Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Como parte do projeto Decoding, em que vamos dar a volta ao mundo pra trazer o melhor dos festivais de inovação, nossa segunda parada foi em Melbourne, na Austrália. Entre os dias 6 a 8 de Fevereiro rolou o Pause Fest, evento que reuniu criativos, inovadores, tecnólogos, designers e empresários de todos os níveis. Entre os speakers de 2019 estavam representantes da NASA, IBM, Google, Atlassian, Amazon, CISCO, Discovery Network, CERN, JWT, InVision, YouTube, Airbnb, entre outros.
Em 2019, foram 7 palcos com mais de 30 palestrantes internacionais e 200 locais, além de 21 tracks de conteúdo – não é à toa que o evento leva o título de SXSW da Australasia. O tema central do festival desse ano foi “O futuro é íntimo” e focou em tópicos que exploram a interação humana com a tecnologia, como ela transforma os estilos de vida atuais e quais oportunidades trarão para o nosso futuro.
Seguindo essa narrativa, o Pause Fest lançou um vídeo chamado “A New Hope”, que se propõe a ser um “call to action” para um olhar mais crítico sobre o futuro. O vídeo mostra alguns possíveis cenários futuros resultados da perda de controle sobre os avanços exponenciais da tecnologia, ao mesmo tempo em que escolhem acreditar que a consciência coletiva nos guie a um futuro melhor, mais justo e inclusivo.
Pause Fest 2019 | A New Hope from Loop on Vimeo.
O Pause nos deu muito o que pensar sobre o futuro dos negócios e da humanidade. A partir dos talks, das startups presentes no evento e ativações de marcas, tiramos cinco aprendizados principais:
O Pause nos fez reconhecer o quanto nossos vieses – tanto os subconscientes quanto aqueles que acidentalmente programamos em nossas inteligências artificiais – afetam nossas escolhas e a forma como nos relacionamos com as pessoas. Reconhecer que todos possuímos vieses inconscientes e criar frameworks para entendê-los e trabalhá-los é vital.
Esse sentimento foi ecoado em várias palestras, onde fica clara a importância de se criar equipes de trabalho diversas, não apenas em termos de gêneros, idades e etnias, mas cognitivamente diversa, se o objetivo for criar algo realmente inovador.
O próprio experimento Biometric Mirror, da Universidade de Melbourne – transformado em ativação no festival – já é um chamado claro da comunidade acadêmica para voltarmos nossa atenção ao problema do viés em inteligências artificiais e suas potenciais ameaças.
Muitas das nossas escolhas devem se tornar automatizadas no futuro. Hoje são as sugestões de filmes na Netflix, mas amanhã é possível que quase todo o processo de seleção para uma vaga de trabalho seja automatizado com o uso de um algoritmo, por exemplo. Precisamos, desde já, ter cuidado redobrado com o que ensinamos a nossas AIs e garantir que nossos vieses afetem o menos possível seu processo de aprendizado, seja tendo uma equipe diversa de programadores quanto tendo cuidado com quais dados alimentamos nossas máquinas.
Existe uma aparente dicotomia na forma como o Pause se relaciona com o tema da tecnologia. Enquanto muito do seu conteúdo é centrado em tecnologia, existe ao mesmo tempo um olhar extremamente crítico sobre ela. Digital detox foi um termo recorrente em muitas palestras, enquanto em outras, a expansão do que significa ser humano através da nossa integração com a tecnologia é celebrada.
A percepção é que o momento atual é pivotal para escolher em que caminho a humanidade deve seguir. Com o avanço extremamente veloz das tecnologias emergentes é importante não perdemos o timing de discutir, pensar soluções e ter uma participação ativa na construção do nosso futuro. A tecnologia é uma ferramenta com potencial de criar oportunidades e bem-estar para bilhões de pessoas pelo mundo de forma nunca antes possível, e é também uma grande ameaça se usada com más intenções ou displicência.
O solução proposta pelo evento é simples: devemos criar conexões humanas significativas. Só assim não nos distanciaremos das nossas qualidades inerentemente humanas e teremos empatia suficiente para manter sempre o bem-estar humano no centro das nossas intenções.
Após alguns anos falando sobre a prática de meditação chamada mindfulness, vemos um movimento consistente acontecendo e gerando bons resultados no mundo real. A priorização não só da saúde do corpo mas também da mente é uma necessidade cada vez maior diante da crescente complexidade do mundo atual e além das rotinas cada vez mais frenéticas.
O Pause iniciou cada um dos dias do festival com um convite à meditação, aberta a todos os participantes e conduzida por Ray Good, fundador da The Good Place, empresa voltada para ajudar empresas, empreendedores e profissionais de alto nível a aproveitarem os benefícios do mindfulness. Você pode assistir uma breve introdução de Ray sobre o assunto no Pause aqui.
O grande número de speakers que falou sobre meditação e mindfulness no festival comprova o crescente reconhecimento pelo mundo corporativo do potencial que essas práticas de relaxamento e concentração tem de transformar o ambiente de trabalho e nos ajudar a viver vidas mais leves, felizes e criativas.
Atualmente as empresas já são cobradas por uma postura correta e mais sustentável, mas caso nosso desejo como sociedade seja ir além, devemos repensar completamente que valores devem guiar nossas organizações além do lucro, que é a base do capitalismo. Nossos sistemas sociais, econômicos e nosso meio-ambiente já sinalizam estarem próximos de um ponto de ruptura, mas as soluções para estes problemas ainda não são discutidas dentro das empresas, governos e das nossas casas.
Vamos deixar para tomar atitudes quando as condições se tornarem insustentáveis ou podemos começar hoje, mesmo que aos poucos, refletir sobre como afetamos a realidade ao nosso redor? Segundo Sarah Owen, speaker presente no evento e editora senior na WGSN, muitos de nos somos seduzidos pelos benefícios das tendências de curto prazo, sacrificando a saúde dos negócios, pessoas e ambiente em longo prazo. Talvez seja o momento de grandes empresas terem a coragem de dar um passo na direção da sobrevivência da nossa civilização, mesmo que isso signifique repensar seu modelo de negócios e encarar desafios nunca imaginados.
Após um período onde as mídias sociais nos aproximaram das marcas e passamos a estabelecer relações com elas como fariam com outros humanos, hoje a crescente desconfiança dos tempos de fake news e Cambridge Analytica nos faz olhar para as empresas pelo que elas são novamente: negócios.
Essa desconfiança e facilidade em quebrar laços rapidamente com marcas (as vezes amadas por todos a cinco minutos atrás) é uma moeda de troca poderosa. O consumidor pode facilmente determinar que empresas sobrevivem ou não, e as escolhidas são aquelas com quem sentem possuir uma comunicação baseada em transparência e confiança.
Em um mundo de atenção fragmentada, os vencedores serão aqueles que melhor oferecerem autenticidade, prazer e melhor atendem as necessidades reais do consumidor, sem frivolidades.
A White Rabbit, empresa de pesquisa de tendências e foresight, está criando com Chicken or Pasta o projeto Decoding. Com a ajuda da nossa rede, vamos estar em todos os principais festivais de inovação do Brasil e do mundo pra trazer tudo que rolou de interessante em cada evento, além de traduzir os principais insights e tendências que identificamos em cada um.
Fique ligado aqui no site para acompanhar todo mês a cobertura de um evento diferente. Se a sua empresa tiver interesse em saber mais sobre o Decoding e levar palestras para dentro de casa, pode entrar em contato com a gente nesse link aqui.
*Foto do destaque: Divulgação
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.