Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
De túmulo do samba a berço do rap brasileiro, de celeiro de novas cenas urbanas a caldeirão de influências vindas de todas as partes do país e do mundo. A relação de São Paulo com a música é intensa e atribulada, fervente e múltipla, como tudo que sai dessa cidade. Mas o que é a música de São Paulo hoje?
Tentando responder esta nada fácil pergunta, selecionamos seis representantes, alguns novos e outros nem tanto, que provam que a melhor tradução de São Paulo é a diversidade, seja de estilos, gêneros, formatos, sons, cores ou propostas. Uma pequena amostra de artistas e bandas que têm raízes aqui e que têm feito a cabeça de todo mundo que escuta. Liga o som!
Se o Rakta tivesse uma certidão de nascimento, o nome do pai seria a no wave paulistana dos anos 80 e a mãe seriam as Mercenárias. Esses dois pilares moldaram a formação musical da banda, que trilhou este caminho naturalmente, sem nenhuma pretensão de emular o som de seus “pais”. Surgida com um quarteto, hoje o Rakta não tem mais guitarrista e a bateria não é mais um instrumento extremamente importante, ainda que engorde o som da banda quando presente. O “rock eletrônico de bruxas” evoluiu muito, sendo hoje uma das bandas mais inventivas, originais e com a cara de São Paulo.
A Triz nem tem disco cheio ainda, mas já vem fazendo barulho na cena do hip-hop paulistano. Seu único registro oficial é o vídeo aí de cima, a intensa faixa “Elevação Mental”. A música, assim como o clipe, é um passeio por São Paulo, com seus contrastes, personagens, problemas e paisagens, retratando como é difícil estar à margem de uma sociedade que se recusa a aceitar as diferenças. Como o trabalho da rapper está só começando, esperamos que ainda saia muita coisa boa de sua lírica, flow e atitude.
Talvez o Aláfia seja a banda que melhor representa o caldeirão de estilos musicais que São Paulo tem. Fundindo o soul e o funk mundial com música de terreiro, pitadas de rap e muito afrobeat, a banda foi formada em 2011, meio na brincadeira, em jams nos clubes de jazz da cidade. Seis anos depois, acabam de lançar o excelente “SP Não É Sopa, Na Beirada Esquenta”, que segundo eles é a “trilha sonora para a megalópole, traz referências tradicionais em roupagens não convencionais que enfatizam elementos eletrônicos, com filtros e processamentos, construindo um som mais sujo e urbano, retratando sobre a vida nos vários bairros da cidade”. E também não deixe de conferir o disco de estreia de sua cantora, a maravilhosa Xenia França.
Pintando o cinza paulistano com as cores vívidas do psicodelismo sessentista, o trio O Terno está na ativa desde 2009, com muita estrada e três discos na bagagem. O som da banda tem influências claras do típico rock de São Paulo (lembra quando o Ira! e os Titãs eram legais?), acrescido de doses cavalares de Beatles e Beach Boys. Seu líder, Tim Bernardes, é um compositor talentosíssimo, com música no DNA – ele é filho de Maurício Pereira, eterno Mulheres Negras – e parceiro de composições com Tom Zé, David Byrne e Adriano Cintra (ex-Cansei de Ser Sexy), além de ter lançado um disco solo muito elogiado por público e crítica.
O Rimas & Melodias é composto por 7 mulheres poderosíssimas, negras, periféricas, com rap nas veias e cheias de atitude! Alçando voo no meio do território eminentemente masculino do hip-hop, elas se destacam pelo discurso afiado, onde temas como machismo e racismo são colocados na mira de tiro, um papo reto sem sair pela tangente. Transpirando o clima da selva de pedra por todos os poros, o Rimas & Melodias fala na cara de quem quer que for e retrata o cotidiano difícil das minas negras em São Paulo, seja na “paz no caos” da Zona Sul ou em qualquer quebrada.
Usando uma definição rasa, o E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante é uma banda de post-rock instrumental. Porém basta prestar um pouco mais de atenção ao som dos caras para revelar influências que vão do hardcore clássico do Fugazi até as experimentações cheia de groove do Can. Esse espírito frenético, que alterna momentos pesados com passagens oníricas, além de ser aberto a todo tipo de gênero musical, é típico de bandas nascidas em metrópoles com alta octanagem cultural, como é o caso de São Paulo. Experimente ouvir o último disco do EATNMPTD dando um rolê pela cidade e perceba o quanto a música se associa à paisagem.
Foto destaque: Divulgação
Tavapassando e cliquei. Danilo Cabral e Flavia Lacerda registram seu dia a dia e todos os lugares por onde estão passando, em um mini-guia de shows, restaurantes, ruas e pixos no Instagram.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.