Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Algum tempo atrás (mas não tanto tempo assim), 12 milhões de escravos foram levados da África para as Américas. Algumas décadas depois, como era inevitável, a força das várias culturas e reinos africanos raptados de sua terra original, misturada aos novos costumes ensinados pelos colonizadores, gerou um caldeirão de arte, artesanato, culinária, ensinamentos e música.
Em uma ilha específica do Caribe, essa fusão complexa de informações e referências, somada à resistência dos escravos e à luta pela independência, criou uma música militante, misturada, quente, múltipla, diferente de tudo que já tinha sido criado. E essa ilha teve – e continua tendo – mais influência na música do mundo do que milhares de outros países juntos. Bem-vindos à Jamaica!
O Sesc 24 de Maio, junto com a Cité de La Musique – Philharmonie de Paris trouxe a Jamaica, Jamaica!, uma super exposição que conta toda essa história. Cobrindo os ritmos caribenhos como o mento (espécie de calypso) que precederam tudo isso, passando pela criação do ska e sua evolução até chegar no reggae, podemos conhecer um pouco dos estilos musicais jamaicanos e entender que – assim como o rock ou o jazz – eles têm um milhão de ramificações e subgêneros.
Na exposição, a história e seus principais personagens são mostrados com muitas fotos, objetos raros, discos, instrumentos e áudios que criam a trilha sonora para tudo que está sendo falado ali (leve seu fone de ouvido!).
Algumas das maravilhas que você encontra na expo: uma seção dedicada ao maior divulgador da cultura jamaicana pelo mundo, Bob Marley e seus The Wailers, com fotos, discos, documentos, uma maquete fofa, instrumentos (várias guitarras e uma bateria usadas pelos integrantes) e ainda fotos e áudios inéditos e raríssimos.
Um capítulo dedicado ao ska e ao Skatalites; várias informações históricas sobre a luta e resistência da ilha pela sua independência; e referências ao design (capas de discos, flyers, posters) e moda ligados ao ritmo – o reggae vai muito além da música, é só ver como o estilo dos jamaicanos é inconfundível.
Os primeiros soundsystems e primeiros estúdios, com reconstituições de como eram o Studio One e o estúdio do King Tubby; o dub; e ainda instrumentos de algumas das maiores feras jamaicanas como Lee “Scratch” Perry, nosso amado Jackie Mittoo e Peter Tosh – era dele a famosa guitarra em formato de metralhadora.
No Brasil, além dos sete capítulos da exposição que rolam lá fora, ganhamos uma seção à parte, mais que merecida, que mostra a influência do reggae por aqui. Ela conta dos primeiros discos trazidos por marinheiros de passagem por São Luís do Maranhão, da mistura com os blocos afro de Salvador e como, apesar do enorme sucesso popular, o ritmo foi ignorado pelas rádios brasileiras por décadas.
Também fala de um dos pedaços da cultura jamaicana que a gente adaptou melhor por aqui – os soundsystems, sistemas de som móveis, de rua, que um dia levaram o reggae para multidões que não tinham rádio em casa, e hoje animam festas democráticas no centro e nas periferias de São Paulo e outras cidades brasileiras. O pôster abaixo, criado exclusivamente para a exposição pelo designer e regueiro Natan Nascimento, mostra o tamanho e (literalmente) a potência dessa galera.
Outra coisa legal da expo (além de tudo isso!) são as obras interativas. Em uma delas, você pode navegar por uma tela e entender como funcionam os riddims, as bases instrumentais tão características da música jamaicana que são recicladas em centenas de músicas diferentes, e em outra pode mexer em um painel interativo, ajustando volume, sirenes, baixos a agudos, delays e ecos, criando sua própria dubzera nervosa e explorando tudo que faz um real DJ de soundsystem. Jah bless!
Jamaica, Jamaica!.
Sesc 24 de Maio. Rua 24 de Maio, 109, Centro
Até 26 de agosto
Terça a sábado das 9h às 21h, domingos e feriados das 9h às 18h.
Gratuito.
Fotos: @tavapassando
Tavapassando e cliquei. Danilo Cabral e Flavia Lacerda registram seu dia a dia e todos os lugares por onde estão passando, em um mini-guia de shows, restaurantes, ruas e pixos no Instagram.
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