Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Para falar sobre Gilli, preciso comentar sobre um seriado que você normalmente não tem idade para lembrar chamado “Ilha da Fantasia“. Eu mesma era apenas uma pequena piá na época das reprises na Rede Manchete. Mas conto: eram histórias de uma misteriosa e enigmática ilha no meio do Oceano Pacífico, onde as pessoas poderiam chegar e realizar qualquer uma de suas fantasias, por um preço. Insira aí os desejos mais sórdidos humanos, um anão de fraque branco e a proibição da minha mãe de assistir TV tarde: todos os elementos para que a pequena Vanessa passasse madrugadas adentro em frente à telinha.
Tive um imenso déjà_vu ao chegar em Gilli: a verdadeira ilha da fantasia. Na costa noroeste de Lombok, na Indonésia, aqueles coqueiros, águas cristalinas, bares estilosos, placas de madeira, balanços no mar, formam aquele cenário rústico, despretensioso e idílico que via na TV. As ilhas que ficam a uma hora de Bali são alvo de backpackers, expats assentados, comunidade criativa e fashionistas que se misturam de forma descontraída.
Fui parar lá de forma pouco tradicional: em um “primeiro encontro” gentilmente patrocinado pelo dating app mais famoso do mercado, na Tailândia, surgiu o papo: “Tem essa ilha na Indonésia que é ótima, quer ir?” Vamos. Uma noite, duas mochilas arrumadas, um avião e uma experiência de quase-morte em um barco infernal foram recompensadas por um cenário inusitado e paradisíaco.
As ilhas Gilli são formadas por 3 irmãs: Gilli Trawangan, Gilli Meno e Gilli Air. A maior e mais desenvolvida é a Gili Trawangan, famosa por ser uma party island: de dias um dos snorkles mais inacreditáveis da vida, e pela noite aquela interminável excursão que começa no primeiro bar e termina só no último da rua. Gilli Meno é a menorzinha e mais romântica, para quem busca escapismo. Gilli Air é uma combinação das duas – embora tenha restaurantes e hotéis, o clima é “tomar uma cerveja escutando um cara nativo incrível tocando Gravity do John Mayer em uma versão de deixar o pelo em pé”.
Nas ilhas Gilli, o transporte motorizado é proibido, o que dá um alívio gigante do trânsito de motocas de Bali. Em vez disso, o método oficial de ir de cá para lá é uma espécie de carroça com simpáticos cavalos. A outra opção é alugar uma bicicleta ou se render aos pés-que-deus-nos-deu, já que em duas horas é possível circundar a maior ilha inteira.
Como você não poderia esperar menos de uma boa ilha da fantasia, Gilli é conhecida pelos Magic Shrooms, cogumelos mágicos. Eles são mais comuns que cerveja. A tiazinha de setenta anos do seu hotel, muçulmana e coberta com lenço, vai perguntar se você quer junto com seu café da manhã. O bar da praia tem no cardápio ali entre a batata frita e o macarrão. As placas de madeira rústicas pintam propagandas tipo “mushroom shake: uma passagem de ida e volta para Lua”. Qualquer estabelecimento na ilha vende cogumelos.
Cada bar tem sua receita e rola uma competição tácita sobre quem faz o melhor shake dos fungos psico-ativos. O interessante é que um país tão estrito com drogas (sim, você pode ir para prisão por míseros gramas de maconha), cogumelos não são vistos com o mesmo rigor, nem pela sociedade nem pelos policiais. Um adolescente até contava que ele não podia pensar em provar cerveja porque apanharia do pai, mas cogumelos eram “de boa”.
(MÃE FAVOR PARAR DE LER AQUI. Vai ler esse post fofo que falamos de passeios em igrejas)
E porque quem está na chuva é para se molhar, é com grande carinho que lembro da fórmula secreta do Doctor D., que misturava os cogumelos com banana e coca-cola. Foi ela a responsável por uns dois dias jogando areia para o alto para ver cair, reconhecendo as sequências de Fibonacci na natureza e fugindo de gatos apocalípticos que secretamente tinham planos de dominação da ilha.
Turtle Point e o bar do Dr. D . Foto: Vanessa Mathias
Mas não é só de fantasias lisérgicas que vive a ilha. O snorkel no Turtle Point foi umas das coisas mais lindas que já vi – e colocou dezenas dos meus mergulhos com cilindro no chinelo. Várias tartarugas por lá sem dar muita bola para você, continuam seus caminhos tartugais. O paredão da Gilli Meno também é incrível: poucas rúpias e um certo desprendimento de necessidade de equipamentos esterilizados compram várias horas de diversão. Para completar a fofice do dia, tartaruguinhas bebês no centro de conservação.
O pôr do sol no view point é aclamado por turistas e locais, que param tudo durante uma hora todos os dias para apreciar o fenômeno tão comum e tão mágico.
Sim, porque apesar da religião oficial ser muçulmana, tenho quase certeza que os habitantes de Gilli praticam o deboísmo no seu dia a dia.
As ilhas são repletas hotéis e pousada com ótimos preços. Pelo preço de um hotel médio no Brasil você pode ficar em um com super conforto como o Aston Sunset Beach ou muitas villas privadas.
Mas se o budget estiver apertado, há zilhões de home stays ou pequenas pousadas, a maioria delas sem site ou reserva antecipada. Caso não seja no pico máximo (agosto), é possível chegar lá, dar uma volta e escolher a que você mais gosta.
O café da manhã do Kayu Café foi algo que viciei e comi todos os dias. Além do mais, é um dos poucos lugares com ar condicionado da ilha.
O Night Market é o lugar mais pitoresco e gostoso para comer um bom peixe. Você escolhe a pesca do dia e seu método de preparo favorito. Para passar o dia na praia com um pouco mais de conforto, o Pearl Beach Lounge deixa você ficar por lá consumindo mais de 100.000 rúpias (algo como 25 reais).
O bar da Casa Vintage tem pratos deliciosos e uma das vistas mais lindas de Gilli T.
Os famosos “barcos rápidos” são meio infernais: eles balançam, estão sempre lotados e a segurança é, no mínimo, questionável – mas é a forma mais popular de chegar lá. O principal porto é o de Padang Bai e os barcos saem no período da manhã entre 9:00 e 9:30h. Muita gente prefere passar a noite anterior em Kuta para não ter que acordar tão cedo em Bali. Os tickets são meio tabelados, e custam IDR 450.000 por trecho e IDR 700.000 ida e volta. A outra opção é um barco de Amed, que leva só 45 minutos em vez de 1,5 hora (se eu soubesse disso, teria preferido).
O ferry público de Lombok para Padang Bai parte a cada hora, mas é dolorosamente lento. Leva 5 horas e custa apenas 40.000 por trecho. Novamente: se eu soubesse o terror do barco rápido, provavelmente teria preferido o ferry (mas certamente seu período total de viagem vai demorar mais de 8 horas).
Agora se você estiver viajando em alto estilo, a Air Bali opera charters privados de helicóptero entre Bali e Gili Trawangan, que eles apropriadamente chamam de Gilicopter – que voa às sextas-feiras e domingos. O vôo de 45 minutos leva até 5 pessoas, dependendo do peso.
Apesar de Gilli não ser o paraíso das compras, vale citar a lindíssima Casa Vintage. Além deles ter uma seleção incrível de roupinhas, o bar deles é parada obrigatória para o pôr do sol. Há uma no “centro” e uma na praia (ok, são dez minutos andando entre uma e outra).
Se pudesse escolher de todo meu tempo na Indonésia, certamente Gilli foi a melhor surpresa. Se seu corpo pede dias em uma rede com sol garantido, é como atravessar uma fenda na dimensão do espaço-tempo, onde a vida faz muito mais sentido.
Seu exacerbado entusiasmo pela cultura, fauna e flora dos mais diversos locais, renderam no currículo, além de experiências incríveis, MUITAS dicas úteis adquiridas arduamente em visitas a embaixadas, hospitais, delegacias e atendimento em companhias aéreas. Nas horas vagas, estuda e atua com pesquisa de tendências e inovação para instituições e marcas.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.