Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Passou pela minha timeline esses dias: a crise não é do livro, mas das livrarias. Ou não das livrarias, mas das editoras. Ou não das editoras, mas do estado da cultura no mundo.
Claro que é importante discutir os por quês da crise do mercado editorial no Brasil, mas talvez mais importante que isso seja seguir a maré boa que começou com as fotos de gente levando livros para as cabines de votação lá no segundo turno das eleições e se comprometer com a causa de presentear com livros no Natal. Claro, você sempre pode dar um eletrodoméstico ou meias também. Mas aqui a gente tá endossando livros que não são caros e que vão agradar o/a viajante presente na sua vida. Abaixo, dez sugestões. Os links abaixo são para os sites das editoras, quando possível. Lembre-se de procurar em livrarias independentes e na Estante Virtual.
Se quiser saber onde tem uma boa livraria perto de você, dá uma olhada nessa lista.
Jean-Yves Loude – Pepitas Brasileiras
Uma viagem de ônibus de mais de cinco mil quilômetros Brasil adentro, em busca da identidade negra brasileira. Cobrindo do Rio de Janeiro a São Luís do Maranhão, uma dupla de escritores e etnólogos encara o desafio de lutar contra o apagamento histórico da população negra e registrar seus personagens, fatos e locais. Se tem um livro que justifica o clichê do “Brasil que o Brasil não conhece”, é esse.
Sonny Liew – A Arte de Charlie Chan Hock Chye
Mundialmente premiada, essa mistura de HQ e biografia conta a história recente de Singapura (onde foi proibida). A história é contada através de um jovem artista local que descobre a obra de um cartunista que registrou os acontecimentos políticos e sociais do país. Parece denso e sério — e é, um pouco. Mas também é bonito, emocionante, altamente informativo e, às vezes, até engraçado.
Théophile Gautier – Constantinopla
Uma descrição da antiga Constantinopla, atual Istambul, em meados do século 19. Monumentos, costumes da vida cotidiana, descrições de cenários e habitantes por vezes esbarram na questão do exótico de uma forma que hoje nos parece superficial. Mas é importante lembrar que esse é o livro de um defensor do romantismo francês aparentemente deslumbrado com os costumes de outras partes do mundo.
Hitha Palepu — How to Pack: Travel Smart For Any Trip
Esse livreto de capa dura entrega exatamente o que o nome promete com fotos bonitas de itens essenciais (echarpe, garrafa reutilizável para água, mala de rodinhas) ou apenas estiloso (chapéu Panamá, óculos aviador, travel wallet). A graça fica por conta das páginas ensinando a montar diferentes looks com as mesmas peças de uma mala “cápsula” e as fichas com sugestões de coisas a não esquecer.
As lombadas azuis dos guias Lonely Planet se tornaram famosas são tão reconhecíveis quanto as coleções amarelinhas de revistas National Geographic. Há guias LP para virtualmente qualquer lugar. Litoral brasileiro? Check! Florestas do norte da Califórnia? Check! Sul da Índia? Check! Esse “The World” não é, claro, um guia de viagem para levar com você na mala, mas um “guia do viajante para o mundo” que faz bonito na estante e serve como inspiração em relação ao que é imperdível e essencial em cada destino.
Diários de Bicicleta – David Byrne
Além de líder dos Talking Heads, amigo de Caetano Veloso e entusiasta do forró, David Byrne é um escritor e tanto. Quem já leu o seu “How Music Works”, de 2010, sabe disso. Esse livro é anterior e conta as aventuras de Byrne por várias cidades do mundo (inclusive no Brasil) a bordo de sua magrela dobrável. Seus deslocamentos e divagações são desculpa para tocar em assuntos como urbanismo, ciclo-ativismo, economia, história, cinema e o que mais pintar. Muito culto e sempre curioso, Byrne é a companhia de viagem ideal — desde que você esteja a fim de pedalar.
David Grann – Z, A Cidade Perdida
Escrito por um repórter da New Yorker, virou filme em 2016 mas passou meio batido pelos cinemas. Mas não se engane, a história é sensacional. Grann investiga o maior mistério da era das explorações britânica: o desaparecimento do explorador Percy Fawcett no Brasil dos anos 1920, durante viagem em busca da mítica cidade de Eldorado. Enquanto vai fundo na obsessão de Fawcett pelos povos indígenas das Américas, também explora diferentes teorias sobre a veracidade de grande civilização engolida pela selva.
Gaía Passarelli — Mas Você Vai Sozinha?
A bem da transparência: esse livro é meu. “Mas Você Vai Sozinha?” é meu livro de relatos de viagem, lançado pela Globo Livros em 2016. São quinze histórias curtas de minhas viagens pelo mundo, ilustradas pela artista plástica Anália Moraes, com dicas para viajantes solo.
John Krakauer – Na Natureza Selvagem
O premiado livro do escritor, alpinista e repórter Krakauer ficou mais famoso como filme. É a história do jovem John McEndless, que abandonou casa e família para se aventurar como caronista solitário pelos Estados Unidos em busca do sonho de viver na natureza selvagem do Alaska. O livro é uma extensa e detalhada reportagem que vai fundo nas questões da família do rapaz, tenta explicar sua personalidade e decisões e analisa os fatos que levaram à morte precoce de McEndless. Traçando os passos do aventureiro, Krakauer fala muito sobre a paisagem natural dos Estados Unidos e sobre a cultura de quem vive na estrada.
Paul Theroux – O Grande Bazar Ferroviário: De Trem pela Ásia
Poderia recomendar qualquer um do Paul Theroux. Mas seu livro mais famoso talvez seja esse, em que Theroux parece sofrer de falta de paciência crônica para com seus colegas seres humanos. As descrições que ele faz de costumes e cenários ao longo de algumas das mais célebres linhas de trem do planeta (como o Expresso do Oriente e a ferrovia Trans-Siberiana) ficaram lá em 1975, num mundo antes da Queda do Muro de Berlim e hoje parecem generalizações injustificáveis. Mas, na tradição dos grandes escritores-viajantes, Theroux parece uma pessoa que gosta menos de visitar lugares do que de estar entre eles, e a partir de muitas janelas de trem criou um documento histórico, registro de um tempo e local que não existe mais. Vale mencionar que ele refez a rota três décadas depois, num livro chamado “Trem Fantasma para a Estrela do Oriente”.
*Foto: Alfons Morales / Unsplash
Gaía Passarelli é paulistana de nascença, autora do livro "Mas Voce Vai Sozinha?"(Globo, 2016) e do blog How to Travel Light. Encontre-a em gaiapassarelli.com
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.