Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Texto por Alexandre Hinterholz
O ADE – Amsterdam Dance Event – como de costume foi super espalhado pela cidade, o que se transformou num ótimo convite para conhecer novos cantos de Amsterdã.
Conteúdo, apresentações e talks não faltaram, mas acho que um prisma interessante para se ver o ADE 2018 foram os encontros mais casuais com grandes (e alguns novos) amigos do mercado global.
O ADE deste ano chamou atenção por abrir muito mais espaço na programação da conferência para o protagonismo do artista, conteúdo e a programação super focada no negócio da música. Muitos painéis e espaços focados em artistas e suas experiências, seja abrindo os seus cases, dividindo os seus projetos e inspirações, equipamentos, até suas histórias, com o público. Além disso, umas das coisas que mais me chamou atenção foi uma sala totalmente dedicada às cenas de países que estão fora do eixo Europa-EUA, onde representantes locais faziam um discurso de 20 minutos sobre o mercado, selos, festivais, clubes e iniciativas focadas em música eletrônica. O Brasil estava lá representando pela recifense Juliana Cavalcanti e outros países que tiveram esse destaque foram Colômbia, México, Austrália, Bélgica e, agora atenção, a Coréia do Sul chegou em peso, mostrando que estão com total disposição (e apoio) para entrada no mapa da música eletrônica global.
Claro que todos os espaços dentro do DeLaMar Theater estavam muito cheios e a vontade de fazer networking pairava no ar, mas umas das magias do ADE sempre foram os encontros fora da conferência, já que muita gente chega ao ADE sem ter ingressos para a conferência. As suas intenções ficam em fechar negócios e as reuniões acabam acontecendo fora das venues oficiais do festival. Isso faz acontecer uma grande busca por lugares próximos do agito, sempre com indicações quentíssimas de quem vai a conferência há anos e sabe o melhor lugar para ter esses papos e efetivamente fechar negócios. Isso se provou uma delícia!
Os encontros que rolaram no ADE
1º encontro: SORA Sapporo Ramen
Encontrinho com a amiga, DJ e produtora Joyce Muniz, que naquele dia tinha feito uma demonstração de equipamentos da Native Instruments. Chegamos lá e ela já nos esperava acompanhada de dois amigos da cena californiana, um deles um super fotógrafo de eventos, e artistas. Antes mesmo dos nossos pedidos chegarem, já tínhamos criado uma ótima afinidade na conversa, que só foi interrompida em alguns segundos pelo aroma dos 6 ramens sendo distribuídos à mesa. Quente e às vezes complicado de experimentar, os pratos provaram ter muito mais em comum com as festas na Califórnia e Brasil. Compartilhamos algumas dificuldades dos mercados locais, mas também muitas felizes semelhanças entre os comportamentos dos públicos.
2º encontro: Café American
Um bate-papo com a DJ Luna, francesa de nascença mas com a tranquilidade herdada de sua residência na Alemanha. Ela iria tocar numa das maiores festas na sexta-feira, no Museu Naval de Amsterdam. Começamos mal na escolha do primeiro spot, movimentado e barulhento demais. Foi quando nos voltamos a um café super aconchegante ao lado do DeLaMar, o nome até causou receio, mas passou assim que sentamos. O suspiro de alívio de ambos, um café e um champagne para brindar este tão adiado encontro. Começamos quase como um retrospecto de 15 anos pelo techno alemão até oportunidades no mercado brasileiro, o recheio foi como esses dois pontos nos conectaram de um jeito especial. Para fechar com chave de ouro, esticamos as pernas até a Kompakt Pop-up Store para curtir o set de um dos pivôs da nossa conversa, o DJ e Produtor Marc Romboy.
3º encontro: Ghandhi
Uma pérola escondida na cidade, mesmo com o endereço setado no celular, foi difícil achar a entrada do mais incrível restaurante indiano que já fui. Dois imensos nomes do jornalismo musical à mesa – Gary Smith, curador do ADE, e Joe Mugford – acompanhados de pratos que explodiam em sabores como os assuntos fluíam pelos mais diversos temas. Como os companheiros eram britânicos, as rodadas de cerveja Cobra não paravam de chegar, um acompanhamento perfeito para comida indiana. Sabe aquele encontro que nos somam alguns anos de experiência? Foi esse. O interessante foi perceber que o lado humano dos artistas foi tópico constante, acho que vem aí um novo tema para ser debatido nas próximas conferências.
4º meeting, Assaggi
Um buonissimo restaurante italiano no super hipster bairro Jordan. Foi lá na porta que encontramos duas empresárias espanholas, donas de uma agência de booking e management. A casa estava cheia e não tínhamos reservas, mas acho que os nossos maitres reconheceram o sangue latino e deram um jeito de nos acomodarem. A cada momento o lugar encantava mais, com os antepastos chegaram as primeiras Birras Morettis e daí pra frente a conversa não parou mais. Uma atração à parte era ver o casal à frente do restaurante discutindo cada vez que se cruzavam, tentamos entender o italiano, mas chegamos ao consenso que aquilo devia ser apenas um elemento a mais da ambientação.
O ADE 2018 deixou saudades em muitos participantes de longa data pela receptividade da sua antiga base, o Felix Hotel, mas já era notável que os seus espaços não comportavam mais o crescimento do evento. Agora o indiscutível ‘maior evento de música eletrônica do mundo’ se espalhou por toda Amsterdã e provou que precisamos de pelo menos uns 5 clones para acompanhar todos os workshops, palestras, mesas e festas, uma agenda sempre cheia para dia e noite. Pode ficar tranquilo que você nunca vai conseguir cumprir tudo aquilo que se programou, mas essa é a deixa perfeita para escapar se entregar a convites inesperados e viver essa gigantesca experiência que é o Amsterdam Dance Event.
Shot by Both Sides
The Ups and Downs of management com a brasileira Monique Dardenne
O crescente interesse e necessidade do mercado pelo assunto management de artistas já podia ser reparado meia hora antes do painel começar, quando managers e interessados já ocupavam as cadeiras da maior sala do DeLaMar Theater, já prontos para dispararem as suas perguntas ao quarteto no palco.
O painel começa com tudo, Susan Langan apresenta Neil DeGuzman, Monique Dardenne, Patricia Altisent e Kelly Money, sem perder tempo para começar a debater como lidar com a construção do artista. Cada convidado pode compartilhar ótimas experiências de suas carreias, diferentes entre si, mas todas trazendo espontaneamente para a pauta a atenção com a saúde física e mental dos seus artistas. Mas todo esse trabalho precisa ter limites muito bem definidos nesta relação de artista e manager, que foi o assunto seguinte e se manteve por um bom tempo no painel.
Falando em saúde, na sequência o foco passou aos managers e como eles fazem para cuidar da própria saúde, para atender toda a demanda de seus artistas e se manterem equilibrados. Para fechar, um ponto super importante, como o manager faz a escolha para trabalhar com os seus artistas, mostrando que esta combinação precisa de muita afinidade entre as duas partes, comprometimento e profissionalismo do artista e sinergia para que o desenvolvimento do trabalho de ambos creca e seja satisfatório para ambos os lados.
*Foto destaque: ADE 2018 por Marco-Scheurink / divulgação
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