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Um dia, ela virou para mim e perguntou: “E se fecharmos a viagem com uma expedição de barco de 5 dias?” Como assim? É, cinco dias num barco, island hopping em Palawan, acampando em ilhas desertas como nativos, vivendo do mar. Fechado. Assim embarcamos em uma aventura com a Tao Philippines.
Tao em tagalo significa gente, humano. A Tao Philippines é um projeto social criado por dois amigos, que tem as comunidades que vivem isoladas nas pequenas ilhas como parceiros. Não dá para dizer que eles são agentes de viagem, porque cada vez que eles fazem o trajeto, uma experiência nova acontece. E quem os acompanha não é apenas um turista, mas sim mais um integrante daqueles vilarejos, daquela gente, mesmo que por pouco tempo.
Éramos um monte, umas 25 pessoas, todas num mesmo barco – um bangka gigante, uma espécie de embarcação-pássaro que plana sobres os oceanos do arquipélago filipino. Não nos conhecíamos. Fomos apresentados na noite anterior ao começo da expedição, no terraço da lojinha da empresa em Coron. De lá partiríamos em direção a El Nido, ziguezagueando sem rota definida por entre as centenas de fragmentos de terra no norte da ilha mais bonita do mundo. Sem rota?, eu perguntei. That’s right, my friend, um membro da tripulação – um kuya – me respondeu no seu sotaque pinoy. Seguimos para onde os ventos, o sol e o mar nos levar. Brindamos com um drink tropical à aventura e seguimos para o nosso hotel.
Na manhã seguinte o barco esperava ancorado no porto. Todo azul e branco, feito inteiro de madeira, com um deque superior para avistar terra. Zarpamos e logo percebemos que os anúncios estampados no site da empresa – clichês como “explore o paraíso”, “aproveite as coisas simples na vida” e “desconecte-se do mundo moderno” – faziam jus ao que viveríamos pelos 4 dias seguintes. Naquela região do mundo, o horizonte é de fato repleto de pequenos ilhéus, oásis distribuídos por uma imensidão sossegada de água turquesa.
As virgens curvas das ilhotas verdes perdidas no azul filipino nos remetiam à abundância natural deste planeta que frequentemente despercebemos. Está presente na vida sob as cristas das ondas, a cada vez que mergulhávamos naquele oceano transparente. Está nas areias brancas das infinitas ilhas que nenhum ser humano ainda habita, onde diariamente atracávamos para comer ou dormir. Acima de tudo, está na simples mudança de hábitos diários: bastou deixar para trás nossos conceitos de conforto para entendermos a diferença entre o necessário e o excesso. Afinal não era uma coincidência que o nome daquela aventura – tao – fosse a palavra nativa para “gente”. Uma definição original do que realmente somos, uma revelação em relance do nosso estado primitivo. A experiência é efêmera, porém preciosa, pois releva a nós mesmos o que poucos de nós conhecemos: nossa própria natureza.
Quem viaja pelas Filipinas, ou até mesmo pelo Sudeste asiático, pode ter a oportunidade de participar de uma das expedições da Tao Philippines. Apesar da origem e do destino definidos, o roteiro da viagem constrói-se durante os dias no mar. A empresa tem base camps espalhados em dezenas de ilhas na região de Palawan, locais onde encontramos abrigos todas as noites. As cabanas de palha, banheiros improvisados no meio do mato, tochas e telas de mosquito à noite acabam sempre resultando em um cenário meio Lagoa Azul, o que contribui ainda mais para a experiência.
A tripulação de 6 ou 7 rapazes locais, quase todos crescidos nos conveses dos bangkas, são a essência do povo filipino: exuberantes em sua alegria de viver. Durante todos os dias, eles mantêm o barco, pescam e cozinham toda a comida (que é também surpreendentemente abundante) e transportam todo o material do acampamento. Fora isso, são também parte do nosso grupo de exploradores. Uma das noites geralmente é passada na Tao Farm, uma espécie de chácara que abriga uma população local, cuja subsistência depende desse lugar. Ali, os fundadores e membros da Tao Philippines construíram uma estrutura comunitária inteiramente autossustentável, onde as casas habitadas, o alimento produzido e a energia gerada provêm todos daquela mesma terra. Neste acampamento central, viajantes de todo o mundo aprendem com os filipinos a importância da preservação daquele ambiente paradisíaco, onde o turismo em massa ainda não chegou.
Para participar de uma das viagens da Tao Philippines é preciso candidatar-se pelo seu site. O pacote incluindo os dias de barco, acampamento, equipamento de snorkel e toda alimentação (as bebidas alcoólicas são compradas a parte, na noite em que todo o grupo se conhece) custa PHP26,000 por pessoa (por volta de US$500 ou R$1,800, em dezembro de 2016). Existe também a possibilidade de fechar um barco privado, mas mais recomendável é a excursão de 5 dias/4 noites em grupo – Open Group Tao Experience. Evite o período chuvoso de junho a setembro. As expedições saem de El Nido em direção a Coron ou vice-versa. Existem voos diárias de Manila a Coron e de Manila a Puerto Princesa (aprox. 5-6h de van até El Nido). O site da Tao oferece todas as informações possíveis sobre a excursão, incluindo um honesto aviso de que esta experiência não é para todo mundo, já que a única garantia da viagem é a sua imprevisibilidade. Mas se essa é a sua definição de holiday, como diz o site, a Tao é o lugar certo!
* Todas as fotos são acervo do autor.
O carioca Gabriel gosta de viajar sem pressa. É daqueles que ao invés de planejar seu itinerário prefere ler tudo o que acha sobre o seu próximo destino e que depois da volta adora curar as lembranças das suas expedições em fotografias e textos. Odeia turbulência e paus-de-selfie. Escreve também no Caderno do Desassossego.
Ver todos os postsOla!!!
Saindo de coron, o destino final será el nido? e as bagagens que ficam no escritório? Eles levam pra El nido?
Oi Neto, não sabemos respondê-lo. O Gabriel, que escreveu o texto, foi um colaborador eventual aqui no site.
Olá, Gabriel! Tudo bem? Eu e meu namorado estamos planejando ir agora em dezembro, com o barco saindo no dia 16/12. Qual época você foi? Pegou dias ruins? Estamos preocupados, pois vimos que talvez não seja a época ideal.
Vale a pena mesmo a experiência? Obrigada desde ja! Abraços
Olá! Estive lá em janeiro e atrasei a viagem por 2 dias devido a passagem de um tufão que fechou o mar. Aí várias coisas que havia programado em Coron foram canceladas. Mas foi algo pontual, depois da passagem desse tufão os dias ficaram lindos de novo!
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.