Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Eu nunca tomei café, nunca adquiri o hábito. Acho até que sou imune a cafeína, porque nem energéticos me oferecem a mínima dose de energia extra. Nos últimos 10 anos, eu venho observando a ascensão e queda de um dos maiores fenômenos da indústria cafeeira, tão cara para a história do nosso Brasil varonil. E não estou falando das fazendas de café, do colonialismo, nem da chegada de redes de café aguado americano ao país. Falo de minúsculos seres invasores, mas visíveis a olho nu, que tomaram conta de nossas casas – e nossos lixos: as cápsulas.
A moda chegou com a Nespresso, da suíça Nestlé, com status equivalente de bolsa de grife parcelada em 24 vezes. Mas logo as genéricas se espalharam pelas prateleiras dos supermercados, e o sonho da TV colorida dos anos 80 foi substituída pela cafeteira própria para as capsulinhas. Até eu tenho uma em casa! Para os outros usarem, claro. Hoje acho que você acha até aquele famoso café de sabor delicioso e cheirinho gostoso nas malditas embalagens práticas.
Malditas, sim. O que não faltam são reportagens relatando o impressionante impacto ambiental desses pequenos monstrinhos inanimados. Quer ver? Aqui, aqui, aqui, aqui e aqui. Só para citar alguns. Se você ficou com preguiça de ler, eu resumo: Para cada 6g de café que você consome com elas, você produz também 3g de lixo. Esse lixo é composto de plástico, alumínio, papel e borra de café. Para reciclá-las, você precisa conseguir separar os 4 elementos, o que pouquíssimas empresas conseguem fazer. Isso sem contar que a maioria das pessoas nem sequer sabe que os próprios fabricantes tem postos de coleta para receber as peças, o que quer dizer que uma porcentagem bem grande delas acaba no aterro sanitário. Estima-se que se elas, já consumidas até hoje, forem colocadas em fila, dariam a volta ao mundo mais de 12 vezes. A coisa é feia mesmo.
Um repórter do The Atlantic foi conversar com o inventor do café em cápsulas, o americano John Sylvan, que teve a ideia nos idos de 1992, e começou a produção em escala em 1998. Hoje essa empresa, a Keurig Green Mountain, fatura mais de 5 bilhões de dólares por ano vendendo os K-pods, como chamam por lá. Sylvan afirma que se arrepende amargamente de ter inventado o sistema, vendo as consequências para o meio ambiente. Deve-se também lembrar que ele vendeu a empresa para uma grande corporação em 1997 por US$50mil. A Keurig se comprometeu no ano passado a ter todas as suas cápsulas substituídas por versões 100% recicláveis ou biodegradáveis até 2020. Até agora não avançaram nada na descoberta de novas tecnologias, e mais 4 anos de acúmulo desse lixo não parece nada bom. E pior, eles já tem linhas lançadas de chás, bebidas geladas, e agora querem lançar as sopas.
A empresa ainda se defende dizendo que o uso das doses individuais dos seus produtos oferecem grande economia de água, já que o café feito em cafeteiras comuns acaba sempre com um resto de 10 a 15% jogado fora, segundo estudos que eles fizeram. Ok, ninguém quer café frio, e quem viveu no Sudeste do Brasil no último ano sabe bem o valor da água (pelo menos agora). Mas eu, que não tenho estudo nenhum para me basear, imagino que o desperdício de água na produção das cápsulas, nas tintas das embalagens, e na própria reciclagem gastam mais água que aquele finzinho que a Dona Maria joga na pia quando todo mundo vai embora aí do teu escritório, não? Coisas do mundo corporativo.
Já que a população não se conscientiza dos seus próprios hábitos de consumo (mesmo o café em cápsula sendo muito mais caro que o pó comum), e as empresas não enfrentam o problema com transparência, algumas ações estão sendo tomadas de forma mais drástica e vertical. Em Hamburgo, na Alemanha, esse tipo de máquina foi simplesmente proibido em prédios públicos. Por aqui, um acordo setorial de logística reversa foi assinado, para elevar os investimentos em conscientização, coleta e rastreamento do lixo.
Enquanto isso, para você aí que não quer abrir mão da sua conveniência e da dose diária de cafeína fácil, eu achei essas incríveis cápsulas reutilizáveis feitas de aço inoxidável, que você mesmo preenche com o blend de sua preferência. A Mycoffeestar pesa no bolso – custa a partir de R$189,90 – mas não pesa na consciência. É isso ou então apelar para o modelo mais limpo, eficiente e barato de se tomar café: o solúvel!
Foto do destaque: Andrés Nieto Porras
Para o Renato, em qualquer boa viagem você tem que escolher bem as companhias e os mapas. Excelente arrumador de malas, ele vira um halterofilista na volta de todas as suas viagens, pois acha sempre cabe mais algum souvenir. Gosta de guardar como lembrança de cada lugar vídeos, coisas para pendurar nas paredes e histórias de perrengues. Em situações de estresse, sua recomendação é sempre tomar uma cerveja antes de tomar uma decisão importante. Afinal, nada melhor que um bom bar para conhecer a cultura de um lugar.
Ver todos os postsEu jamais usaria estas tais capsulas, ainda sou adepta do cafe passado em saco de tecido (pelúcia de preferência). Passo na hora e ainda aproveito ao borra para fazer mascara de beleza, é otimo esfoliante, faz desaparecer as olheiras, pode esfoliar o corpo todo que melhora um montão a celulite e a economia com o proprio café e produtos de beleza é indiacutivel
Ao comprar novas capsulas, sempre pego as sacolas de reciclagem na Nespresso e entrego outras cheias de cápsulas usadas. Pelo que sei, a reciclagem é business também, porque as cápsulas antigas viram novas. ;)
Reciclar, apesar de menos nocivo tb gera gasto de energia. Uma solucao secundaria para o que nao teriamos como deixar de produzir. Antes de pensarmos na reciclagem, interessante nos perguntar se seria necessário a existência do produto.
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.