Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Agora que presenciamos um crescente movimento que questiona a forma como nos relacionamos e ocupamos os espaços urbanos, o Festival Path desse ano não poderia deixar de ter entre seus destaques o tema da criatividade e inovação nas cidades e ruas. Quem acompanhou o festival teve a oportunidade de presenciar entre suas mais de 300 palestras e painéis, importantes debates a respeito da vida na cidade, tanto de um ponto de vista sociocultural quando tecnológico e estrutural.
Propondo-se a imaginar como a infraestrutura das cidades pode ser transformada pela tecnologia, podemos destacar o painel “Cidades cognitivas, as cidades do futuro”.
A discussão se deu em torno de como será viver em cidades inteligentes ou cognitivas. Dentro dessa perspectiva de futuro, as cidades terão todos os seus espaços e serviços “sensorizados” e interconectados, produzindo uma quantidade massiva de dados à cada segundo. Esses dados, gerenciados por uma poderosa inteligência artificial, permitirão à cidade ajudar seus cidadãos a tomar melhores decisões em seu dia-a-dia e a viver com mais qualidade e conforto. Os condutores do painel comentaram sobre o desafio que é manter as necessidades das pessoas como o centro de tudo neste contexto.
Por todo o festival era possível identificar um desejo pela reconexão com a natureza, que, no âmbito das cidades, gera uma renovada valorização dos recursos naturais presentes nos grandes centros urbanos. O destaque aqui fica com os rios da cidade de São Paulo que, negligenciados e esquecidos por décadas, têm o potencial de mudar o humor, as formas de transporte e lazer na cidade. Essas possibilidades foram debatidas por representantes de iniciativas como a Rios e Ruas e o Instituto Limpa Brasil nas palestras “O sonho do Rio Pinheiros: o que falta para realizarmos?” e “Como reativar os rios de São Paulo sem ocultar as ruas?”.
Talvez um dos tópicos mais relevantes de todo festival foi a retomada dos espaços públicos por iniciativas criativas e inovadoras. Aqui a cidade transfigura-se em uma plataforma que desperta um sentido de comunidade entre seus habitantes. Nos últimos anos, vimos o centro de São Paulo tornar-se um polo cultural que favorece a conexão entre as pessoas e as transforma em poderosos agentes de mudança, redefinindo assim, as relações de poder nesses espaços.
No painel “A retomada do centro de São Paulo pela economia criativa e o ativismo social”, representantes do A vida no Centro, PanoSocial, Rap Burguer e Rinconcito Peruano, se reuniram para analisar como o centro da cidade mudou de cara com o influxo de jovens ativistas e empreendedores para a região. “A rua é de quem faz” apresentou iniciativas de moradores que escolheram trabalhar em conjunto e de forma horizontal para promover melhorias urbanas necessárias nas regiões onde vivem.
A ocupação dos espaços públicos também pode se dar através da arte, foco principal do painel “Como a arte pode transformar espaços públicos degradados”. Seja através das artes visuais, teatro ou música, criar na cidade ambientes que incentivam a livre expressão, permite recuperar regiões degradadas e re-significá-las. Destacam-se aqui projetos como o Parque Minhocão e a Virada Cultural em São Paulo.
Vale mencionar o esforço da curadoria do festival em diversificar seu discurso e apresentar diferentes olhares para a questão urbana. Na palestra “Criatividade das Ruas”, que contou com o coletivo de influenciadores digitais Estaremos Lá, a Rede Urbana de Ações Socioculturais – RUAS e o Coletivo Raízes, muito se falou sobre como a periferia também é centro para grande parcela da população: centro de criatividade, inovação e crescimento, e sobre como precisamos incluir-los no debate sobre os espaços públicos.
Por fim, fica clara a preocupação do Festival Path em incentivar diálogos que procuram entender as profundas mudanças culturais acontecendo nos vários cantos de nossas cidades, quais são os possíveis futuros para nossos espaços urbanos e o que podemos fazer para garantir que sejam ocupados de forma mais diversa, digna e inclusiva por todos seus habitantes.
Por Isadora Ferraz. Após alguns anos trabalhando como designer de moda, decidiu se tornar a nerd que nasceu para ser. Passa grande parte do tempo estudando tecnologias emergentes e como as organizações e pessoas se relacionam com elas. Viajou pelo Brasil dando cursos sobre futurismo e atualmente trabalha investigando futuros e inovação.
Fotos e foto destaque: Fabio Allves.
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.