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Já parou para pensar como uma cidade que abriga tantos prédios iguais, com suas fachadas beges e suas varandas gourmet, pôde um dia construir também um Copan? Se hoje parece que as construtoras desistiram de vez de inovar, e só carimbam mais o mesmo por todos os bairros, saiba que nem sempre o mercado imobiliário foi assim. O livro ‘São Paulo nas Alturas‘ do jornalista Raul Juste Lores, lançado em agosto pela editora Três Estrelas, traça a história da década mais prolífica em arquitetura que a Pauliceia já viveu, e ainda traz detalhes dos prédios mais icônicos da cidade.
O livro se debruça exclusivamente sobre a produção arquitetônica paulistana da década de 1950, conhecida como o período do ‘milagre da arquitetura’. Nessa época, o Brasil vivia um momento de fortalecimento econômico no pós-guerra, junto com a redemocratização pós ditadura Vargas, e São Paulo crescia como nunca. A Lei do Inquilinato de 1946 transformava os imóveis de aluguel em dor de cabeça, e muita gente viu na construção de apartamentos para venda uma chance de bons negócios. A cidade virou então um grande canteiro de obras, abrindo os braços de vez para a modernização e para o modernismo.
São dessa época muitos dos prédios de maior valor arquitetônico e histórico até hoje, como o já citado Copan, o Conjunto Nacional e o Edifício Itália, que reinou por décadas como o mais alto de São Paulo. Os arquitetos tiveram uma chance única de experimentar formas, usos e gabaritos em uma cidade que ainda não sabia regulamentar as construções. De um lado, modernistas radicais imprimiam todo o rigor corbusiano, como fez Oscar Niemeyer. De outro, projetistas auto-didata davam vazão à originalidade, como nos prédios aquarelados de Artacho Jurado. Tudo podia, e quanto mais singular a arquitetura, maior o sucesso.
A década de 1950 também trouxe novos ares cosmopolitas. A chegada de muitos arquitetos europeus fugidos da guerra, como o alemão Franz Hepp (Itália), o polonês Luciano Korngold (CBI-Esplanada), e o casal italiano Maria Bardelli e Ermanno Siffredi (Galeria do Rock) trariam um urbanismo antes impensável para a provinciana São Paulo. A bucólica Avenida Paulista começada a trocar seus casarões aristocráticos por arrojados gigantes de concreto. Toda essa transformação aconteceu em um curtíssimo tempo. A chegada dos anos 60 e o fracasso fiscal de Juscelino na construção de Brasília trariam uma crise econômica avassaladora para a construção civil. Ao mesmo tempo, São Paulo promulgava sua primeira Lei de Zoneamento, que acabaria de vez com os sonhos de arquitetos e urbanistas de uma cidade mais humana e democrática.
Um período tão exuberante e importante para a história da cidade não poderia passar desapercebido por um ensaísta observador como Raul Juste Lores. Acostumado a desbravar a cidade a pé, ele conhece cada detalhe dos maiores ícones paulistanos que o prefeito parece desconhecer. Quem lê o livro com certeza nunca mais vai circular pelas ruas com o mesmo olhar. ‘São Paulo nas Alturas’ traz muito mais que a memória da nossa selva de pedra. Ele traz um novo olhar sobre o que São Paulo já foi, e pode algum dia voltar a ser: uma das cidades mais arrojadas do mundo.
*Foto do destaque: Raul Juste Lores
Para o Renato, em qualquer boa viagem você tem que escolher bem as companhias e os mapas. Excelente arrumador de malas, ele vira um halterofilista na volta de todas as suas viagens, pois acha sempre cabe mais algum souvenir. Gosta de guardar como lembrança de cada lugar vídeos, coisas para pendurar nas paredes e histórias de perrengues. Em situações de estresse, sua recomendação é sempre tomar uma cerveja antes de tomar uma decisão importante. Afinal, nada melhor que um bom bar para conhecer a cultura de um lugar.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.