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Vamos ser sinceros: a menos que sua visita seja a trabalho, provavelmente Nairóbi será apenas uma breve parada durante sua passagem pelo Quênia, um ponto de partida pros safáris que quase com certeza são o verdadeiro motivo de sua viagem. Mas se você conseguir ignorar o trânsito horrível e a arquitetura menos que inspiradora, a capital até que tem seus atrativos, e pode proporcionar um final de semana surpreendente para quem tiver coragem para desbravá-la.
Nairóbi tem, de longe, as melhores opções de restaurante no país. Além da própria culinária queniana, existem restaurantes ótimos oferecendo comida indiana, árabe e etíope. O Open House já recebeu vários prêmios como melhor indiano da cidade, portanto pode ir sem medo. Os pães assados na hora são fantásticos, e se gosta das coisas mais picantes não deixe de pedir o turbo naan, que vem incrementado com pimentas frescas. Espere gastar algo como 15USD numa lauta refeição (todos os preços foram convertidos do shilling queniano a uma taxa aproximada de 100KSH ~ 1USD, o câmbio em julho de 2018.)
Bem próximo ao Open House, no bairro de Westland, ficam algumas das baladas mais animadas de Nairóbi. Uma delas é o The Alchemist Bar. As outras ficam na mesma rua, quase lado a lado: o Havana Bar e o BrewBistro. Todos costumam atrair uma mistura de locais e expats, e oferecem, além de uma carta razoável de bebidas, um bom serviço de cozinha, portanto se comida indiana não for do seu gosto, pode comer por lá mesmo. O BrewBistro, como o próprio nome indica, é uma cervejaria artesanal, embora a cerveja deles não vá fazer ninguém perder a cabeça. O estilo de música de cada lugar varia de noite pra noite, por isso vale a pena checar os respectivos sites antes de sair de casa (ou simplesmente verificar in loco – os bares todos ficam a menos de 5 minutos um do outro.)
O site What’s on Nairobi traz um calendário das baladas na cidade – aliás, vale também mencionar que as coisas só começam mesmo a esquentar bem tarde, depois das 23, 24hs.
Espante o sono (ou a ressaca) com belo café da manhã, incluindo uma boa xícara de café queniano, e prepare um lanche para o caminho, porque o almoço sairá tarde. Um dos programas imperdíveis em Nairóbi pra quem gosta de animais (e se você está no Quênia, é porque gosta) é o Centro David Sheldrick, um orfanato pra elefantes que perderam os pais por doenças, acidentes ou caça. Atualmente, o centro abriga cerca de duas dúzias de jovens paquidermes. Funciona assim: o centro fica colado ao Parque Nacional de Nairóbi, e os elefantinhos passam o dia lá, na natureza, em companhia de outros espécimes da raça. Só se recolhem ao centro em duas ocasiões: para dormirem (com direito a mantinhas pra esquentar nos meses mais frios <3) e para se alimentarem. E é durante a alimentação matinal, que ocorre por uma hora todo dia as 11h, que os visitantes podem apreciar e, com sorte, interagir com os bichos.
A visita custa 5USD. Os visitantes são levados a uma área aberta onde os guardadores esperam os elefantes, que chegam em duas turmas para tomar suas enormes mamadeiras. Enquanto isso, um dos responsáveis pelo centro vai contar a história do lugar, bem como identificar cada paquiderme com seu nome e características principais. Depois da barriga cheia, os elefantes querem mais é brincar um com o outro e usar suas trombas para se darem banhos de lama (que as vezes sobram pros visitantes também, fiquem avisados.) De vez em quando, um elefantinho vai chegar mais perto dos visitantes e, se tiver sorte, poderá interagir com ele.
Pra seguir com o tour “brincando com os animais símbolos da África”, você pode ir ao Giraffe Center, que fica a poucos quilômetros dos elefantes. Aqui também eles cuidam de alguns espécimes de girafas, especialmente da muito ameaçada girafa Rothschild. Mas o legal mesmo é que você pode interagir a vontade com os bichos: ajudantes vão te dar punhados de ração que você pode oferecer para as girafas – acredite, elas não são nada tímidas, e basta alguém chegar perto pra que estiquem logo suas longas línguas atrás de comida. Alguns mais corajosos, aliás, seguram a ração com a boca, e garantem um “beijo” melado das girafas. A entrada custa 10USD.
Deixando os bichos um pouco de lado, uma outra visita legal na mesma região é a Fábrica de Contas Kazuri. Esse negócio começou com o propósito de dar uma ocupação a mães desempregadas e hoje emprega mais de cem mulheres na fabricação de contas e bijuterias. É possível fazer um rápido tour pelas instalações (gratuito) e em seguida verificar as ofertas na lojinha. Fique atento aos horários, pois aos sábados a fábrica de contas fecha as 13h. Bem próximo da Kazuri fica também o Museu Karen Blixen, no local que foi moradia da autora dinamarquesa de “Entre dois amores”, o famoso livro que depois virou um premiado filme em Hollywood.
Por essas horas, você já deve estar morrendo de fome. É uma boa oportunidade pra provar o Nyama Choma, o churrasco típico queniano. Um dos locais mais recomendados da cidade pra isso é o Road House Grill, que tem uma filial em UpperHill e o original em Miliani. Se quiser se sentir um local autêntico, peça o bode grelhado com acompanhamento de ugali (angu de milho branco) e kachumbari (salada de tomate e cebola), e algumas Tusker geladas pra descer tudo. Depois do almoço volte pro seu hotel para descansar um pouco e se preparar pro agito noturno.
O K1 Klub House possui uma instalação enorme que mistura vários ambientes ao redor de um espaço aberto. Cada noite da semana tem seu ritmo, indo do jazz ao reggae e pop africano. A única certeza é que a música sempre vai ser alta e o espaço invariavelmente vai encher – o público aqui é majoritariamente de locais, que costumam começar a noite bem tarde, depois das onze horas.
Se, por alguma ironia do destino, você não for fazer nenhum safári no Quênia, então seu dia provavelmente será melhor aproveitado com uma visita ao Parque Nacional de Nairóbi – afinal, que outra grande capital te permite ver leões, elefantes e girafas a uma pequena distância do centro? Nesse caso você pode contratar um dos inúmeros tours que percorrem o parque. Entretanto, como você muito provavelmente foi parar em Nairóbi somente de passagem, a caminho de um safári em Masai Mara ou em Tsavo, talvez possa aproveitar esse dia na cidade pra explorar um pouco suas ofertas culturais.
Nesse caso, nada melhor que começar o dia recarregando a bateria. Os nairobianos adoram brunches, então você pode começar seu domingo honrando essa tradição. Spots recomendados incluem o About Thyme, o Talisman e o Wasp & Sprout. De lá, siga para o excelente Museu Nacional de Nairóbi, um verdadeiro tudo-em-um: parte museu de história natural, com uma excelente amostra de animais empalhados, incluindo uma enorme exposição de pássaros da região, pra não falar de alguns dos esqueletos hominídeos mais antigos do mundo; parte museu histórico, detalhando a jornada do país desde a chegada dos europeus até os dias atuais, com ênfase no período de descolonização; e parte museu antropológico, exibindo imagens, roupas e artesanato dos diversos povos que compõe a população queniana. Em outras palavras, não importa qual seja exatamente seu interesse, provavelmente vai encontrar algo que lhe agrade, portante reserve algumas boas horas pro museu.
Coladinho no museu, tem o Parque das Cobras (Snake Park). O parque não é lá grandes coisas e as instalações estão meio caidinhas, mas se você já estiver por lá vale a pena dar uma voltinha, nem que seja pra admirar algumas das pítons, bem como os enormes crocodilos africanos. A entrada tanto pro Museu quanto pro Parque custa USD12, mas o bilhete combinado pode ser adquirido por USD15.
Hora de almoçar: o Mama Oliech é meio que uma celebridade local, que ganhou fama global ao ser visitado por Mr. Facebook em pessoa, Mark Zuckerberg. A especialidade da casa são tilápias, servidas cozidas ou fritas, com diversos molhos e acompanhamentos. A comida é saborosa e o serviço rápido, mas sinceramente, dada a fama do local, eu esperava algo um pouco além.
Já bem alimentado, é hora de exercitar seus dons de negociação: bem próximo ao restaurante fica o Yaya Center, um restaurante que aos domingos recebe num terraço um mercado de produtos Masai. É uma boa oportunidade de comprar artesanato, ainda que os preços sejam um pouco inflacionados em relação ao que pode ser encontrado no interior do país. Não tenha vergonha de regatear: o primeiro preço que receber vai ter um ágio de 400 ou 500%. Com paciência e tato, você pode levar pra casa estátuas de madeiras dos animais africanos, máscaras cerimoniais e as típicas mantas dos masai. A qualidade dos produtos, é claro, varia bastante, portanto vale bater perna pelo mercado e checar em diversas barracas antes de fechar qualquer coisa. O mercado fecha as 17h.
Caso não queira comprar nada, um passeio alternativo pode ser subir os 28 andares do Kenyatta International Convention Centre, no topo do qual se tem uma bela vista da cidade. A torre fica em meio a uma praça onde, nos finais de semana, as famílias quenianas vem se divertir, dando uma oportunidade interessante pra apreciar o movimento. A entrada pra torre custa 6USD.
Finalmente, pra fechar o final de semana, uma bela opção pro jantar é o restaurante Abyssinia, especializado na culinária da vizinha Etiópia. Se você nunca experimentou comida etíope, se prepare para uma experiência: tradicionalmente a comida é servida sobre injera, uma enorme panqueca feita de tefe, um grão cultivado basicamente na Etiópia e Índia. A massa é fermentada, o que faz com que tenha uma textura esponjosa e sabor levemente ácido. Sobre essa panqueca são servidas diversas porções de curries, ensopados e saladas. A injera funciona então tanto como prato quanto como talher: você vai rasgando pedaços da panqueca e usando-os para pegar a comida. É divertido e a comida é realmente saborosa, trazendo influências claras da Índia e do Magreb. Para beber, vá de chá etíope e não deixe de experimentar o delicioso café etíope – afinal de contas, foi nesse país africano que a bebida começou a ser consumida, para daí se espalhar por todo o mundo.
*Foto destaque: Pedro Ivo
Paraense radicado em Lisboa. Engenheiro, cozinheiro e cervejeiro, sem ordem específica de preferência. Viajante de vocação.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.