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A quarta edição do SP NA RUA mais uma vez acampa no centro histórico de São Paulo, neste sábado, dia 28, com mais de 40 coletivos sonoros e audiovisuais em 12 horas de puro delírio. O evento é a grande estrela da programação do Mês da Cultura Independente, promovido pela Secretaria Municipal de Cultura. Não há, em nenhum lugar do mundo, um lance deste porte, que dure tanto tempo e tenha apoio do poder público. Sim, São Paulo ainda resiste.
A edição deste ano está mais compacta, com perímetro menor, porém mantendo os mesmos vinte pontos da edição do ano passado. A grande (e mais importante) diferença em relação a 2016 é a maior participação de coletivos que nunca haviam participado antes e da maior diversidade, seja estética, musical ou de gênero. Mais da metade dos coletivos é inédita no SP NA RUA ou nunca teve a chance de “botar seu bloco na rua”, somando forças com festas tradicionais e já estabelecidas na noite paulistana. Além disso, um oceano de DJs e atrações femininas e LGBTs, mostrando quão importante e significativa é essa participação no rolê.
A gente sabe que o grande barato do SP NA RUA é circular por todos os pontos, despido de qualquer tipo de preconceito e disposto a dançar sem parar, sempre tomando cuidados básicos no convívio social: não aceite bebidas de estranhos, respeite as diferenças, respeito aos moradores de rua, tomem cuidado com seus pertences e, em caso de necessidade, procure a organização, a GCM ou a Polícia Militar.
Não vai faltar chapa quente neste SP NA RUA. A música eletrônica em todos os seus estilos e desdobramentos ocupa vários pontos do centro, cobrindo do techno mais experimental até o house clássico, do barulho sintético até esquisitices anárquicas. Vai desde a junção maravilhosa da Metanol com a ODD (foto) na Praça do Patriarca, até o buraco sônico da Caldo com Festa Autônoma Temporária no CCBB. Descendo para o Anhangabaú, tem o estrondo da Batata Eletrônica com os DJs clássicos e maravilhosos da Cio, a doideira doida do combo Vampire Haus + Tesãozinho Inicial e a sonzeira nuclear do inusitado encontro do Dubstep Na Rua com o Trance de Rua. E não esqueça, beba muita água!
Já é uma tradição do SP NA RUA abraçar a cultura dos soundsystems, tão importantes e fundamentais nas festas de rua no mundo todo. Nascida na Jamaica, a arte da aparelhagem não é só empilhar caixas-acústicas, existe toda uma ciência e conhecimento por trás, para que o som fique com grave pesado e o eco seja cristalino. O resultado dessa combinação é aquele estofo no peito típico da música jamaicana, literalmente amplificando os efeitos do riddim, reggae roots, dub e dancehall saídos dos soundsystems. O Brasil é um dos países que melhor aprendeu como se faz essa mágica, a prova são os 4 pontos dedicados ao estilo, todos concentrados em pontos próximos à Praça da Sé. O grave das GF Posse, Reunion Of Dub, Feminine Hi-Fi com Sound Sisters e até o mais “eclético” Baquira Som Sistema + Penharol vão tremer as ruas do centrão!
Tem mulher comandando muitos coletivos e pick-ups nesta edição do SP NA RUA. Praticamente todos os pontos tem mulheres escaladas para tocar, da Flávia Durante na Latam até a BadSista na Bandida. Mas vale destacar o trampo de dois coletivos que tem manas cheias de talento metendo as caras, vencendo batalhas e que fazem bonito na noite da cidade, o Feminine Hi-Fi e a Mamba Negra. Os dois coletivos estão em espectros musicais opostos, porém próximos geograficamente e comandados por mulheres poderosíssimas. No lado da Mamba, Cashu e Laura Diaz são duas forças da natureza – como o vento e o fogo – e abriram caminho na base de muita rua, música boa e vontade de fazer. Já o Feminine Hi-Fi encara todos os perrengues num estilo que antes era estritamente dos meninos, o reggae/dub. Com uma coleção de discos invejável, elas tocam no vinil e sempre abrem espaço para novas DJs e seletoras que estão começando, puxando um monte de mulheres fodas junto com elas, como é o caso das estreantes Sounds Sisters (foto).
Talvez o Vale do Anhangabaú fique pequeno para tanta ferveção. A Batekoo chega maior do que nunca, carregando na bagagem dezenas de festas em praticamente todos os lugares de São Paulo no último ano e muito mais escolados no rolê. Somando forças com a delirante Animalia, tem tudo para lotar boa parte do espaço e transformar o Vale numa imensa e variada pista de dança. Logo ali do lado, subindo a escada em direção a Rua Líbero Badaró, no tal Mirante do Anhangabaú, tem a ebulição moderna, bonita e descolada do Coletivo Amen e Coletivo Sistema Negro, duas crews que prometem rachar o asfalto com música negra de todos os tipos e épocas. E ainda tem a Dûsk + dando no Largo do Café, a cereja do bolo queer no SP NA RUA.
É claro que também tem muita música brasileira e latina na parada. O mega encontro da Pilantragi com a Venga Venga, no cantinho do Anhangabaú perto dos Correios promete ser um dos pontos mais cheios, seja de público ou de good vibes. Um pouco mais para cima, na Avenida São João, tem a mistura brasileira da Rabo de Galo com a Bafafá e o retorno do Baile Soul Black, um dos coletivos mais antigos de São Paulo e que desde 2010 não colocava som na rua. Lá em cima, no Coreto da Bolsa de Valores, o enorme line-up conjunto do Boteco Pratododia + Patuá Discos, que certamente vai derramar muita música brasileira de todos os estilos e latinidades pelas ruas do centro velho, assim como o ponto da Feel Surreal e Festa Latam, que tem inclusive a Flávia Durante e a Cecília Yzarra no comando do mixer. Tudo certo para bailar sem parar!
O SP NA RUA 2017 rola neste sábado, a partir das 20h, no Centro Histórico de São Paulo. Gratuito.
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