Berlim 24 horas

O dia-a-dia de quem mora em Berlim com dicas culturais, gastronômicas e de passeios para todos os gostos e bolsos.

Decoding

Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.

Festivais de música

Os melhores festivais de música do Brasil e do mundo num só lugar.

Fit Happens

Aventura, esporte, alimentação e saúde para quem quer explorar o mundo.

Quinoa or Tofu

Restaurantes, compras, receitas, lugares, curiosidades e cursos. Tudo vegano ou vegetariano.

Rio24hrs

Feito com ❤ no Rio, para o Rio, só com o que há de melhor rolando na cidade.

SP24hrs

Gastronomia, cultura, arte, música, diversão, compras e inspiração na Selva de Pedra. Porque para amar São Paulo, não é preciso firulas. Só é preciso vivê-la.

SXSW

Cobertura pré e pós do SXSW 2022 com as melhores dicas: quais são as palestras, ativações, shows e festas imperdíveis no festival.

"Gota D'Água [a seco]" e o teatro de Rafael Gomes

Quem escreveu

Iran Giusti

Data

20 de October, 2016

Share

Apresentado por

Costumo brincar que existem dois tipos de teatro: o teatro para o público, e o teatro para o público que gosta de teatro, aquele composto de várias auto-referências e uma linguagem, ou temática, extremamente difícil. Porém existem alguns autores, diretores e encenadores que conseguem fazer ambas as coisas em um único espetáculo.
Em São Paulo quem tem bastante sucesso nessa prática é o Núcleo Experimental e a companhia Empório de Teatro Sortido. Minha paixão por ambas é a mesma, mas como quero falar especificamente da montagem “Gota D’Água [a seco]”, um filhote da companhia, vou me ater a ela.
Criada em 2010 por Rafael Gomes e Vinicius Calderoni, a Companhia do Teatro Sortido nunca errou a mão em sua curta trajetória. No total foram sete montagens e todas de sair do teatro com a cabeça a mil. Em comum, todas contam com a majestade de atrizes que roubam a cena, e consequentemente nossa admiração.

O diretor e as mulheres

Rafael Gomes se formou em Cinema pela FAAP e despontou para o sucesso apresentando para o grande público toda a grandeza de Maria Alice Vergueiro no vídeo viral “Tapa na Pantera” em 2007 e de lá pra cá parece escolher a dedo grandes atrizes para trabalhar.
Em “Música Para Cortar os Pulsos” (2010), “Cambaio [a seco]” (2012), “O Convidado Surpresa” (2014) traz Mayara Constantino, já em “Gotas D’Água Sobre Pedras Escaldantes” escala Gilda Nomacce para uma participação arrasadora e em “Um Bonde Chamado Desejo” escolhe Maria Luisa Mendonça para dar vida a uma espetacular Blanche Dubois.

Maria Luisa Mendonça e Virginia Buckowski na montagem de "Um Bonde Chamado Desejo", de 2015
Maria Luisa Mendonça e Virginia Buckowski na montagem de “Um Bonde Chamado Desejo”, de 2015

Fora da companhia assina a direção e adaptação da nova montagem de “Gota D’Água” de Chico Buarque e Paulo Pontes, que ganha o acréscimo de [a seco] no título, parte pela estética mínima e redução de personagens do original, parte pela carreira do próprio autor, que em 2012 realizou “Cambaio [a seco],  uma peça escrita por Adriana e João Falcão baseada no álbum composto por Chico e Edu Lobo. A montagem teve a participação do grupo “5 a Seco”, e por isso o nome.
Vale lembrar que quando se fala no trabalho de Rafael está tudo muito junto. O co-criador da companhia é Vinícius Calderoni, também integrante do grupo “5 a Seco”.

Medeia moderna

Gota D’Água [a seco] é de Joana, interpretada pela atriz principal,  Laila Garin, que com 16 anos de carreira conheceu o sucesso de público apenas em 2013, dando vida à Elis Regina no musical “Elis – A Musical”. Na peça de Rafael Gomes Laila se entrega de forma alucinante: atua, dança e principalmente canta. A trama baseada em Medeia, a tragédia grega de Eurípedes é um prato cheio para a atriz que aproveita cada momento para brilhar.
Na versão de 1975, Chico e Edu Lobo transportam o mito para um conjunto habitacional brasileiro, e contava com a direção musical de Dori Caymmi e a atriz Bibi Ferreira como protagonista, além de um grande elenco. Já Rafael manteve o enredo optou por eliminar a presença dos personagens secundários e chamou o sempre brilhante Pedro Luiz para assinar a direção musical.
O diretor e adaptador também opta por uma cenografia simbólica, composta de estruturas de metal e garrafões de água que engrandece os atores, e só perdem para o figurino de Laila, como grande suporte para as cenas. O ator Alejandro Claveaux que vive Jasão é ótimo, mas entende que seu papel ali é dar espaço para parceira de cena.

Um trecho da arrebatadora versão de “Cálice” interpretada por Laila Garin em “Gota D’Água [a seco]”

A parte que falta

Acompanhando a carreira do diretor fica apenas uma questão: por que tamanho destaque para as mulheres em cena e tão pouco fora dele?  De todas as sete peças da companhia, apenas “Cambaio [a seco] conta com uma autora mulher, Adriana Falcão que assina o texto com o ex-marido João. Nas direções musicais também não se notam figuras femininas. Que tal dar fim nesse clube do bolinha, heim?
Gota D’Água [a seco]
Sextas e sábados, às 21h. Domingos, às 18h.
Teatro FAAP – Rua Alagoas, 903 – Higienópolis

Quem escreveu

Iran Giusti

Data

20 de October, 2016

Share

Apresentado por

    Adicionar comentário

    Assine nossa newsletter

    Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.