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Os clássicos da cena alternativa de SP que deixaram saudade

Quem escreveu

Renato Salles

Data

11 de July, 2017

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Apresentado por

Em menos de um mês, a cena alternativa de São Paulo levou dois revezes duros. No fim de junho, os sócios da Funhouse anunciaram pelo Facebook da casa o fim das atividades, e em seguida o calendário com as últimas festas (ainda dá para curtir até o fim de julho). A casinha da Bela Cintra era, desde 2002, um reduto indie que viu o nascimento, a ascensão e queda do Baixo Augusta, e que, reza a lenda, ajudou muita gente a transar.

O inferninho da Funhouse - foto: divulgação
O inferninho da Funhouse – foto: divulgação

Nesse fim de semana veio o golpe de misericórdia. A prefeitura de São Paulo, em uma investida um tanto suspeita, mandou lacrar o sobradinho do número 916 da Rua Frei Caneca, alegando problemas de acústica. A Lôca, que funcionou no mesmo lugar por quase 23 anos, mesmo tendo outros tantos problemas de salubridade e segurança, nunca teve problemas. Agora ela entra para o rol de clássicos do passado, de uma hora para a outra, deixando um legado de festas, bafos e ativismo.
André Pomba tocando para a pista lotada d'A Loca
André Pomba tocando para a pista lotada d’A Loca

C’est la vie! – diz o ditado. As coisas vem e vão, e São Paulo não é uma cidadezinha qualquer para se abater. Como sempre, grandes casas e festas acabam, e atrás delas sempre vem muita novidade. É justamente esse dinamismo que faz da Pauliceia um dos lugares mais fervidos do Hemisfério Sul, quiçá do mundo todo. Pensando nisso, eu que já gastei muita sola de sapato na pista pela vida, listei alguns dos lugares que mais fizeram a história da cena alternativa da cidade. Assim a gente percebe como tanta coisa bacana acabou, com outras tantas vindo em seguida, e o luto passa mais rápido, né?

Aeroanta

O palco do Aeroanta já recebu até o Buzzcocks
O palco do Aeroanta já recebeu até o Buzzcocks

O Largo da Batata já teve (muitos) dias não tão gloriosos como hoje. Desde os anos 80, aquela área esteve sempre massacrada por obras e ônibus, numa poluição horrorosa e uma boa dose de perigo. Só se aventuravam por ali à noite os frequentadores dos muitos rastapés, e os roqueiros de todas as tribos que queriam ver seus ídolos bem de perto. Trazer bandas gringas era missão quase impossível em tempos de cruzeiros e cruzados, então eram os artistas nacionais que mais agitavam aquele palco. Cazuza, Cássia Eller, Chico Science, Tim Maia, Ed Motta, Raimundos, The Falla, Fellini, Mercenárias , Garage Fuzz e Ira! são alguns deles. Diz que era o clube predileto do Nick Cave em São Paulo, que foi visto no meio da platéia. O auge da casa foi nos anos 90, chegando até a ter filiais no Paraná. Mas acabou engolido pela obra de expansão da Av. Faria Lima em 1996. Hoje o endereço mudou, mas a casa se manteve, e virou o bar Z Carniceria nas mãos do Facundo Guerra. Depois do Aeroanta, as casas de show de pequeno porte que apareceram foram muitas, como o Studio SP, o CB e Cine Joia, o único que ainda existe.

CB Bar

Os flyers do CB eram verdadeiras obras de arte
Os flyers do CB eram verdadeiras obras de arte

Falando nele, não daria para deixar de fora um dos melhores bares de rock dos anos 2000, em plena efervescência do indie. O visual Ramones voltava com tudo, e as lojas da Galeria do Rock estavam com falta de All Star por conta do frequentadores do CB. Foi também quando surgiu o verbo ‘atacar de DJ’, já que todo mundo com um gravador de CDs e uma boa playlist podia virar DJ na festa dos amigos. Sem técnica nenhuma, mas a diversão era garantida. Fora que a balada virou um dos melhores lugares para saber quais eram as novidades musicais da semana nos sites de download como Hype Machine. Eles também foram pioneiros em desbravar uma área da cidade ainda pouco explorada, perto da linha do trem entre os Campos Elíseos e a Barra Funda. Foi nessa época que pipocaram os bares de rock pela cidade, como Milo Garage, Astronete, Sarajevo e Berlin.

Massivo

A famosa gaiola do Massivo, que tem muita história para contar - foto: Instagram -clubbers_anos90
A famosa gaiola do Massivo, que tem muita história para contar – foto: Instagram – @clubbers_anos90

Redutos gays sempre existiram (desde a Roma Antiga) em São Paulo, mas ficavam concentrados em guetos, como os arredores do Arouche. O Massivo foi a primeira casa abertamente GLS – era assim ainda a sigla – no meio de um bairro ‘careta’, os Jardins. As festas eram sempre embaladas pelo dono e DJ Mario Borges, que era como um imperador da pista por ali. As histórias e boatos do que acontecia lá dentro eram tantas, que o Massivo logo atraiu artistas, celebridades, héteros cool e muitos curiosos. Talvez tenha sido um dos primeiros clubes a misturar de tudo um pouco, sem preconceitos. A fama acabou por trazer muitas filas para a Alameda Jaú, e ainda criou um reduto gay-moderninho que fechava a Rua da Consolação e as transversais. Naquele quadrilátero surgiram o Ultralounge, a SoGo, o Allegro, o Atari, o Pitomba e o Director’s Gourmet, o mais resistente e outra grande perda recente da balada paulistana. Mais de uma década depois, os gays abandonaram a noite dos Jardins e o bairro encaretou de novo.

Hell’s Club

Foto da Claudia Guimarães para o post da Camila Yahn sobre o Hell's Club
Foto da Claudia Guimarães para o post da Camila Yahn sobre o Hell’s Club

Não era propriamente um lugar, mas uma festa que invadia o Columbia quando a playboyzada cansava e ia para casa, lá pelas 4h da manhã de sábado. O Hell’s Club foi um dos primeiros afters da cidade, e foi a eclosão de um mundo clubber. Quem viveu essa época, com certeza, tem alguma foto estranha com cabelo colorido, roupas de plástico e alguns piercings espalhados pelo corpo. O Pil Marques trouxe a ideia da festa da Europa, e foi lá que ficaram conhecidos alguns dos maiores DJs brasileiros, como Mau Mau, Renato Cohen, Renato Lopes, Camilo Rocha e Marky. Foi também a porta de entrada para DJs gringos como Laurent Garnier. O techno acabava de aterrissar no Brasil, e ainda era coisa de alien ou de drogados psicodélicos. A cena clubber cresceu exponencialmente, e logo vieram as casas dedicadas à música eletrônica, como a Base, o Lov.e, a U Turn, e as muitas raves. O Hell’s Club ainda teve uma segunda temporada já nos anos 2000 no finado Vegas, com outra pegada, mas a mesma animação. E os afters vieram com tudo, tornando São Paulo uma cidade realmente 24 horas.

Vegas

O balcão em S e a escadinha para a pista de baixo do Vegas - foto: Ronaldo Franco/Divulgação.
O balcão em S e a escadinha para a pista de baixo do Vegas – foto: Ronaldo Franco/Divulgação.

Acho que ninguém sabia direito o que ia acontecer quando o Facundo alugou um galpão esquecido no meio dos puteiros da Rua Augusta, e resolveu colocar lá um clube que chique no meio da boca do lixo. Mas foi uma história que deu tão certo, que acabou engolida pelo próprio sucesso. O Vegas conseguia juntar gente de todas as tribos nas noites mais variadas possíveis. Tinha roqueiro, indie, rockabilly, bicha, playboy, raver, puta, e uns velhinhos que batiam cartão na pista. Foi ali, naquele cassino colorido, que surgiu o Baixo Augusta como instituição, que revolucionou a noite paulistana dos anos 2000. Aquele estilo de casa, que misturava todo mundo, com programação variada, e com decoração de primeira, virou a regra, e logo vieram o Glória, o Secreto, a Clash, a Hot Hot, o Lions, e outros. Aquela parte do Centro da Augusta não seria o que é se não fosse o Vegas. Tanto que a área, que estava degradada e barata, acabou ficando cara demais para o clube, que fechou em 2012.
Claro que esses são só alguns dos lugares que marcaram época, como tantos outros. Se você tem algum lugar do coração que não falei aqui, conta nos comentários do que você tem saudade.
*Foto do destaque: Funhouse por Marcos Bacon

Quem escreveu

Renato Salles

Data

11 de July, 2017

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Apresentado por

Renato Salles

Para o Renato, em qualquer boa viagem você tem que escolher bem as companhias e os mapas. Excelente arrumador de malas, ele vira um halterofilista na volta de todas as suas viagens, pois acha sempre cabe mais algum souvenir. Gosta de guardar como lembrança de cada lugar vídeos, coisas para pendurar nas paredes e histórias de perrengues. Em situações de estresse, sua recomendação é sempre tomar uma cerveja antes de tomar uma decisão importante. Afinal, nada melhor que um bom bar para conhecer a cultura de um lugar.

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Comentários

  • faltou falar do Astronete. R.I.P :(

    - Cuca Couto
    • Dá mais uma lida, Cuca. Ele está lá sim! ;-)

      - Renato Salles
  • Wow. Excelente. Alguns lugares bem lembrados nos comentarios tambem.
    Faz um bocado de tempo que deixei Sao Paulo e estarei fazendo um retorno inesperado, embora breve, em alguns meses. Quais lugares voce recomendaria hoje em dia?
    Valeu!

    - Tadgh
    • Tadgh,
      Hoje acho que o que tem de mais bacana na noite de SP são as festas em galpões desativados, como a Mamba Negra, a Capslock, e outras. Se quiser saber o que fazer quando vier para SP, dá uma olhada no guia semanal de fim de semana que publicamos no Chicken or Pasta: https://chickenorpasta.com.br/canais/faces-na-rua

      - Renato Salles
      • Opa, muito obrigado!

        - Tadgh
  • Hoje em dia sim, tem muito toca o play! Antigamente eram raros os djs e quem tocava na época tinha cursos e era uma fortuna pra se especializar. Mas o mais importante disso tudo é entender o que está tocando e ter feeling!

    - Vanessa Porto
  • Desculpe, o Hell’s Club não foi o precursor da cena eletrônica em São Paulo. Você deixou de falar da Nation e vários outros clubes, inclusive Madame Satã. O Hell’s surgiu em 1994/1995. O Nation é do final dos anos 80. Sra Kravitz também, antes de A Lôca, início dos anos 90. O próprio Columbia, mesmo juntando playboys e descolados, era um lugar de ótimas noites de música eletrônica, antes do Hell’s. E o Hell’s não foi o primeiro after de São Paulo. Antes do Hell’s o Rubinho Peterlongo já fazia um outro after que depois de uns meses foi substituído pelo Hell’s. No vídeo Technodream se pode ver uma das lendas da música eletrônica paulistana, Marquinhos MS, que era residente do Columbia e tinha como parceiro Renato Lopes. Tudo isso antes do Hell’s. http://bitsmag.com.br/bits-tv/musica-techno-realidade-virtual-e-timothy-leary-em-technodream.html

    - Beth Ferreira
    • A cena eletrônica paulistana começou na Zona Leste da cidade. Três casa se destacaram: Contramão, Toco e a Overnight.

      - Marcio
    • Beth, estou impressionado! Você realmente manja tudo da balada desde os áureos tempos dos anos 80! Eu infelizmente não tive essa sorte.
      Desculpe, que dei algumas informações um pouco distorcidas, que você corrigiu. Já alterei o texto para não causar confusão.
      Sobre a seleção de lugares que eu citei, não tinha nenhum intuito de negar a existência deles. Só escolhi alguns que foram emblemáticos para uma geração, e que causaram uma transformação na cena. Acho que o Hell’s marcou uma época e uma galera como poucas festas. Já ouvi falar muito da Nation, e daria um mindinho para poder ter vivido um pouco do que rolou lá.
      Muito obrigado pela tua colaboração. O mais legal de escrever por aqui é justamente trocar informações e conversar com quem nos lê.

      - Renato Salles
      • Obrigada pelo reply Renato. Eu na verdade quis desfazer esse “mito” de que o Hell’s é o primeiro after porque eu acompanho o trabalho do Rubinho Peterlongo (Trackers) desde aquela época. Ele trabalhava no Columbia e levou para a casa uma série de ideias novas. Ele e muitos outros como o Marquinhos MS tb, figuras muito importantes. Tiveram tb outros clubes menos conhecidos e outros mais para o lado industrial e EBM da música eletrônica, esses foram citados aqui nos comentários: Cais, Hoelish. O Hell’s marcou sim e foi antológico. Só não foi o primeiro after de SP e nem precursor da música eletrônica.

        - Beth Ferreira
  • A venda de drogas e bebidas para menores á céu abrto na Augusta está vencendo, simples assim. :-(

    - DJ Tonyy
  • Não tem “investida suspeita” nenhuma em fechar um lugar que funcionava literalmente há décadas sem alvará e condições de segurança! Exceto pelo ótimo projeto Grind, que já tinha saído de lá e claro que sem receber tudo que lhe era devido pela casa, só vão sentir falta da Loca quem ia lá prá se drogar e trepar sem camisinha no dark room. Deixa de hipocrisia e falsidade que tá feio…

    - DJ Tonyy
  • Dama Xock, Hoellisch, Carbono 14…

    - Edson Pele
    • Edson, eu não conhecia o Dama Xock até fazer uma pesquisona sobre o Aeroanta, que eu já tinha guardado bem no fundo da memória. Parecia bem foda. Me conta mais sobre ele?

      - Renato Salles
  • Renato amei sua postagem!!!!!
    Pra mim fazem falta a dobradinha Cais-Hoellish que ocuparam o mesmo porao na Roosevelt. O Retrô, o Morcegovia, o Vitrola, o Matrix (mesmo dono do Cais e do Hoellish) e o Cave que era bem mais punk e ficava na Cardeal Arcoverde, nossa e tinha um bar na Vila chamado Ar Cênico que tinha uma pistinha do tamanho da Funhouse.
    Posso voltar no tempo???? Hoje em dia SP tem quase de tudo, para todos os gostos e todos os tipos, menos para quem curte rock.

    - Juliana Silveira
  • Renato amei seu postagem!!!!!
    Pra mim fazem falta a dobradinha Cais-Hoellish que ocuparam o mesmo porao na Roosevelt. O Retrô, o Morcegovia, o Vitrola, o Matrix (mesmo dono do Cais e do Hoellish) e o Cave que era bem mais punk e ficava na Cardeal Arcoverde, nossa e tinha um bar na Vila chamado Ar Cênico que tinha uma listinha do tamanho da Funhouse.
    Posso voltar no tempo???? Hoje em dia SP tem quase de tudo, para todos os gostos e todos os tipos, menos para quem curte rock.

    - Juliana Silveira
    • Juliana, eu também sinto muita falta de boas casas de rock em SP! Eu dava uma fugida para o Matrix de vez em quando. Até ele não resistiu.
      Pode voltar no tempo aqui se quiser, e me contar mais sobre todas essas casas q você mencionou. ;-)

      - Renato Salles
  • Outro local espaço retrô e torre do Dr. Zero

    - Rodrigo
    • A Torre foi um clássico mesmo. Não cheguei a ir no Retrô.

      - Renato Salles

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