha por 2% de toda a emissão de CO2 mundial. É coisa para caramba. Um único passageiro, viajando de São Paulo para Nova York, responde por mais de 1,3 tonelada de CO2 liberado na atmosfera. A mesma distância com o trem libera apenas 107kg. E para piorar, na queima do combustível os aviões ainda liberam vapor de água e óxido nitroso, que também causam o efeito estufa.

Companhias aéreas começaram a oferecer calculadoras para que os passageiros pudessem calcular (e pagar pela) emissão de carbono de seus vôos, mas estima-se que só 1% dos mais de 4 bilhões de passageiros anuais esteja realmente disposto a fazer o investimento. A União Europeia adotou taxas para voos sobre o território europeu. Mas nada disso consegue frear o crescimento nas emissões de aviões, que podem responder por 16% do total em 2050.

movimento no-fly, viagem de trem
Mapa do tráfego aéreo mundial em 2009. Imagina hoje! – Fonte: Creative Commons

Com esses números assustadores, surgiu um grupo de pessoas que defende que você deva evitar ao máximo voar. A palavra sueca Flygskam, ou ‘vergonha de voar’, dá o tom de iniciativas como o ‘No-fly 2019‘, criado por duas mães, que estimula pessoas a passar o ano sem voar. Elas esperam saltar de 15 mil assinaturas ano passado para 100 mil neste. A ativista adolescente Greta Thunberg não pega um avião desde 2015. E o líder do partido verde Siân Berry sugeriu um imposto extra para as pessoas que pegarem mais do que um vôo por ano. Essas iniciativas têm dado resultado na Suécia, onde o número de passageiros caiu consideravelmente em 2018.

O movimento no-fly tem crescido na Europa nos últimos anos, em grande parte porque o continente tem uma grande rede de ferrovias, que oferecem uma ótima alternativa para os aviões. A adesão ao movimento requer uma grande adaptação ao jeito de viajar. Passagens de trem são mais caras, os trajetos estão mais sujeitos a atrasos e cancelamentos, e o itinerário demora muito mais tempo. Mas muita gente afirma que esses ajustes trazem benefícios também. O percurso passa a fazer parte da viagem, o que traz maior conexão com o lugar. As limitações de distância estimulam a valorização do seu entorno como destino. E outros meios de transporte podem ser ainda mais interessantes, como barcos ou bicicletas.

Na França, deputados tem uma proposta ousada para reduzir o número de vôos desnecessários: simplesmente cancelar todos os vôos nacionais que podem ser feitos de outra forma mais ecológica, sem causar prejuízos de tempo para os passageiros. Assim: pega-se o tempo que se leva para ir do centro da cidade até o aeroporto, o tempo de check-in, controle de segurança e espera até o embarque, a própria duração do vôo, o tempo para se desembarcar e resgatar a bagagem, e o trajeto até o centro da cidade do destino. Se a duração de toda essa viagem for igual ou menor que a necessária para se fazer o mesmo trajeto de trem, esse vôo não deveria existir. Convenhamos, ir para o aeroporto é chato para burro, então eu acho essa proposta bem interessante.

movimento no-fly, viagem de trem
Do avião você não vê isso – Foto de Gabriela Palai | Pexels

Claro, nós aqui na América do Sul ficamos restritos em termos de alternativas, principalmente no Brasil, onde as ferrovias são limitadíssimas. Países como a Argentina e o Peru ainda mantém uma boa malha de trens de passageiro em funcionamento há décadas, e andam investindo em novas rotas. O Tren de La Quebrada, que inaugura o primeiro trecho em agosto, deve ligar Jujuy, na Argentina, a Machu Picchu no Peru, passando pela Bolívia, com motor movido 100% a energia solar. O próprio Peru já percebeu o fascínio que viagens de trem tem sobre os turistas, e investe inclusive em linhas de alto luxo.

Mas não é o caso do Brasil, onde as rotas ferroviárias turísitcas ainda são parcas. Sorte que aos poucos estamos olhando com carinho para nossos trens e vamos aos poucos recuperando a nossa malha. Até o trem que liga São Paulo a Santos talvez volte a funcionar em breve. Enfim… quem não tem cão, caça com gato. Se por um lado temos um problema na hora de substituir os aviões na hora de programar uma viagem, o que não falta no nosso país-zão é lugar lindo para visitar, mesmo que seja de carro ou ônibus. Será que não vale a pena trocar, pelo menos uma vez, umas férias em Berlim por uma bela roadtrip na nossa pátria?

Tem gente que adotou o estilo de vida do movimento no-fly com tudo. Mas por motivos óbvios, tem muita gente que não vai conseguir ser tão ortodoxo. Se esse é o teu caso, te dou uma dica. Existe uma série de pequenas atitudes que você pode tomar para diminuir a sua pegada de carbono, a começar pela tua mala. Ajuda muito se cada um fizer um pouco. Até porque é impossível imaginar o mundo atual sem aviões no céu. Quer dizer, eu já vivi isso por alguns dias, e adianto: não vai dar certo.

*Foto do destaque: Pexels

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Quem escreveu

Renato Salles

Data

24 de July, 2019

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Renato Salles

Para o Renato, em qualquer boa viagem você tem que escolher bem as companhias e os mapas. Excelente arrumador de malas, ele vira um halterofilista na volta de todas as suas viagens, pois acha sempre cabe mais algum souvenir. Gosta de guardar como lembrança de cada lugar vídeos, coisas para pendurar nas paredes e histórias de perrengues. Em situações de estresse, sua recomendação é sempre tomar uma cerveja antes de tomar uma decisão importante. Afinal, nada melhor que um bom bar para conhecer a cultura de um lugar.

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    Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.