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Rock in Rio Lisboa 2018: a versão portuguesa de um dos maiores festivais do mundo

Quem escreveu

Renato Salles

Data

02 de July, 2018

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Eu nunca tinha ido ao Rock In Rio. Não sou aquelas pessoas que só gostam de bandas conhecidas por no máximo 4 pessoas, mas admito que sempre me cobri daquele preconceito besta com sucessos que mobilizam multidões. Talvez por estar exatamente no meio do caminho, nunca me identifiquei com o line-up do Rock In Rio, pelo menos no ano em que ele acontece (hoje vejo as edições de 1985 e 1991 e choro que não tinha idade para estar lá). Mas a vida se deleita com as ironias que atravessam nosso caminho, e minha debut na Cidade do Rock aconteceu devido a um convite irrecusável de participar da 8ª edição do Rock in Rio Lisboa, que aconteceu na terrinha nos últimos dois fins-de-semana. E só assim descobri que o Rock in Rio não era um festival de música para mim porque o Rock in Rio não é um festival de música. Ele é muito mais do que isso, e com certeza é o tipo de evento que foi feito para todo mundo.

Explico-me. Quando a gente se programa para ir a um festival, o maior drama é sempre tentar montar um lego com os shows que queremos ver, cortando os pulsos pelos que vamos perder. É show atrás de show, atrás de show, com uma paradinha aqui e acolá para ir ao bar e ao banheiro. No Rock in Rio essa lógica não funciona assim. Sim, o line-up é muito eclético (até demais, dirão os críticos). Penso que isso talvez seja proposital. Ao pegar o ‘cartaz‘ do fim de semana que eu estaria lá, confesso que me entusiasmei com poucos headliners. Mas tomei isso com algo positivo, visto que eu me sentiria mais livre para explorar todo o imenso complexo onde o festival acontece, e ainda espiar com mais tranquilidade os vários palcos. Nesses outros, a programação era imensa, e eu conhecia pouca coisa. Mas o que descobri no final é que eu poderia gastar meus dias inteiros ali, sem assistir a um show sequer.

Rock in Rio Lisboa 2018
A calçada da fama do RIR é uma parede – foto: Renato Salles

O que acontece é que o Rock in Rio, quando foi concebido pelo Roberto Medina em 1985, não foi pensado de acordo com as bandas que foram. Ele foi inteiro estruturado com foco em quem iria lá ver as bandas, no público. Talvez por isso o Rock in Rio tenha crescido tanto, e virado uma marca internacional, e um dos maiores festivais do planeta. O grande diferencial dele é que dentro dos muros da Cidade do Rock, existe toda uma vida de uma mini-cidade de verdade. A música é, claro, o catalisador do todo, mas em volta dela existe um verdadeiro parque de entretenimento, que amplia muito os horizontes da experiência de um festival de música.

Por que Lisboa?

O Rock in Rio Lisboa foi o laboratório de exportação da marca para o mundo. A facilitação da língua e a verdadeira paixão que os portugueses tem pela música brasileira pesaram na escolha do local, com certeza. A primeira edição foi em 2004, e desde então o público ficou tão fiel que a versão lisboeta foi mais regular e já chegou à 8ª edição (no Rio até agora foram 7). Já entrou para o calendário de eventos da cidade, a cada dois anos. Depois disso, a marca RIR já foi exportada para Madri em 3 edições, e uma vez para Las Vegas, nos Estados Unidos. Parece que tem mais novidades aí, mas eu conto em outro post.

Rock in Rio Lisboa 2018
O EDP Rock Street era dedicado a música africana em português, e vivia bombado! – foto: Renato Salles

A verdade é que o Rock in Rio Lisboa veio para ficar, e não dá sinais de cansaço. A cada ano, o evento cresce mais (em 2018 eram esperadas mais de 300 mil pessoas em 4 dias), e virou ainda um celeiro de experimentações para novidades que depois são trazidas para o Brasil. E o mais bacana, na minha singela opinião, é que o RIR Lisboa promove um intercâmbio cultural através da música entre nós e Portugal, e outros países lusófonos, que não tem precedente na nossa história atual. É uma salada de sotaques que vira uma verdadeira festa em português.

O que tinha para fazer?

A edição de 2018 do RIR contou com 5 palcos diferentes. O Palco Mundo, o principal, é a mesma imensa estrutura que temos aqui no Rio. Ele realmente é inteiro desmontado e levado de navio através do Atlântico todos os anos. Esse é o palco que recebe os grandes headliners. O que ele tem de diferencial em relação ao Rio é a posição geográfica. O RIR Lisboa acontece no Parque da Bela Vista, que fica no topo de uma das famosas 7 colinas da cidade, na região de Marvila. O palco é posicionado em uma das pontas mais baixas do parque, o que faz o público ficar em um verdadeiro anfiteatro natural. A visibilidade é excelente de quase todos os lugares, e ver mais de 70 mil pessoas vidradas nas bandas é realmente uma visão impactante.

Rock in Rio Lisboa 2018
Ela nunca pode faltar – foto: Renato Salles

Do outro lado da colina fica o Palco Music Valley, que é o equivalente ao Palco Sunset no Rio. Com dimensões bem mais modestas, ali acontecem os shows mais inusitados do festival. A curadoria refinada do diretor artístico Zé Ricardo promove encontros entre músicos de primeira qualidade, e o resultado é sempre bombástico. Para mim, sem dúvida os melhores shows acontecem lá. Fora isso, ainda tinha o palco EDP Rock Street, que trazia só músicos e bandas de países africanos, o Super Bock Digital Stage, com programação toda voltada para o universo de influenciadores digitais, e o Yorn Street Dance, que era quase um festival à parte, voltado inteiramente para dança.

A famosa roda-gigante também estava lá, mas vivia com filas intermináveis então fiquei sem conseguir ir. A montanha-russa carioca não coube, mas a tirolesa gigantesca que cruza por cima do público é original de Lisboa e também não parou um segundo. Mas o complexo todo ainda tinha muito mais. A Worten Game Ring era uma arena fechada para gamers com programação o dia inteiro. O Pop District era quase um mini-bairro celebrando a cultura pop. O Time Out Market trouxe uma versão pop-up (mas não menos completa) do Mercado da Ribeira, com os estandes de alguns dos maiores chefs de Portugal, como Vitor Sobral, Marlene Vieira e Alexandre Silva. Um parque dos dinossauros em miniatura tinha oito répteis em tamanho real para a criançada. A Rock Street, onde ficava o palco com mesmo nome, trazia nas fachadas das casinhas homenagens às diversas culturas da África, e dentro delas você podia achar praticamente de tudo: restaurantes, farmácia, cabeleireiro, barbeiro, estúdio de tatuagens, loja de discos, de roupas, e mais. E como se isso não fosse suficiente, a marca de cidra Somersby montou uma pool party permanente em uma piscina de verdade colada ao Palco Music Valley.

Rock in Rio Lisboa 2018
A Time Out levou o Mercado da Ribeira para a Cidade do Rock – foto: Renato Salles

É realmente um parque temático. No meio disso tudo, você ainda encontrava ativações de marcas das mais variadas possíveis, como paredes de escalada, jogos interativos, karaokês com banda, e farta distribuição de poltronas infláveis que se esparramaram por toda Cidade do Rock. Dá para entender o título dado para o lugar. O evento funciona realmente como uma mini-cidade.

O público é também variadíssimo. Você vê muita criança pequena com os pais, muitos velhinhos animadíssimos, gente de toda espécie. E o mais bacana: a produção ainda distribui ingressos para a população do bairro de Bela Vista, onde fica o parque, que é quase todo ocupado por habitação social de baixa renda. No geral, fica evidente que o público português é mais tranquilo e discreto que o brasileiro, mais dado a excessos. Não vi nenhuma coroa de flor à la Lana del Rey, ou indumentárias saídas de editoriais de moda do Coachella. Também não vi ninguém que tenha exagerado na bebida. O bom disso é que é bem tranquilo circular no meio da multidão e, salvo alguns shows mais lotados, era possível chegar bem perto do palco sem muito esforço.

Rock in Rio Lisboa 2018
As poltroninhas da Vodafone foram sucesso total – foto: Renato Salles

Mas como foi?

Bom, chegou a hora de falar de música.

Como em todas as edições, cada dia tem um ‘perfil’ musical distinto. No primeiro fim de semana do RIR Lisboa 2018, o sábado era mais voltado para o rock, e o domingo era de pop na veia. Eu comecei minha jornada de cara pelo Music Valley, onde as fofinhas Anavitória fizeram sua primeira apresentação fora do Brasil. Logo em seguida, elas correm ainda para fazer uma participação especial no palco principal junto ao fenômeno pop português Diogo Piçarra. Ele ganhou um concurso de cantores na TV em 2012 e desde então virou sucesso por lá (e algo me diz que logo ele chega em alguma das nossas novelas). O sol ainda estava alto, e o público estava bem disperso ainda, o que foi bom porque consegui ver o próximo show bem de perto. As minas girl-power-rock-n-roll do HAIM subiram ao palco para arrebentar, e eu confesso que curti muito. Elas tocaram com muita gana, e as caretas da Este eram impagáveis.

Rock in Rio Lisboa 2018
Anavitória abriu o RIR no Music Valley – foto: Renato Salles

Ainda tive tempo de conferir uma parte do show da Carolina Deslandes. Ela é outra saída de programas de TV, mas que tem uma música bem mais autoral e interessante que vale a pena conferir. No meio ela ainda improvisou uma versão jazzística de Britney Spears que divertiu o público. O sol começava a baixar quando o Bastille entrou no palco principal, mas eu acabei hipnotizado pelo angolana Bonga no palco Rock Street. Esse cara, com 75 anos nas costas e uma animação de dar inveja, fez o público rebolar sem parar, e quebrou tudo quando tocou seu sucesso ‘Mariquinha’. Não é à toa que o cara um dos maiores expoentes da música de Angola. E por fim acabei pegando no Music Valley o fim do set da dupla portuguesa Funkamente, bem dançante, e já fiquei para curtir o show bombástico da Da Chick, que veio com a Foxy Band. Showzaço com uma bela mistura de funk, soul, disco e hip hop. Bastille que me perdoe, mas eu tinha coisa melhor para fazer.

O dia quente já tinha virado noite fria quando o Muse entrou com toda a apoteose de costume. O Palco Mundo estava lotadaço, e os ingleses entregaram o que o público pedia. Mas como eu já tinha visto esse show (e não sou tão fã para ver de novo), resolvi dar meu último pulo no Music Valley, sem saber que não voltaria. O DJ e produtor Moullinex trouxe para o palco o músico e performer Getthoven, e ali aconteceu uma catarse coletiva com muito disco ball, muito voguing, e só umas 200 pessoas que não conseguiam parar de dançar. Teve até clipe feito ao vivo no telão com a ajuda de um chroma key colocado no fundo do palco. E eu, que cheguei sem empolgação com o line-up?

Rock in Rio Lisboa 2018
O melhor show na minha opinião, Língua Franca com Sara Tavares – foto: Renato Salles

No domingo, o foco já estava bem mais voltado para o universo pop. Considerando o sol de rachar coco, e os quase 27 mil passos que meu celular registrou no dia anterior, preferi guardar energia para ver poucos e bons shows, em vez de querer ver tudo. A decisão se mostrou perfeita quando abri mão de conhecer fenômeno jovem Agir em prol do espetáculo que foi a apresentação do Língua Franca. Esse projeto, que junta os brasileiros Emicida e Rael com a rapper portuguesa Capicua, ainda contou com a participação especial da cantora Sara Tavares, e o resultado foi bombástico logo na abertura do Music Valley. Aproveitei para esticar por lá mesmo para ver a banda HMB, que junta soul, RnB, jazz, funk e hip hop, sempre cantando em português, em um show bem empolgante. Numa passada rápida pela Rock Street, conferi a animação da banda cabo-verdiana Ferro e Gaita. Eles são uma das maiores bandas do ritmo local, o funaná, que é marcado pelo acordeão (ou gaita) e que me remeteu muito ao nosso forró de raiz.

Mas o tempo urgia para a entrada triunfal da mais que esperada estreia da Anitta no RIR, depois do disse-que-disse na edição de 2017 no Rio, com o cancelamento em cima da hora da Lady Gaga. Os tugas foram à loucura com a superfunkeira, que chegou vestida de Carmem Miranda e desfilou looks e hits por uma hora, na maior produção do festival. Ainda vi um pouco da apresentação da Demi Lovato, que mostrou claramente o vozeirão que tem, gritando até um pouco demais a meu ver. Mas era muito esforçada e simpática a menina. Mais uma corrida até o Music Valley me garantiu um pedacinho da dupla de Cabo Verde Supa Squad, com seu dancehall recheado de hip hop. As pernas já estavam pendindo arrego quando subiu ao Palco Mundo a grande estrela do dia, Bruno Mars, grande responsável por fazer esgotarem os 85 mil ingressos do dia. Um show entusiasmado e competente, mas esse eu vi sentado lá no fundo. Do Bruno mesmo eu via pouco, mas ouvia tudo, com o excelente sistema de som do Rock in Rio, que não deixa nenhuma zona de sombra no soundsystem. Fechou com chave de ouro e com a minha bateria na reserva.

Rock in Rio Lisboa 2018
Dá para ver a Anitta ali no cantinho? – foto: Renato Salles

Mal deu tempo de esticar as pernas na segunda, e terça já começou a Rock in Rio Innovation Week. Essa foi a grande novidade do RIR Lisboa de 2018, que pode vir a acontecer no Rio no futuro. Entre os shows de um fim de semana e outro, a Innovation Week trouxe uma programação extensa de palestras, talks e workshops com gente graúda da cena cultural, da tecnologia e da inovação, com um conteúdo vastíssimo. Eu só pude estar no primeiro dia, mas já valeu a pena só pelas fantásticas apresentações do Luis Justo, CEO do Rock in Rio, e do Zé Ricardo, que inspirou a plateia com suas histórias e causos malucos em 10 anos de trabalho no festival.

O Rock in Rio Lisboa 2018 ainda seguiu nesse fim de semana com gente grande como Chemical Brothers, The Killers, Katy Perry, os dinossauros do rock português Xutos e Pontapés, e a prata da casa Ivete Sangalo (Veveta participou de TODAS as edições do RIR em Portugal, e não poderia faltar nessa). Infelizmente, esses eu tive que ver em streaming do sofá de casa.

Rock in Rio Lisboa 2018
Luz na galera na entrada do Bruno Mars – foto: Renato Salles

Agora que eu posso dizer com a boca cheia que já estive no Rock in Rio, fico já na expectativa para a próxima edição do Rio, no ano que vem. O que já se sabe é que Anitta estará lá, e cantando em casa não vai deixar sobrar pedra sobre pedra. O resto do line-up ainda não se sabe, mas depois dessa experiência toda eu já aprendi que isso é só um detalhe. Batendo a marca de 9 milhões de expectadores em 18 edições, o Rock in Rio é sem dúvida um dos maiores festivais do planeta, e eu só posso agradecer pelo convite para fazer parte desse time.

*Foto do destaque: Divulgação

Quem escreveu

Renato Salles

Data

02 de July, 2018

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Renato Salles

Para o Renato, em qualquer boa viagem você tem que escolher bem as companhias e os mapas. Excelente arrumador de malas, ele vira um halterofilista na volta de todas as suas viagens, pois acha sempre cabe mais algum souvenir. Gosta de guardar como lembrança de cada lugar vídeos, coisas para pendurar nas paredes e histórias de perrengues. Em situações de estresse, sua recomendação é sempre tomar uma cerveja antes de tomar uma decisão importante. Afinal, nada melhor que um bom bar para conhecer a cultura de um lugar.

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    Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.