Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Ainda sob o impacto da morte brutal de Marielle Franco no Rio, resolvi escrever uma ode às mulheres incríveis que encontrei nos dias em que estive em Austin (Texas) e que fizeram bonito em busca de espaço e visibilidade. Porque celebrar nossas vozes é também um tributo às que já não podem mais serem ouvidas.
Comecei o festival num painel em que a brasileira Carla Crippa, diretora de sustentabilidade da Ambev, contou sobre uma iniciativa social da empresa de direcionar 100% do lucro com a venda da água AMA para a abertura de poços no semi-árido brasileiro. De lá, acompanhei uma discussão sobre o Futuro do Capitalismo e conheci Kesha Cash, negra, fundadora do Impact America Fund e eleita uma das Top Five Game Changers pela Forbes. Saí emocionada depois de uma discussão que envolveu capitalismo consciente, orgânicos e impacto social.
Sábado de manhã, resolvi apostar num keynote pelo nome: A armadilha da Mediocridade e não me decepcionei. Carmen Medina tem 58 anos e mal alcançava o microfone, mas seus 32 anos de CIA, sua irreverência e suas lições de rebeldia fizeram todos saírem de lá mais otimistas com um novo perfil de liderança. A estrela do dia era Lena Dunham, escritora e roteirista de Girls, que lotou o maior auditório do ACC, com um figurino bacana e um cabelo desleixado. Estava acompanhada de Samantha Barry, editora da Glamour e ex-produtora da CNN, e falaram sobre autenticidade, quebra de padrões femininos, vulnerabilidade, novos projetos e do incrível newsletter chamado Lenny Letter.
No Alamo, assisti a sete curtas bacanas do Shorts Program 3 e quatro deles foram dirigidos por mulheres. Representatividade conta. Domingo, o tema era O novo Ecossistema Espacial e adivinhem? As 3 convidadas eram mulheres: Emily Calandrelli produz o FOX’s Xploration Outer Space, Jeanette Quinlan conecta startups aeroespaciais com investidores bilionários e Natalya Bailey trabalha com pequenos satélites, está na lista de empreendedoras da Forbes “30 under 30” e, nas folgas, amamenta um bebê loiro que a esperava na platéia. Para descontrair, o próximo painel chamado “Using Explicit Sex as a Storytelling Element” reuniu 4 respeitadas diretoras de conteúdo adulto, provando que dá para unir sexo explícito e boas histórias. Sigam urgente essas mulheres nos sites: Angie Rowntree (SSH.com), Dr. Chauntelle Tibbals (Chauntelle Tibbals), Shine Louise Houston (Pink White) e Dee Severe (Severe Sex Films).
E para falar do Futuro do Trabalho, chamaram apenas Melinda Gates que disse “espero que o Bill esteja em casa com as crianças, conforme combinamos quando sou eu quem está no palco”. Justo, né? Foi mais uma sessão 100% feminina, com metade da mesa bem representada por mulheres negras, Nina Shaw e Stacy Brown-Philpot, ambas com currículos extensos e invejáveis. No próximo evento, desejei ser sócia da criadora do The Wing, Audrey Gelman, que teve a brilhante ideia de abrir um clube feminino de trabalho e incentivo a projetos, já com 5 sedes no mundo e mais de 5 mil mulheres na fila de espera. Alguém aí quer abrir o The Wing SP comigo?
Fora dos palcos, fiquei na casa das meninas da White Rabbit com mais 20 brasileiros e TODAS as mulheres de lá sabiam o que era Blockchain. Cada café da manhã era um mini TED e eu tentei disfarçar meu deslumbramento. Fernanda Daudt, diva-Pinterest e minha companheira de cama, acordava quietinha às 6 da manhã para levar suas bolsas do Volta Atelier das passarelas de NY para o stand da APEX Brasil. Fernanda Lima e Liniker foram duas que desfilaram pela cidade com suas criações. Das 3 Alines poderosas da casa, fiquei mais próxima da Aline Mazzarella, produtora carioca fashion e conectadíssima do Estúdio Giz, que andava por Austin atraindo de influencers do canal GNT a produtores holandeses interessados em co-produzir conteúdos brasileiros. Também aproveitamos as melhores festas entre os whatsapp de vídeo com os filhos, porque não somos de ferro.
Não posso deixar de acrescentar um parágrafo sobre os caras incríveis, respeitadores e incentivadores que estavam lá também e que me incluíram nos rolês e trataram todas nós como brothers, ou sisters. Um exemplo lindo foi um homem que tinha direito de fazer a última pergunta para os convidados do painel e deu o seu lugar ao microfone para a mulher que estava logo atrás dele. Esse foi bastante aplaudido.
É claro que eu queria muito que esses 5 dias refletissem a rotina mundial da mulherada, mas não sou tão ingênua a ponto de não perceber que foi apenas uma bolha, um vislumbre de como seria bacana viver num mundo igualitário, que valoriza, aposta e dá voz para mulheres de sucesso inspirarem as que estão a caminho. De qualquer maneira, foi lindo de ver onde podemos chegar quando não nos calam.
*Foto Destaque: Elis Pedroso.
Publicitária metida a escritora, mãe meio Waldorf e empreendedora de orgânicos.
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