Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Ao mesmo tempo que temos 800 milhões de pessoas passando fome, temos 1 bilhão de pessoas obesas e com problemas cardiovasculares: alimentar o mundo é um problema sistêmico. Tudo isso num contexto onde cada vez mais pessoas nascem: em 2050, a Terra terá cerca de 9 bilhões de habitantes. A criatividade é a única saída para soluções de problemas complexos.
Atento a essa discussão, o Festival Path 2018 contou com uma programação voltada à AgroInovação e Alimentação. Estivemos lá para conferir o que foi discutido ao longo dos dois dias de evento, e aprendemos que evolução começa pela cozinha.
As fronteiras entre a cidade e o campo estão ficando cada vez mais embaçadas: ao mesmo tempo que o trabalho no campo se torna cada vez mais tecnológico e digital, a cidade vem experimentando uma maior aproximação com a produção local, através das hortas urbanas e outras iniciativas que aproximam o produtor do consumidor, eliminando quaisquer possíveis intermediários. Isso foi tratado no painel “Florestas a domicílio”. Um dos exemplos do festival foi a participação da Rede Guandu, por sua vez, busca facilitar a venda de pequenos produtores locais e agricultores familiares de produções agroecológicas, através da venda direta e do comércio justo, fortalecendo assim o vínculo entre o produtor e o consumidor. Finalmente, a SomaNatureza desenvolve e oferece soluções que objetivam conectar e sensibilizar as pessoas para um novo relacionamento com plantas, através de planejamento e implantação de hortas, oficinas customizadas de hortas orgânicas e outros serviços.
Em um mundo onde teremos um número cada vez maior de bocas para alimentar, explorar novos cenários relacionados à toda a cadeia produtiva de alimentos é discussão muito bem-vinda. A hiperpersonalização de alimentos possibilitará que pessoas de diferentes locais de origem consumam exatamente o mesmo alimento in natura. A tecnologia blockchain permitirá aos grandes supermercados uma transparência em relação aos seus processos de Segurança do Alimento muito maior, trazendo mais conforto ao consumidor final. A carne in vitro diminuirá consideravelmente as áreas destinadas à criação de animais, tendo potencial para modificar a dinâmica atual do uso da terra.
A plataforma ZeroHunger, por exemplo, conta com o mapeamento de 128 tecnologias e serve como excelente fonte de pesquisa para imaginar os futuros alimentares que queremos construir.
No outro lado da história, temos a agroecologia, que nos mostra que é possível aliar desenvolvimento com respeito à natureza. Faz-se necessário discutir o mito do orgânico caro, a desconhecimento da origem dos alimentos e o nosso próprio modelo alimentar, que não privilegia o contato entre o produtor e o consumidor. Nesse contexto, novos modelos de negócio — tais como os Sistemas Curtos de Produção — surgem, e fazem com que comecemos a repensar a maneira com que lidamos com os alimentos e com a nossa própria lógica de consumo.
A VeganEasy apresenta-se como uma plataforma que reúne informações sobre alimentação orgânica, onde é possível realizar assinaturas mensais ou refeições avulsas de tais alimentos.
O Instituto Chão é uma associação sem fins lucrativos que busca ser um espaço de convivência e economia solidária para experimentação de novas formas de relação. Contém uma feira, uma mercearia e um café com produtos orgânicos e artesanais.
A Incubadora Técnológica de Cooperativas Populares da Universidade de São Paulo (ITCP-USP) incentiva e apoia a constituição de empreendimentos em comunidades da periferia da cidade de São Paulo, tais como a ComerAtivaMente – Cooperativa de Consumo, uma livre associação de consumidores em parceria com produtores que tem por objetivo estabelecer relações diretas de compra e venda.
Ainda pela Universidade de São Paulo, a Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ) conta com o Núcleo de Agroecologia Nheengatu, que realiza estudos na área através de grupos de extensão em agricultura orgânica, sistemas agroflorestais, territorialidade rural, produção e consumo solidário de alimentos, assistência a produtores familiares, aproveitamento de resíduos agroindustriais, cultura alimentar, economia solidária e agrobiodiversidade alimentar.
Um novo modelo de se pensar negócios está caminhando a passos largos. Aqui, antes de se pensar no lucro, é necessário refletir sobre qual é o impacto que a empresa irá deixar para as pessoas e para o mundo. Tal cenário já é uma realidade, principalmente quando se fala em desperdício de alimentos ao longo da cadeia.
O Fruta Imperfeita possui o propósito de diminuir o desperdício de alimentos por meio da disseminação do consumo consciente atuando como agente de conexão entre os produtores e consumidores.
A Gastromotiva busca promover transformação social através da comida, através de palestras, eventos e outras soluções inovadores além de oferecer cursos de capacitação para jovens talentos e apoio a microempreendedores.
A plataforma FoodFinder tem como objetivo otimizar as compras de restaurantes e aumentar a lucratividade dos fornecedores, pois tem como destaque comercializar produtos que estejam próximos ao vencimento. É direcionada exclusivamente a pessoas jurídicas e permite a conexão entre fornecedores de alimentos e o setor de Food Service.A revolução do mundo começa pelo prato. E criatividade para encontrar soluções será decisivo nos próximos anos, quando decidiremos novos modelos mentais para serem seguidos.
O Path segue a teoria da abundância: em um mesmo evento, falou-se sobre agronegócio é agroecologia; pequenos produtores e commodities; orgânicos e transgênicos. Sob esse ponto de vista, não podemos dizer que não se trata de um festival inclusivo, que abarca diferentes visões de um mesmo assunto. E não é esse justamente o futuro que queremos?
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.