Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
O Festival PATH chega a sua sexta edição neste final de semana em São Paulo e conta com uma programação recheada de gente inspiradora e temas bem variados, que passam pelas tendências em inúmeras áreas como educação, economia, gênero, mindfulness. Mas cada vez mais o festival abre espaço para discutir e reunir agentes transformadores da música. Então, quem gosta não apenas de ouvir mas também explorar a criatividade musical, é ou quer ser um profissional do mercado da música, ou simplesmente deseja sair da sua zona de conforto e saber mais como funciona essa indústria e o que ela tem a ver com neurociência, representatividade, e consumo, todos os seus caminhos, com o perdão do trocadilho, te levam ao PATH.
A seguir destacamos alguns desses conteúdos para ajudar a diminuir (ou aumentar, sorry) o FOMO de quem curte o universo musical.
A forma como consumimos música mudou, e muito. Com mais de 30 milhões a um clique de distância, ela nunca foi tão fácil e abundante. Trocamos álbuns por playlists, devoção de um artista por um single, estilo musical por moods. Todas essas mudanças impactaram o processo criativo dos artistas, que precisam chegar em novas soluções para lançar suas obras e repensar velhos formatos. Para essa discussão que parece não ter fim, Kátia Abreu, diretora do Dia da Música, o músico Lucas Santtana e Rodrigo Gorky, produtor musical de Pabllo Vittar e Brabo Music participam da mesa ‘O Impacto da nova forma de consumo de música no processo dos artistas’.
Por falar em criatividade, o campo da neurociência traz estudos avançados sobre os estímulos que o cérebro recebe ao escutar determinados tipos de música, auxiliando na cura de doenças como Mal de Alzheimer e Parkinson. Também nos ajuda a descobrir de onde vêm novas ideias e a hackear processos mentais para melhorar desempenhos. Na palestra ‘Um papo sobre música, neurociência e criatividade’, a professora e pianista Patrícia Vanzella discute com o docente do Programa de Pós-Graduação em Música da UFRJ Marcos Nogueira e o Psicólogo e cientista comportamental Hernando Neves Filho os processos mentais envolvidos na criação musical, e como a neurociência pode ser útil como ferramenta na criação artística.
Outra palestra que une temas transversais é ‘Fora do palco: como artistas e festivais podem expandir seus formatos musicais’, onde o curador e idealizador do Festival Novas Frequências Chico Dub conduz o papo com a artista Luisa Puterman e o curador do Red Bull Station Fernando Velazquez, para discutirem como a música experimental, a arte sonora e a relação do som com a arte contemporânea permitem aos artistas ampliarem os seus horizontes e práticas artísticas, expandindo as possibilidades do palco e casa de shows para performances, workshops, instalações, site-specific entre outras ações multimeios.
A importância do audiovisual na carreira de um artista é inegável, mas a cada dia que passa nos deparamos com exemplos (beijo pro Childish Gambino) poderosos e ferramentas que facilitam o consumo visual da música, que nos instiga a questionar se estamos consumindo músicas ou imagens sonoras. Para aprofundar esse papo, Rincon Sapiência troca uma idéia com os diretores Gabi Jacob e Fred Ouro Preto sobre novos formatos e o melhor caminho para artistas e diretores produzirem um vídeo de qualidade. Imperdível.
Em ‘As novas formas de crítica musical’, o vídeo também é o protagonista do papo com mediação do jornalista do Estadão e criador do Tem Um Gato na Minha Vitrola no Stories do Instagram Pedro Antunes, que troca uma ideia com Luiz Thunderbird, ex-VJ da MTV e apresentador do Music Thunder Video, e Flora Miguel do canal Um Vlog de Música, ambos no Youtube, para discutir sobre processo criativo, criação de audiência, futuro desses formatos e o impacto das iniciativas para o cenário musical. Papo importantíssimo, afinal, você lembra a última vez que leu uma crítica musical?
O tema principal do PATH desse ano é Idéias que trocam idéias. Alguns talks sobre música dessa edição ajudam a desmistificar processos, movimentos e tendências. Uma espécie de how to que inspira a abrir novos horizontes para nossos universos particulares.
Um sonho comum para quem trabalha nesse universo musical, curar um festival parece ser o melhor trabalho do mundo. Mas já pensou em todo o caminho percorrido por um curador de um festival de música até fechar o lineup final? Em ‘Libera o lineup! Como funciona a curadoria de festivais’, Anna Penteado, idealizadora do Vento Festival e Gabriel Junqueira de Andrade, do Coala, falam com a comunicadora e produtora do Festival Faro Fabiane Pereira sobre a linha curatorial de seus festivais, o processo criativo por trás das escolhas e dificuldades de fechar a escalação perfeita. Uma boa oportunidade de entender por que aquele seu artista gringo favorito nunca vem ao Brasil.
Outra pauta que necessita mais diálogo e ação no meio musical é a relação das marcas com os artistas. Apesar da grande mudança pela qual a indústria da música passou nos últimos anos, a forma como muitas marcas estão buscando se associar a artistas parece não seguir a lógica desse novo momento. Em ‘Marcas & Artistas: pra quem essa parceria vale ouro?’, Rafael Achutti do Bananas Music Branding conversa com Fernanda Paiva, gestora do Natura Musical, e a cantora Ana Vilela. Palestra altamente recomendada para profissionais da área de marketing e agências entenderem melhor as necessidades reais dos artistas, e como construir uma relação verdadeira e sustentável com os artistas e o ecossistema da música.
Os estilos musicais mais amados do TOP10 atual marcam presença com talks específicos sobre os seus universos. Em ‘Como funciona o ecossistema do funk e por que ele incomoda tanto?’, o jornalista GG Albuquerque conversa com o editor-chefe do Portal KondZilla Renato Martins e a idealizadora da festa Batekoo e Diretora da Frente Nacional de Mulheres no Funk Renata Prado, para discutirem como funciona o ecossistema de quem cria e vive um dos estilos musicais mais originais e consumidos, e ao mesmo tempo mais marginalizados do país. A música latina também tem um talk para chamar de seu com ‘A ascensão da música latina no Brasil e porque isso está acontecendo agora’, mediado pela doutora em sociologia e pesquisadora Dani Ribas, que conversa com Hernan Halak, produtor do Festival MUCHO, e o músico Pedro Bandera, sobre como pouco a pouco o público e os artistas brasileiros estão voltando seus olhos e ouvidos para a América Latina, quais as iniciativas que ajudam os artistas brasileiros a circularem e, é claro, saber porque essa mudança cultural está acontecendo agora.
Música é comunicação. Ela nos ajuda a sentir melhor algumas coisas, a dizer melhor outras e a descrever momentos históricos. É pelo posicionamento de artistas que questões sociais podem tomar outras proporções. Nos últimos anos, a cena LGBT ganhou força no Brasil e seus representantes estão moldando uma nova cena não só musical, mas de debate de várias questões urgentes da sociedade, se tornando uma forte ferramenta de responsabilidade social e visibilidade. Na mesa ‘A música como ferramenta de discussão de gênero e responsabilidade social’, as cantoras Aíla e Luana Hansen discutem qual é a real responsabilidade social da música, quais artistas estão trabalhando na discussão de gênero em seus trabalhos, e como a música ajuda a dar visibilidade e ajuda a debater questões.
Outra velha discussão em festivais, rodas de conversa e na timeline mais próxima há um bom tempo, é a presença das mulheres na música. E nada mais chato do que talks que se resumem em falar mal dos homens e lamuriar poucas oportunidades. O talk ‘As cenas musicais no Brasil a partir de uma perspectiva feminina’ não é um painel sobre mulheres na música, e sim sobre o que está acontecendo nas cenas da música eletrônica, reggae/soundsystem e rock a partir de uma perspectiva feminina, e as iniciativas criadas para dar visibilidade a mulheres nesse gênero. É pra ouvir gente que faz, com mediação da jornalista e idealizadora do Womens Music Event, Claudia Assef, a cantora Laylah Arruda do coletivo Feminine Hi-Fi e Jéssica Pauline do coletivo Bandida.
A programação de shows também está imperdível. No espaço Bombay Sapphire Stir Creativity, a marca de gin faz uma mistura sinestésica de artes, sabores e música, com shows de Plutão já foi planeta, Luiza Liam, Tono. Outros destaques são Otto cantando Martinho da Vila, a revelação baiana Luedji Luna, Dona Onete, Luiza Lian, Rubel, Giovani Cidreira, Quinho cantando Marina Lima, Tagua Tagua, Castelo Branco, Mari Romano, Pássaro Vadio e muito mais. E o melhor: o acesso aos shows é gratuito :)
Por Juli Baldi, diretora criativa do Bananas Music Branding, Jornalista e atualmente nomade digital viajando pelo velho mundo.
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.