Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
No alto de uma colina, onde nos tempos dos gauleses aconteciam cultos e cristãos eram torturados e mortos (por isso, o nome “monte dos mártires”), está a Basílica de Sacré-Coeur em estilo românico e bizantino – ponto de peregrinação de pessoas do mundo inteiro. Aqui um segredo só nosso: os parisienses não dão a menor bola para a igreja, d’accord? Mas as redondezas, o jardim e as escadarias que levam ao topo da igreja são um escândalo.
Das escadarias, se observa uma das mais belas vistas da cidade – algo realmente fantástico. Entre o sentar e o admirar a paisagem, acontece de tudo: shows diversos, vendedores ambulantes e pintores-caricaturistas. Não se satisfazendo em ser o teto de uma das cidades mais elegantes do planeta, Montmartre ainda reserva surpresas incríveis. Para descobrir, desça com cuidado as escadas laterais e se deixe envolver pelo charme do bairro.
Muito antes de Amelie Poulain, a mais agitada boemia andou por aquelas ruas. Era uma turma formada pelos maiores artistas franceses. No século XIX, os jardins, transformados em salão de baile, do edifício Moulin de La Gallette (hoje, um restaurante), tiveram como assíduos frequentadores Henri Toulouse-Lautrec, Pierre-Auguste Renoir e Vincent Van Gogh. A tela O Baile no Moulin de La Galette, de Renoir, atualmente no Museu D´Orsay, é completamente inspirada neste cabaré.
Toulouse-Lautrec era figurinha fácil no Boulevard de Clichy, em um dos cabarés mais famosos do pedaço: o Moulin Rouge. O pintor fez inúmeras telas, mostrando as cenas mais íntimas do cabaré. Além disso, Toulouse era responsável pelas gravuras e cartazes publicitários que promoviam os espetáculos do Moulin Rouge.
Já que estamos nesse cantinho do pecado, conhecido também como Pigalle, percorra as avenidas Clichy e Rochechouart e voilá … diversas lojas sensuais, sex shops tradicionais e casas que exibem filmes pornográficos surgirão no seu caminho.
Ainda nessa onda de seguir as pegadas dos artistas, na Rue Abrevoir está a Maison Rosé (hoje um café tipicamente parisiense), que fascinou o pintor Maurice Utrillo. Perto dali, o relógio do sol e a Maison Bel-Air – a casa mais antiga do bairro e residência de Renoir, Emile Bernard e Utrillo – atualmente a residência abriga o Museu de Montmartre.
Não foram somente os pintores pós-impressionistas que estiveram em Montmartre. Nos primeiros anos do século XX, na Praça Émile-Goudeau, se reuniu uma turminha de pintores recém-chegados a Paris: Pablo Picasso, Modigliani, Juan Gris, Brancusi e Braque. Todos tinham ateliês no Bateau Lavoir, edifício destruído por um incêndio em 1970, e hoje, reconstruído, servindo como casa e estúdio para artistas estrangeiros. Foi num destes antigos ateliês do Bateau Lavoir que Picasso pintou Les Demoiselles de Avignon, 1907, obra que abalou as estruturas da arte até então.
Depois de 1910, os artistas modernos migraram para Montparnasse, um bairro à margem esquerda do Rio Sena, que na época ainda tinha áreas rurais, terrenos descampados e aluguéis mais baratos. Nos anos 20, essa nova comunidade artística conheceu seu auge. Mas essa é outra história que a gente promete que conta depois.
No mais, o que vale mesmo é a graça das ruelas arborizadas e o mimo dos cafés de Montmartre. Entre eles, o Café Deux Moulins, localizado no número 15 da Rue Lepic, onde a personagem Amelie (do filme O fabuloso destino de Amelie Poulain, de Jean-Pierre Jeunet, 2001) trabalhava.
Toda a herança deixada por artistas nos seus recantos mais escondidos encanta o coração mais duro. Seguindo mais à frente, na Rue Abbesses, a glamurosa estação do metrô em estilo art nouveau acaba com qualquer resistência.
Agora, quer amolecer de vez? Siga para a Praça Jehan Rictus (o nome da praça é o pseudônimo do poeta Gabriel Randon, amigo de Paul Gauguin). Lá existe um muro com 311 “eu te amo” em diferentes idiomas – a obra chama-se Le Mur des Je t´Aime, de Fréderic Baron e Claire Kito, realizada em 2000.
Por último, te digo com todas as forças do meu ser: aventurar-se pelas ruas, cafés e ateliês do 18ème distrito (outro nome de Montmartre), é conhecer o verdadeiro espírito boêmio parisiense. Perca-se, descubra novos lugares, suba e desça escadarias e ladeiras. Você pode, sem mais nem menos, se deparar com o cenário que inspirou e continua inspirando os artistas mais famosos do mundo.
Foto destaque: Montmartre. Foto: Eduard Díaz i Puig (cc by-nc-nd 2.0).
Rata de galerias e museus, não perde a oportunidade de ir procurar aquela tela, escultura ou monumento famosos que todos só conhecem pelos livros.
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Oui, Montmartre est très chic!
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