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O que você precisa saber sobre Pokemon Go (você que nunca jogou e talvez nunca vá)

Quem escreveu

Renato Salles

Data

29 de July, 2016

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Se você vive em um lugar onde existem casas, prédios, ruas, e gente, existe uma chance muito grande de você ter ouvido falar nas últimas semanas sobre Pokémon Go. Mas se você vive no Brasil, e não é fã de games e do desenho japonês, as chances são grandes de que você não tenha ideia do que é o tal jogo de celular que está na boca do mundo. Eu sou desse time, e também sou daquele time que vive reclamando que não tem tempo para nada, então acho que as chances de eu começar a jogar Pokémon Go quando ele (finalmente) desembarcar por aqui são baixas.

Mas falando francamente, se um negocinho que as pessoas instalam no celular é capaz de causar uma histeria coletiva no Central Park, e jogar as ações de uma empresa mais de 70% lá para cima – mas calma que já começou a cair – não pode ser desprezado assim fácil. Não é? Eu, acho que como todo mundo, fiquei intrigado com o aplicativo, e fui dar uma pesquisada mais a fundo para descobrir uma coisa: afinal, que *insira-um-palavrão-aqui* esse jogo vai mudar na minha vida? Antes que você se revolte com os jogadores, te dou um spoiler: pode mudar muito! Quer ver?

Dizem que ajuda na socialização (foto: www.kotaku.com.au/author/alex-walker)
Dizem que ajuda na socialização (foto: www.kotaku.com.au/author/alex-walker)

O que é, o que come, como se reproduz?

Não tenho nem tempo de escrever o roteiro de um Globo Reporter inteiro, então vamos dar uma geral rapidinho para os menos escolados como eu. Tipo um curso madureira.

O Pokémon Go é um jogo que usa a tecnologia de realidade aumentada para funcionar. Isso quer dizer que ele insere uma camada digital ao mundo real. É diferente da realidade virtual, que é toda digital. Nesse jogo, os bichos aparecem no meio da tua rua, dentro do teu restaurante favorito, no aeroporto, no estádio, em qualquer lugar que realmente existe. A realidade aumentada está aí há muito tempo, mas até agora ninguém soube como fazer algo realmente interessante com ela. Até agora. É bem provável que surjam muitas coisas desse tipo em breve.

Em linhas gerais o jogo é assim: você procura em um mapa real do teu entorno onde ficam os monstrinhos (Pokémons). você vai até eles e joga uma bolinha (a PokéBall) que pode pegá-lo ou não. Mais ou menos como você faz com seu cachorro no parque. Ás vezes ele quer a bola, às vezes a poodle não-castrada da vizinha é mais interessante que você e a tua bola estúpida. Se o Pokémon gostar da tua bolinha, você pega ele para você. Senão, você tem que dar um jeito de jogar muitas bolinhas, ou de arranjar (ou comprar) bolas mais fortes, brilhantes e interessantes.  Tecnicamente, cada bola tem uma % de chance de capturar o Pokémon. Quanto mais forte ele, mais difícil de capturar, logo você é forçado a usar Pokéballs melhores. Em ordem crescente: Pokéball – Greatball – Ultraball – Masterball. E assim você vai andando o mundo e colecionando bichinhos de nomes estranhos. Com o tempo, eles vão sendo treinados e ganham mais força.

Os monstrinhos podem ser encontrados em qualquer lugar, mas existem ponto de interesse que podem ter, além deles, também coisas para ajudar na caçada. Mais bolas, poções, ovos, remédios… Esses são os PokéStops, que geralmente ficam em pontos importantes das cidades, como monumentos, praças, museus, etc. Fora isso, ainda existem os Ginásios. Neles, os Pokémons podem lutar entre si. Cada jogador escolhe um dos três times no jogo para representar: Valor, Mystic e Instinct. O objetivo é batalhar e manter o maior número de ginásios para seu time, numa espécie de competição global. O jogador considerado o melhor treinador de Pokémons de cada time o representa de forma global. Batalhar nos ginásios também dá Pokécoins e outros itens do jogo que normalmente você só consegue com dinheiro real. Diz-se ainda que vencedores ganham prestígio (que subjetivamente deve valer alguma coisa, não é possível).

Se você se interessou, e quer se aprofundar na arte do Pokémon, melhor recorrer a esse artigo. Os experts podem seguir ainda para esse. Eu paro por aqui porque a minha memória RAM cerebral já está reclamando.

Esse dia foi loco! (foto: www.flickr.com/sharynmorrow)
Esse dia foi loco! (foto: www.flickr.com/sharynmorrow)

Tcha-tchin, diz a máquina registradora!

Já deu para ver que a coisa é uma mina de verdinhas para a empresa desenvolvedora. O que não falta é dinheiro rolando, seja para quem está jogando ou para quem quer atrair os jogadores ávidos. O aplicativo é gratuito para baixar, então não foi o fato de quebrar o recorde de número de downloads em todas as lojas – 14 milhões em 4 dias – que deixou a Nintendo e a Niantic (ainda mais) ricas. Antes desse, a Niantic já tinha criado o Ingress, que é toda a base hoje do Pokémon Go. Ou seja que esse sucesso vem se delineando pelos últimos 20 anos. Mas agora, com esse frisson todo, as fontes de faturamento são inestimáveis.

Para começo de conversa, dentro do aplicativo existe uma loja. Lá, você e qualquer reles jogador pode gastar alguns poucos dólares para comprar bolinhas ou acessórios baratinhos. A grande sacada é que dificilmente você consegue avançar no jogo sem investir alguma coisa. E como em qualquer febre, já tem gente gastando a grana da comida das crianças em PokeBalls. Estima-se que só nos Estados Unidos, o jogo já ganhe em torno de US$1.6 milhões por dia nessas microtransações só com usuários de Iphones. Os ganhos já são 10 vezes maiores que os da febre do verão passado, o Candy Crush.

Em segundo lugar, e uma das mais óbvias formas de capitalizar um negócio, vem o patrocínio. Marcas interessadas logo poderão comprar o posto de PokéStop ou até de Ginásio, o que já oferece para eles muito destaque nos mapas do jogo. O pagamento vai ser do tipo custo-por-visita, então quanto mais gente você atrai, mais paga. Marcas do porte do McDonald’s já se interessaram pela brincadeira. Até instituições filantrópicas usaram artimanhas para atrair vistantes, como o Art Institute of Chicago, que divulgou pelo Twitter sua proximidade a vários PokéStops.

Acaboooooou! É tetraaaaaa! (Vídeo nada exagerado de divulgação)

Fora isso, muito sabiamente, o desenvolvedor criou a possibilidade de qualquer estabelecimento de menor porte pagar para trazer clientes para dentro. Pela própria lojinha do aplicativo, qualquer um pode comprar as iscas (lures), que aumentam muito a chance de surgimento de Pokémons nos arredores de onde são deixadas. Vários relatos de donos de bares e restaurantes mostram que o número de clientes sobe bastante enquanto as iscas estão agindo. Mas as formas de capitalizar para o comércio não param aí. Já tem muita gente desenvolvendo ações bem criativas para atrair os jogadores, seja distribuindo brindes, dando descontos para os times vencedores nos Ginásios, e até com ações de social media. E isso é só o começo.

Isso tudo porque ainda estamos na primeira fase do Pokémon Go, que logo vai começar a se expandir como a Bolha Assassina. O primeiro upgrade do jogo, o Pokémon Go Plus, que já foi anunciado para o fim do mês, é um dispositivo wearable que promete deixar o jogo ainda mais dinâmico, e custa módicos US$35. Vai vendo!

Você ainda vai querer um
Você ainda vai querer um

E o que eu ganho com isso?

Já deu para ver que esse simples joguinho é capaz de causar grandes transformações no nosso dia-a-dia. A verdade é que ele conseguiu mudar uma coisa muito importante no cotidiano de muita gente, que influencia diretamente em toda a cidade ao seu redor. Essa coisa é que as pessoas só conseguem jogar se elas andarem na rua. Você tem que ir fisicamente até o lugar onde as coisas estão acontecendo, então você tem que sair de casa, usar a cidade. Isso tem um valor inestimável na socialização, na criação de espaços públicos mais seguros, e na qualidade de vida das pessoas.

O Nexo, por exemplo, fez uma reportagem bem interessante, onde eles falam da história da realidade aumentada, e lista algumas as atividades que podem ser criadas as partir dela. Eles falam de coisas como o acesso a informações culturais e históricas de monumentos, edifícios e obras de arte in loco, a organização do transporte público, ou até a sobreposição do cinema ao tecido urbano.

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Puseram uma isca em um parque em Moscou e…. (foto: www.flickr.com/photos/trolleway)

Mas isso tudo ainda é especulação. Por enquanto, temos ações acontecendo de menor alcance, mas com impacto social bem importante. Olha só:

  • Existem muitos relatos de gente feliz e contente com o jogo, porque ele proporcionou a chance de conhecer melhor a cidade onde moram, de tirar fotos de momentos que antes passavam despercebidos, e até de gente que começou a se exercitar por conta dele.
  • O Pokémon Go pode ser bom para a saúde não só porque você começa a andar mais. Parece que tem gente falando que o jogo ajudou a elas na luta contra doenças psiquiátricas como depressão e ansiedade.
  • Em Michigan, um hospital também usou o jogo como estímulo para tirar crianças de seus leitos. Isso fez com que ficasse mais animadas e ainda começassem a socializar com outras crianças doentes.
  • O dono de um abrigo de animais em Indiana usou a animação das pessoas para andar, para lançar uma campanha para elas aproveitarem suas caminhadas para levar os bichinhos carentes para passear. Isso ajudou ainda a aumentar o número de famílias dispostas a adotar os bichinhos.
  • A ação mais forte até agora que eu vi foi o video de crianças refugiadas dos conflitos na Síria, que seguravam desenhos de Pokémons dizendo ‘Eu estou aqui, venha me salvar.’ Ela não apresenta uma solução efetiva do problema, mas levanta a conscientização da situação dessas crianças de forma muito impactante.

E eu não poderia deixar de mencionar as novas oportunidades de trabalho que surgem sempre que tem novidade no ar. O povo mais criativo está inventando as maiores maluquices para ganhar em cima dos jogadores ávidos. As ideias vão desde seguros contra acidentes para caçadores de Pokémons, até tours de ônibus e taxi para achar os monstros mais raros.

Se jogar não dirija (foto: Cyclonebiskit)
Se jogar não dirija (foto: Cyclonebiskit)

O lado negro da força Pokémon

Nem tudo são flores na vida dos inocentes jogadores armados apenas de um celular. Infelizmente os humanos são bichos ruins, e já acharam várias formas de macular a brincadeira.

Como o jogo consiste basicamente de andar por aí de olho na tela do telefone, claro que muita gente se distrai além da conta e se mete em situações realmente perigosas. As notícias de gente acidentada, seja por atropelamentos, ou até por cair em buracos e penhascos (??) aumenta a cada dia. E só estou falando de gente a pé. O horror com os motoristas começou logo nos primeiros dias do funcionamento do aplicativo. Teve até gente perdida em caverna. Mas a face sombria do Pokémon Go não demorou nem um mês para aparecer.

O Museu do Holocausto, em Washington, se tornou um Pokéstop, apesar da diretoria achar um tanto impróprio que as pessoas fiquem jogando com o celular em pleno memorial às vítimas do Nazismo. O aparecimento de um Koffing, um monstro que solta gás venenoso, por ali deu um toque ainda mais sinistro à brincadeira. Mesmo tendo atraído muita gente nova ao museu, a instituição está pedindo para ser excluída do jogo.

O caso mais sinistro aconteceu no Missouri, onde um grupo aproveitou o lugar remoto onde um Pokémon apareceu para assaltar os caçadores que apareciam por lá. O mais bizarro foi o de uma menina de Wyoming que, ao procurar monstros, encontrou um cadáver.

Problemas também tem causado mau-estar com pessoas comuns. Um americano que mora em uma antiga igreja teve sua residência identificada como um espaço público, e por isso tornada em Ginásio. Imagina só a quantidade de gente batendo na porta dele sem cerimônia nenhuma? Claro que esse não é um caso isolado, e já tem muita confusão acontecendo com não-jogadores.

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O aplicativo também não está imune a críticas. A maior e mais alardeada delas se baseia em uma teoria de conspiração que envolve um projeto de espionagem arquitetado pela CIA! Não tenho nenhuma capacidade de avaliar a veracidade dessas informações, mas só isso já renderia um bom filme. E quem também não perdeu tempo para começar a atacar o jogo foi o PETA. Para a instituição, o conceito dos Pokémons é um incentivador da crueldade contra animais, colocados para lutar uns contra os outros.

To go or not to go?

Já está anunciado, o Pokémon Go liga seus motores por aqui dia 31. E a expectativa é grande. Os brasileiros são conhecidos por serem consumidores ávidos de novidades digitais, e tudo indica que essa não vai ser nada diferente. O bom de estarmos atrasados na brincadeira é que temos um pouco de tempo para avaliar os prós e contras da história, e quem sabe usar com um pouco mais de segurança e parcimônia. Não que essas sejam características comuns por aqui, mas nunca é demais esperar pelo melhor.

Eu com certeza não vou entrar na roda (muito velho, muito preguiçoso, pode escolher a desculpa de sua preferência), mas sei que vou conviver com muita gente que vai. O que estou animado é para ver como esses bichinhos vão mudar a nossa relação com a rua. Em tempos de colapso da segurança pública que temos assistido diariamente no jornal, espero que os Pokémons consigam trazer gente para defender nosso direito de ir e vir (e caçar) felizes.

E você, que está contando os segundos para o grande dia: por favor, não vire essa pessoa. Nem essa. E cuidado para não se tornar o Mr. Bean quando ligar o aplicativo pela primeira vez.

Esse post contou com a colaboração do expert nos paranauês Epa Neto. Quem quiser uma consultoria de Pokémon, pode falar com ele que ele cobra baratinho. ;-)

Foto do destaque: Flickr – Penn State

Quem escreveu

Renato Salles

Data

29 de July, 2016

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Renato Salles

Para o Renato, em qualquer boa viagem você tem que escolher bem as companhias e os mapas. Excelente arrumador de malas, ele vira um halterofilista na volta de todas as suas viagens, pois acha sempre cabe mais algum souvenir. Gosta de guardar como lembrança de cada lugar vídeos, coisas para pendurar nas paredes e histórias de perrengues. Em situações de estresse, sua recomendação é sempre tomar uma cerveja antes de tomar uma decisão importante. Afinal, nada melhor que um bom bar para conhecer a cultura de um lugar.

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    Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.