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O Petí não é novo, já tem dois anos de cozinha. Mas quem não se embrenha pelos lados da Pompéia e Perdizes, provavelmente, está perdendo essa deliciosa comida que se esconde dentro de uma loja de produtos para os dedicados às belas artes. Entre tintas, cavaletes e pincéis, uma escadinha sai discretamente para um andar abaixo. Ao descê-la, mal esperamos que um moderno, pequeno e aconchegante restaurante ali se esconde.
A cozinha é concorrida. São 13h30 de uma segunda-feira e há apenas duas mesas disponíveis no restaurante entre os 42 disponíveis. Também pudera, o Petí acaba de ser incluído na lista Bib Gourmand, do Guia Michelin. O chef Victor Dimitrow é filho do dono da loja de artigos para pintura e desde criança é interessado na cozinha. Estudou Gastronomia na Anhembi Morumbi e depois foi se aventurar por cozinhas internacionais, como o Le Chateaubriand, em Paris, e no estrelado Patrick Guilbaud e no Camden Kitchen, ambos em Dublin. Em 2016, Dimitrow arrematou o prêmio de chef revelação pela Veja Beber & Comer.
Antes mesmo de saber de tudo isso, eu fui lá por indicação do Foursquare quando procurava um restaurante diferente para conhecer na região. Sentei-me bem em frente à cozinha e fascinada, assisti ao chef e (provavelmente) sua assistente preparar os elaborados e fotogênicos pratos. Tudo é delicado, bonito e com aquela cara de alta gastronomia contemporânea, mas percebe-se que a cozinha é, na verdade, descomplicada. Parte dos ingredientes é tirado dali mesmo da horta do Petí. A cozinha é baseada em produtos sazonais e a proposta é baseada num único cardápio com entrada, menu principal e sobremesa, que muda quinzenalmente. Os preços? Uma atração a parte numa cidade cara como São Paulo: R$ 43,50 o menu completo e R$ 39,50 o reduzido, que vem sem a sobremesa. O aviso? Não cometa o pecado. Mesmo eu que não sou grande fã de doces, quase abracei minha sobremesa.
Já na parte de bebidas, tem chás com gelo feito à base de frutas, cervejas artesanais, vinhos, sucos e drinques para os mais animados.
Antes mesmo de chegar a minha entrada, fui brindada com uma cestinha de pão caseiro acompanhada de uma pequena tábua com manteiga e flores de sal. Já se percebe que a apresentação da comida é sim uma das estrelas da casa. Enquanto ainda degusto meu pãozinho, a minha entrada chega. Escolhi a terrine de fígado, brioche caseira, compota de kinkan e catuaba. Que mistura. O gosto forte da terrine é acentuada com a compota de kinkan. Como devagar para não acabar logo. Quando acaba, disfarçadamente pego mais pãozinho na cestinha e limpo o prato com ele.
Os garçons são descolados e atendem as mesas sempre sorridentes. Quando meu chá de gengibre com gelo de tangerina chega, o garçom avisa: na bolacha tem uma poesia. E aí cai a ficha, o Petí é poesia sim. É poesia no espaço, é poesia na comida, é poesia no atendimento. Pelo menos para mim assim o foi.
Aguardo já ansiosamente pelo meu peixe, que vem servido num belo prato, acompanhado de pirão de leite, batata bolinha e azedinha, que suaviza com a banana grelhada. O prato não é grande, mas é na medida certa. Como vagarosamente para sentir cada pedacinho. Mesmo avessa à banana no prato, eu decido comê-la e o sabor dela misturado ao peixe e o pirão é dos deuses. Ao meu lado aterrissa um canelone de alho poró e eu quase me arrependo por ter escolhido o peixe, mas logo deixo essa ideia de lado.
Após uma pequena espera é a vez da sobremesa. Fico um pouco aflita, já que não sou uma pessoa muito fã de doces e deixar algo no prato por ali me parece um crime. O meu cremoso de chocolate com bolo de beterraba, chocolate branco e sorvete de iogurte é tão bonito que demoro para tocá-lo. E não resisto, nem mesmo o bolo de beterraba, legume do qual não sou fã, não sobra sequer sombra dele no prato.
A conta total? R$ 66,00 com um café para fechar. O pecado do Petí? Abrir apenas para o almoço, mas pelo menos ao sábado ele está lá à espera de quem não consegue ir para a Pompeia no meio da semana. Mas vá. A viagem, se for o caso para você, valerá a pena.
Restaurante Petí
Rua Cotoxó, 110 – Pompeia
De segunda a sábado, das 12 às 15h
R$ 40-45
*Foto: divulgação
Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.
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Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.