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Por dentro do Sesc 24 de Maio

Quem escreveu

Renato Salles

Data

25 de August, 2017

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Apresentado por

No último dia 19, foi inaugurada finalmente a nova unidade do Sesc, na Rua 24 de Maio, em pelo Centro de São Paulo. Foi uma espera longa – o prédio foi adquirido em 2001, e as obras começaram em 2009 – e via-se que a expectativa era grande pela multidão que visitou o prédio no primeiro fim-de-semana. Como não poderia deixar de ser, a instituição armou uma grande festa pública para comemorar a abertura, e ficou difícil circular pelos 13 andares da construção. Passado o frisson, o Sesc 24 de Maio já começou a vida normal com tudo, e pelo visto ele vai ter um papel bem importante na vida daquela região, que andava meio esquecida.

Os últimos anos trouxeram um sopro de vitalidade para o Centro de São Paulo que não se via há décadas. A República se viu transformada em polo gastronômico, o entorno da Praça da Sé recebeu várias novas galerias de arte, e o fantasma da gentrificação já está batendo à porta. Mas o bloco de ruas e calçadões entre a Praça da República e o Teatro Municipal, que já teve seus dias de glória como elegante centro de compras, não parece ter acompanhado essa onda de renovação. A Galeria do Rock é um dos pouquíssimos prédios por ali que se mantém com dignidade. O resto permanece em latente estado de ‘conservação e abandono’, sem expectativa de salvação. O Sesc 24 de Maio pode ser o catalisador de uma mudança radical.

Do Sesc 24 de Maio dá para ver o Banespão, o Terraço Itália e a Galeria do Rock - foto: Jo Machado
Do Sesc 24 de Maio dá para ver o Banespão, o Terraço Itália e a Galeria do Rock – foto: Jo Machado

O projeto do Sesc 24 de Maio ficou a cargo do mestre Paulo Mendes da Rocha, que provou que continua com bola toda do alto de seus 88 anos. Ele, junto com seus parceiros do MMBB Arquitetos, mudou completamente a lógica do antigo edifício da Mesbla, tornando-o um ponto de passagem e convivência para a população. O próprio térreo, durante o dia com os portões levantados, se abre para as ruas numa transversal desimpedida, cortando a circulação da esquina da 24 de Maio com a Dom José de Barros pelo meio da quadra. É o primeiro convite que prédio faz a quem passa por lá.

O segundo convite é feito pelas quase 30 rampas que fazem a ligação de todos os andares. Encostadas em um canto do terreno, elas vencem os diversos pés direitos com suavidade, banhadas pela luz da pele de vidro adjacente. Vencer todo esse desnível sem um degrau de escada sequer, acompanhando a transição de usos, vira uma atividade agradável.

Toda a circulação vertical é feita por rampas e elevadores - foto: Renato Salles
Toda a circulação vertical é feita por rampas e elevadores – foto: Renato Salles

E tem ainda um terceiro convite proposto pelo projeto, que é o de olhar para a cidade, em todo seu caos e sua poesia. A construção existente tinha uma planta em U, deixando o vão central livre para deixar a iluminação natural entrar. O projeto Sesc 24 de Maio inverte essa lógica, e seu miolo foi preenchido por quatro enormes colunas redondas de concreto que vão do subsolo até a cobertura. Com essa solução, os arquitetos conseguiram não só dar suporte para a enorme piscina do topo, como preencher esse vazio central com lajes desencontradas, permitindo ampla variação dos pés direitos. Dessa forma, o miolo passou a concentrar todas as atividades dos andares, e o perímetro do prédio foi todo deixado para circulação e, consequentemente, para abrir-se para o entorno. Seja sentado para almoçar na Comedoria do 3º andar, na sala de leitura da biblioteca do 4º, na brinquedoteca do 9º ou até se trocando no vestiário do 12º, o que se vê a todo tempo são os prédios em volta, feios em sua deterioração, mais bonitos em sua história e resiliência. A própria fachada do edifício não nega e não tenta brigar com seus vizinhos. As empenas envidraçadas desaparecem no reflexo dos prédios ao redor, num esforço de fazer parte daquele contexto tão complexo.

O terraço do 11º andar - foto: Jo Machado
O terraço do 11º andar – foto: Jo Machado

Dentro dessa lógica, cada andar recebeu uma função, abarcando um programa bem variado. O espaço destinado a clínicas de odontologia (7º) fica logo abaixo do grande vão destinado a esportes (8º) de mais de 5m de altura, com parede de escalada e camas elásticas. O 5º pavimento é um vão livre para exposições, que pode ser dividido e redividido, de acordo com as mostras que receber. E dentro de todas essas funções, dois andares inteiros foram deixados para funcionarem como verdadeiras praças elevadas. O 3º tem um espaço de convivência mais integrado com a cidade, com bancos, poltronas e mesas, e no 11º parece um simulacro de jardim tem espelhos d’água, uma cafeteria, uma abertura zenital para o meio da piscina, e uma bela vista do skyline da cidade.

O ginásio de esportes, no meio do prédio - foto: Renato Salles
O ginásio de esportes, no meio do prédio – foto: Renato Salles
Parede de escalada - foto: Renato Salles
Parede de escalada – foto: Renato Salles
A clarabóia sai no meio da piscina - foto: Renato Salles
A clarabóia sai no meio da piscina – foto: Renato Salles

O projeto de arquitetura ainda foi muito feliz em evidenciar as modificações pelas quais a construção. Enquanto a estrutura nova, com a assinatura brutalista do Paulo Mendes, é mantida toda em concreto aparente, a parte remanescente do prédio antigo é pintado, ora em branco, ora em cinza. Só alguns poucos pontos estratégicos receberam um rosa colonial que, segundo o arquiteto, é inspirado no casario colonial da cidade. O resto das cores, diz ele, deve vir das pessoas que visitam o prédio.

Na biblioteca, além do mobiliário exclusivo, ainda tem algumas poltronas Paulistano - foto: Renato Salles
Na biblioteca, além do mobiliário exclusivo, ainda tem algumas poltronas Paulistano – foto: Renato Salles
O entorno faz parte da ambientação - foto: Renato Salles
O entorno faz parte da ambientação – foto: Renato Salles

Mas nem tudo é só cinza. O mobiliário do Sesc 24 de Maio foi todo desenhado também por Paulo Mendes. Os bancos, cadeiras e poltronas espalhados por todos os andares são feitos por chapas metálicas curvadas e pintadas em tons não óbvios de azul, amarelo, verde e vermelho. Esse mobiliário exclusivo humaniza todo o concreto. Mas na minha opinião deixou a Comedoria ainda um pouco fria, se comparada a outras unidades. A única coisa que alegra um pouco o espaço das refeições é o grande painel ‘Inventário’ da artista Regina Silveira.

A Comedoria no 3º andar, com o painel da Regina Silveira - foto: Renato Salles
A Comedoria no 3º andar, com o painel da Regina Silveira – foto: Renato Salles
A fachada funciona como um espelho dos prédios em volta - foto: Renato Salles
A fachada funciona como um espelho dos prédios em volta – foto: Renato Salles

A estratégia da instituição para que o Sesc 24 de Maio participe do cotidiano e exerça sua influência na revitalização da região está também na programação. Além de todas as atividades corriqueiras, que atraem multidões (vide as filas na hora do almoço), a instituição diversificou a programação para que ela movimente a área antes, durante e depois do horário comercial. Já nessa primeira semana estão rolando shows de samba e chorinho na hora do almoço no teatro, que fica no subsolo. Nem preciso dizer que shows maiores, como as três apresentações da Zelia Duncan logo na primeira semana tiveram os ingressos esgotados nos primeiros minutos de venda.

O teatro no subsolo - foto: Renato Salles
O teatro no subsolo – foto: Renato Salles

Mas não desanime. A programação do Sesc 24 de Maio está a todo vapor, e tem atividades para todo mundo. E se comprar ingresso for um problema, o andar de exposições está com a mostra gratuita ‘São Paulo não é uma Cidade’, que reúne obras e documentos de mais de 150 autores, tentando fazer uma leitura da cidade de São Paulo em toda sua polifonia. Fora que só de visitar o prédio, você já vai fazer um belo passeio.

Exposição no 5º andar - foto: Jo Machado
Exposição no 5º andar – foto: Jo Machado

Vida longa ao Sesc 24 de Maio!
*Foto do destaque: Piscina do Sesc 24 de Maio, com o Terraço Itália ao fundo – Jo Machado

Quem escreveu

Renato Salles

Data

25 de August, 2017

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Apresentado por

Renato Salles

Para o Renato, em qualquer boa viagem você tem que escolher bem as companhias e os mapas. Excelente arrumador de malas, ele vira um halterofilista na volta de todas as suas viagens, pois acha sempre cabe mais algum souvenir. Gosta de guardar como lembrança de cada lugar vídeos, coisas para pendurar nas paredes e histórias de perrengues. Em situações de estresse, sua recomendação é sempre tomar uma cerveja antes de tomar uma decisão importante. Afinal, nada melhor que um bom bar para conhecer a cultura de um lugar.

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Comentários

  • Maravilhoso Sesc 24 de maio, porém peca no meio organizacional e distribuição de seu buffet no horário de almoço, comida deliciosa a um preço também acessível a todos mais a demora é grande demais eu e o pessoal do trabalho já tentamos por diversas vezes e acabamos desistindo senão iríamos chegar atrasados no retorno do almoço, espaço curto demais e um aglomerado de pessoas, deve-se pensar melhor sobre este assunto e melhorar este sistema tanto que se demora muito para montar seu prato e quando sai do miolo do gargalo as mesas de refeições estão em sua maioria vazias, devem melhorar neste sentido por favor

    - meire
    • Meire,
      Infelizmente as opções para comer bem e barato são poucas, e por isso a Comedoria do Sesc vive lotada. A mesma coisa acontece no Sesc Pinheiros, no Santana e provavelmente em outros. Como a comida é boa, a demanda é alta.
      Mas eu recomendo que você escreva para o próprio Sesc 24 oferecendo alguma sugestão. Nós não temos capacidade de interferir no trabalho deles.
      Obrigado pelo comentário! ;-)

      - Renato Salles
  • Muito bommmmm

    - Luciene
  • Eu tive o prazer de conhecer o sesc 24 de maio fiquei encantada lindo demais amei

    - LUCIANA Rago
  • […] SP24hrs mostrou o Sesc 24 de Maio (centro melhor em […]

    - Resumo da Semana 10: AAAAHHHH - BEDA #27 - APTO 401APTO 401
  • Realmente, essa unidade é uma ótima novidade! O Sesc é a prova de que as coisas podem funcionar bem.
    O único desalento é o de o Sesc não permitir associados fora do “eixo comerciário”. Às vezes alguém mora perto de uma unidade e não pode usufruir de todos os seus serviços. E, é nítido, outras categorias não têm a mesma qualidade no atendimento de serviços e cultura de seus filiados.
    Concordo que a Comedoria está um pouco fria. Diferente de outras do Sesc, que dá vontade de ficar um pouquinho mais, essa nos convida à retirada logo que se acaba a refeição. Parece um escritório.
    De toda forma é um ótimo Sesc. Vai trazer um respiro para o centro.

    - Raul

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