Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Quando as obras da artista japonesa Yayoi Kusama vieram para o Brasil, a exposição bateu recordes de público… e de selfies. Era tanta gente querendo postar as bolinhas infinitas, que uma instrução do próprio estúdio da artista impôs um limite de 20 segundos para a visita de cada obra. E mesmo assim, tinha fila de mais de 4 horas do lado de fora do museu.
A nossa compulsão por compartilhar nossas experiências fazem algumas pessoas perderem a própria vida em detrimento do registro dela. Quem nunca viu alguém no show que fica o tempo inteiro de olho na tela do celular filmando, e não olha uma vez sequer para o palco?
Até aí tudo bem. Cada um faz da própria vida o que quiser. Mas um artigo do Guardian me plantou uma pulga na cabeça: o que acontece quando o processo é o inverso? Como ficamos quando o problema não somos nós que não sabemos a hora de parar de compartilhar, e sim a nossa experiência já é moldada para o Instagram? A autora dá vários exemplos de lugares que tem o projeto pensado para que façam brilhar os olhos e as telas dos celulares. Cores fortes, texturas, luzes estratégicas, graffitis, o que não faltam são recursos para servir de pano de fundo para nossas selfies. Daí fica a pergunta: e como ficam aqueles lugares que não usam esse artifícios e tem que se contentar a ser… reais? Será que um restaurante, por exemplo, não é suficiente só com boa comida e bom atendimento? O que vai acontecer com o que é simples, tradicional ou íntimo nessa vida de espetáculos?
Mesmo a arte, que sempre foi um campo de contestação, parece ter se rendido (não estou falando da Yayoi!). Museus inteiros estão saindo do papel com o único intuito de preencher perfis de Instagram. É o caso do Museum of Ice Cream, em São Francisco. Nele, cada sala é repleta de truques e cenários que, literalmente, saem bem na foto. Mais nada. Em Los Angeles, foi inaugurado em março o Museum of Selfie, do qual acho que não preciso explicar muito. E nem preciso dizer que ambos são um sucesso.
Até a arte tradicional está sucumbindo aos mecanismos digitais como forma de alcançar um público maior. Nomes como Vincent Van Gogh e Gustav Klimt recentemente ganharam ‘exposições’ em que seus trabalhos são moldados para Iphones e Androids com animações.
Exposition immersive “Gustav Klimt” à l’Atelier des Lumières from Culturespaces on Vimeo.
Sobre uma recente exposição em cartaz no Whitney Museum, chamada ‘Uma História Incompleta do Protesto’, um crítico acusa a curadoria de de expor ‘mentiras, obcenidade, melodrama e um truque retórico 8 mil vezes.‘ Para ele, as obras selecionadas são mera propaganda de agendas políticas que se prestam à coerção do público, não a propor questionamentos e buscar a elevação. E estamos falando de artistas consagrados como o coletivo feminista Guerrilla Girls, que recentemente expuseram no MASP, em São Paulo. Em uma entrevista recente, a artista brasileira Jac Leirner levantou uma questão similar, ao debater o uso da arte como ativismo. Ela diz: ‘a arte é tomada de empréstimo para cumprir uma função que, no fundo, não tem. Se transforma em ilustração. Passa a ilustrar esses outros assuntos.’
Eu confesso que não sei a resposta de nada. Só me parece significativo que tudo esteja convergindo na mesma hora. Penso que a vida digital deu voz para todo mundo, e agora todo mundo quer falar, todo mundo ao mesmo tempo. Queremos mostrar quem somos, o que pensamos, o que consumimos, onde estamos e para onde vamos. Mas se somos todos Kardashians – protagonistas no nosso próprio reality show – quem está assistindo? E como fazemos para voltar a enxergar a vida que está acontecendo atrás do celular?
Em 2014, a artista argentina Amalia Ulman enganou todo mundo com uma obra de arte no Instagram. Ela criou um personagem dela mesma para discutir a nossa busca eterna pela perfeição digital, em uma performance que durou meses. Será que ela previu o futuro próximo da humanidade?
Agora todo mundo pode ser influencer, é só ter uma conta de Instagram ou Facebook. Bom, mais ou menos. Hoteis estão fartos de dar diárias para wannabes do mundo todo. Alguns até fecharam de vez as portas para youtubers e afins.
Apropriação cultural é um problema comum na moda. Mas quando a grife francesa Dior mexeu com o vilarejo romeno chamado Bihor, ela teve uma resposta à altura. A revista Beau Monde ajudou a comunidade a montar um negócio online para vender as roupas que a grife tinha copiado para vender por milhares de euros a mais!
Texto publicado originalmente no Chicken Wings, a newsletter do CoP. Já assinou?
*Foto do destaque: PxHere
Para o Renato, em qualquer boa viagem você tem que escolher bem as companhias e os mapas. Excelente arrumador de malas, ele vira um halterofilista na volta de todas as suas viagens, pois acha sempre cabe mais algum souvenir. Gosta de guardar como lembrança de cada lugar vídeos, coisas para pendurar nas paredes e histórias de perrengues. Em situações de estresse, sua recomendação é sempre tomar uma cerveja antes de tomar uma decisão importante. Afinal, nada melhor que um bom bar para conhecer a cultura de um lugar.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.