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Os cenários de ‘Call Me by Your Name’

Quem escreveu

Renato Salles

Data

28 de February, 2018

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Uma das maiores sensações cinematográficas do ano é sem dúvida ‘Call Me by Your Name’, junto com o girl-power ‘Lady Bird’ e o black-power ‘Pantera Negra’. Mas diferente dos outros dois, CMBYN não pode ser considerado um filme queer-power, porque ele realmente não levanta bandeiras. A relação amorosa que se forma entre os protagonistas Elio e Oliver nada tem de ativista. Ela apenas acontece, sutil e profundamente, afetando a vida apenas aos amantes, e de mais ninguém.

O filme encanta não só pela história de amor terna e sincera dos dois moços, e pelo papo-reto impactante do pai no final. A ambientação do filme em uma vila sem nome no norte da Itália, no verão de 1983, é tão rica que é impossível não se deixar seduzir por aquele dolce far niente com aroma de frutas frescas e a brisa quente da noite. Os cenários são quase um terceiro personagem, que inspira muita nostalgia, como bem explicou a Luiza.

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Dá para sentir a brisa dos arredores de Crema

CMBYN é uma adaptação de um livro homônimo, escrito de André Aciman. No original, a história se passa na vila litorânea de Bordighera, na Liguria, mas a filmagem foi transferida para Crema, na Lombardia, onde vive o diretor Luca Guadagnino. E já que existem por aí roteiros de viagem para conhecer os lugares que aparecem no Código Da Vinci e em Game of Thrones, por que não viajar junto com CMBYN? Separa os pêssegos mais perfumados, aumenta o som do Sufjan Stevens, e vamos juntos.

A casa

Sim, aquela casa era um sonho. Uma vila italiana tradicionalíssima, equilibrando a memória rústica da arquitetura com a modernidade oitentista da família intelectual, com jardins bucólicos e jantares inesquecíveis embaixo da pérgola da varanda. Sinto muito acabar com teus sonhos: a Vila Albergoni, onde as cenas da casa foram filmadas, fica no vilarejo de Moscazzano, mas é uma propriedade privada, e estava na verdade abandonada. Guadagnino queria comprar a casa, mas não teve grana para isso. Então ele resolveu fazer um filme nela, restaurando as partes mais degradadas e decorando-a completamente com móveis e objetos da casa de seus pais e de antiquários de Milão. E já que estamos acabando com sonhos: aquela região da Lombardia não tem pêssegos e damascos. Aquelas árvores foram plantadas lá como parte da cenografia. Mas enfim, a casa está à venda. Quem sabe ela não pode ser sua?

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Quantos likes merece a Villa Albergoni? – foto: Giulio Ghirardi

A cidade

A casa de campo onde a família Perlman passa seus verões fica nos arredores da pequena cidade de Crema. A menos de 1h de Milão, a cidadezinha foi escolhida não só pela praticidade, mas também por ‘ter um senso de atemporalidade e por ser essencialmente italiana sem passar uma ideia pré-concebida de Itália.’, como explicou o diretor. As ruelas estreitas ladeadas pelo casario clássico, o passeio de paralelepípedos quente sob o sol, a piazza em frente à catedral da cidade, todos os detalhes que guardamos no imaginário do país estão lá, genéricos o bastante para poder ser qualquer cidadela italiana.

A Piazza Duomo e o Arco del Torrazzo hoje em dia – foto: Google Street View

Em Crema, o cenário mais marcante sem dúvida é a o Arco del Torrazzo, uma construção renascentista do século 16, que liga a Piazza Duomo à Via XX Settembre, em frente ao Duomo di Crema. A piazza, onde Elio e Oliver discutem à mesa, hoje é ocupada por alguns charmosos cafés, e você também pode escolher uma mesinha ao sol.

Você nem vai precisar pegar a sua bike para ir de lá até a Piazza Trento e Trieste, que fica logo ao lado.  Nessa praça* ficam o Teatro San Domenico e o Monumento ai Caduti di Crema nella Grande Guerra. É aqui que Elio se declara a Oliver pela primeira vez, ainda que de forma bastante esquiva. Uma pena que parece que hoje a praça é praticamente um grande estacionamento.

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Tensão em frente ao Monumento ai Caduti di Crema

As filmagens extrapolaram os limites de Crema, e avançaram pelos vilarejos vizinhos. As estradas ladeadas de árvores verdes que o casal percorre em seus passeios de bicicleta levam a Moscazzano, Pandino, Montodine e Ripalta. Essas vilas não são exatamente interessantes, mas o caminho entre elas parece saído de um quadro de Monet.

Bate-volta

Um dos lugares mais bonitos que aparecem no filme é o lago onde o pai de Elio os leva, para mostrar as ruínas romanas. São as Grutas de Catulo, que ficam na pontinha da península da cidade de Sirmione. As ruínas são o que sobrou de uma cidade romana do começo do milênio, e receberam o nome do poeta Caio Valério Catulo, que morreu em 54 a.C.

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As Grutas de Catulo ficam à beira do Largo de Garda – foto: Caba2011

O sitío histórico se debruça sobre o azul brilhante do Lago de Garda, o irmão menos conhecido do Lago de Como, mesmo sendo o maior da Itália. Aos pés das Dolomitas, o Lago de Garda recebe o degelo dos Alpes, o que explica a cor magnífica da água. Saindo de Milão, é possível visitar as Grutas de Catulo em um bate-volta, como fizeram os personagens, já que a viagem dura apenas 1h30.

A fuga dos amantes

* Alerta de spoiler *

Oliver e Elio finalmente cedem ao desejo, e para conseguir aproveitar ao máximo os últimos dias do romance, eles fogem para uma viagem a dois, longe dos olhos da família e dos amigos. O destino escolhido não poderia ser mais romântico. Eles viajam para Bergamo – também aos pés dos Alpes – uma cidade que une história e paisagens de tirar o fôlego.

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Elio e Oliver nas Cascate del Serio

Nas trilhas que fazem pela natureza selvagem, passam pelas Cascate del Serio, a maior cachoeira da Itália e a segunda maior da Europe. O lugar é deslumbrante, mas perigoso. A equipe de filmagem teve liberação para filmar tão perto por apenas 30 minutos por questões de segurança. A trilha parte da vila de Valbondione. Na cidade, os dois bebem, se divertem e se amam entre os prédios históricos, como a Catedral de Bergamo, a Basílica Santa Maria Maggiore, e a Universidade de Ciências, Letras e Artes.

O filme é lindo, os cenários são inspiradores, e é quase impossível terminar de assistí-lo sem pensar em reservar um mês de férias para ficar à toa por lá. A estudante francesa Zineb Bayad ficou tão emocionada que percorreu Crema com stills do filmes para encaixá-los na vida real. Você não precisa fazer isso. Só levar o amor para andar de bicicleta pelos campos do norte da Itália e comer – só comer –  pêssegos frescos já está mais do que bom. Não é?

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Oliver e Elio em uma praça no centro de Crema. photo by Zineb Bayad

*UPDATE: Conforme nos avisou a leitora Raquel, a cena em que Elio se declara a Oliver não acontece no Monumento ai Caduti di Crema nella Grande Guerra, e sim em frente ao Monumento ai Caduti de Pandino, que fica na Piazza Vittorio Emanuelle III. Essa também serve como estacionamento, infelizmente.

Quem escreveu

Renato Salles

Data

28 de February, 2018

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Renato Salles

Para o Renato, em qualquer boa viagem você tem que escolher bem as companhias e os mapas. Excelente arrumador de malas, ele vira um halterofilista na volta de todas as suas viagens, pois acha sempre cabe mais algum souvenir. Gosta de guardar como lembrança de cada lugar vídeos, coisas para pendurar nas paredes e histórias de perrengues. Em situações de estresse, sua recomendação é sempre tomar uma cerveja antes de tomar uma decisão importante. Afinal, nada melhor que um bom bar para conhecer a cultura de um lugar.

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Comentários

  • Matéria maravilhosa! Parabéns!
    Quanto ao filme, amei as locações, a história, os diálogos, os atores, as interpretações, a direção, a trilha sonora, enfim, é um filme de arte como eu não assistia, há anos! O amor dos dois foi tratado com muita delicadeza e sabedoria! Fiquei encantada! Assisti mais de uma vez.
    Também gostei do livro.

    - Elzir
  • Amei a matéria, faz jus a obra de arte que é Call Me By Your Name. Espero um dia ter a incrível oportunidade de ver esse lugar pessoalmente.

    - Ana Julia
    • ah, que ótimo! :)

      - Lalai Persson
  • Olá! Também adorei a matéria. Vou para a Itália agora em abril e pretendo percorrer alguns dos locais citados. Você saberia dizer onde foi filmada a sequencia onde Elio se despede de Oliver na estação de trem… Ele diz para a mãe ao telefone: “Clusone”, mas a filmagem foi na estação de Bergamo?

    - Rener
    • Olá Rener, a cena da estação “Clusone” na verdade foi filmada na estação Pizzighettone, segundo um material que encontrei sobre as locações na internet.

      - Danilo Poliszuk
    • Olá Rener, a cena da estação “Clusone” na verdade foi filmada na estação Pizzighettone, segundo um material que encontrei sobre as locações na internet.

      - Danilo Poliszuk
    • Olá Rener. Segundo o IMDB, nessa cena existe um erro de roteiro, pois a estação ferroviária de Clusone foi fechada nos anos 60. Ali diz o seguinte:

      ‘As soon as Oliver’s train has left the station of Clusone, Elio calls his mother on the phone, asking her to come and pick him up. The train station of Clusone was a bus only station by 1983, as the railway line of Valle Seriana (in the province of Bergamo) closed down in 1967 to be substituted by a bus line.’

      Então, provavelmente eles usaram a estação ferroviária de algum vilarejo próximo de Bergamo, mas não encontrei em nenhum lugar a informação verdadeira.

      Boa viagem!

      - Renato Salles
  • Pessoal, eu simplesmente amei cada detalhe desse filme, os atores e os dois personagens. OLIVER É HÉLIO, ESTOU REALMENTE ENAMORADO, EM ESPECIAL O HÉLIO, POIS VIVI UM ROMANCE BEM PARECIDO… NÃO PATO DE OUVIR A TRILHA SONORA E O ROSTINHO ANGELICAL DELE ME ENCANTA… ME APAIXONEI MESMO.

    - Luigi
  • Maravilhoso, ja programando ano que vem!! :)

    - vivian
  • Oi! Adorei a matéria! Estou planejando uma ida à Itália e tirarei uns 2 dias pra ver Crema de pertinho. Só queria fazer uma correção. O local onde Elio se declara para Oliver não é a Piazza Trento e Trieste em Crema, mas sim um memorial em Pandino, coladinho com Crema! Infelizmente ele está situado num local que também virou estacionamento. Beijos!!

    - Raquel
    • Raquel, você tem razão e já fiz uma errata para que as pessoas saibam onde fica a praça verdadeira.
      Muito obrigado pela ajuda!

      - Renato Salles
  • Ótimo texto, ótima matéria. Parabéns.

    - Thiago

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