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Foram 8 dias passeando pelo Rio Negro e Jauaperi sem um pontinho de wi-fi sequer. O único meio de telecomunicação durante a viagem foram alguns poucos “orelhões” que encontramos em pequenas comunidades ribeirinhas ao longo da expedição. Foi a viagem perfeita que eu precisava para me desconectar de tudo e ter apenas a natureza e as pessoas à minha volta como pontos de contato. E posso dizer? Foi incrível! Oito dias sem sequer imaginar o que estava acontecendo no mundo.
A viagem já começa em São Paulo: Afinal o que é Xixuau? E onde fica Novo Airão? Vamos visitar alguma tribo indígena? Qual? E o que vamos comer? Tem banho quente? Onde vamos dormir? Tem quarto no barco? E cama? São perguntas e mais perguntas respondidas enquanto pesquisamos o site da Katerre, que nos levou à essa viagem sem frescura.
Fiz uma expedição de 8 dias pelos rios Negro e Jauaperi, passando por Anavilhanas e pelo Parque Nacional do Jaú até chegar em Xixuau, uma reserva em Roraima.
Esta viagem é perfeita para quem ama natureza e silêncio. É perfeita para quem está precisando respirar e contemplar um céu estrelado. É perfeita para quem admira a vida selvagem, quer se conectar com a vida simples, mas não necessariamente fácil. Além de tudo, é ideal para quem está precisando reequilibrar a alimentação e o coração. Porque ir lá é um bom exercício para ajustar o nosso eixo e nos dar conta de como nos preocupamos e nos estressamos diariamente com coisas que não valem a pena. Esta viagem vale tanto quanto várias sessões de terapia, afinal quando temos oportunidade de colocar o velho clichê “desconectar para se reconectar” em prática? E é disso que se trata este tipo de viagem. Só vai ser diferente caso queira. A única certeza que posso dar é: a viagem vai ser boa de qualquer jeito.
A nossa viagem teve algumas diferenças em relação ao passeio tradicional, por isso vale conferir o dia a dia no programa da expedição.
A chegada é por Manaus, onde um motorista nos leva a Novo Airão num percurso de cerca de 204km feitos em 3 horas de viagem. O início de tudo foi um encontro no restaurante Flor do Luar, que tem cardápio criado pela chef Débora Shornik, do restaurante Caxiri (SP), para um almoço acompanhado de ótimas caipirinhas e mergulhos no Rio Negro, que não possui correnteza e forma piscinas naturais ao longo de seus 700 Km de extensão. Foi lá onde comi a melhor costelinha de tambaqui da vida, acompanhada de banana da terra, farofa e arroz com cereais. Atendimento impecável num lugar super simples e rústico, à beira do rio. É um drink, um petisco e um mergulho.
No início da viagem rola uma apresentação sobre como serão os próximos 8 dias, incluindo relatos sobre as comunidades e escolas que visitaremos. Na sequência, fomos brindados com uma parada para um mergulho no meio do Rio Negro, acompanhado de caipirinhas e drinks antes de seguir para Madadá, onde passamos a primeira noite. Jantamos no barco e então seguimos para uma noite no meio da floresta, dormindo em redes estendidas num mirante coberto, que oferece uma vista privilegiada.
Dormir na floresta não é obrigatório. Caso trema só de pensar, é possível ficar no barco. Mas não dá para ter muita frescura se você quiser curtir o melhor que a Amazônia pode oferecer. Rolou um medo generalizado inicial, mas aos poucos todos relaxaram e dormiram até as primeiras luzes do dia surgirem e nos despertarem. O sol despontou no horizonte às 5h45, formando um dos mais belos espetáculos que já vi. Foi um dos momentos ápices da viagem.
Ali estava o sol subindo, laranja, como poucas vezes vi na vida. Os raios ainda não apareciam. Era uma grande bola laranja. Foram cerca de 20 minutos para que ele subisse por completo. O dia raiava, a fome batia e sequer lembrávamos que ainda eram 6 da matina. Voltamos para o barco onde um farto café da manhã nos esperava: pães artesanais, tapioca, frutas diversas, frios, sucos, café, bolos, ovos. Eu só queria morar ali no café da manhã para sempre. E foram todos os dias assim.
Foi o momento em que os viajantes começaram a se entrosar, afinal são duas mesas, cada uma para 8 pessoas. No barco, éramos 12 de São Paulo, 1 de Novo Airão (um menino de 8 anos que nos acompanhou) e 3 alemães.
Fizemos um passeio de três horas por florestas primárias (que nunca foram derrubadas pelo homem), com visita às Grutas de Madadá. Por ali aprendemos um pouco sobre a vegetação e a vida animal, vimos coruja, macaco, pássaros e até morcegos. O Tito, capitão do barco que cresceu na região, foi quem conduziu o passeio, falando sobre cada árvore, planta e até insetos. É uma aula e tanto. Na volta, merecidamente nos jogamos no rio e lá ficamos por horas. É o céu na terra, depois de 3 horas caminhando com um calor que beira o insuportável, mas que vale muito a pena. Tem que fazer. O almoço foi preguiçoso e seguimos para a Praia do Sono, praia linda de areia branca e fofa, tendo a floresta imponente por atrás. Águas calmas perfeitas para a prática de stand up. Passamos um bom tempo por lá e pudemos assistir um dos mais belos pores-do-sol que vimos durante a viagem.
Tivemos a sorte de pegar o eclipse lunar no meio do Rio Negro. Foi O presente, afinal, estávamos em meio à escuridão completa, tendo apenas as estrelas e a própria lua iluminando nosso redor. Jantamos já mais familiarizados uns com os outros e fizemos plantão no deck, do início ao fim do eclipse, conseguindo ver cada pontinha da lua sendo coberta até ficar completamente vermelha, pois era uma lua de sangue, uma super lua, com direito a uma chuva de estrelas cadentes! Foi um dos espetáculos mais belos da natureza que já vi. Para ter ideia da nossa sorte, essa foi a 6ª vez que ocorreu um eclipse de uma super lua desde 1900.
E assim se seguiram os próximos dias, sempre com lugares novos, incluindo vilarejos, visitas às comunidades ribeirinhas e 3 escolas, o que trouxe uma noção da diversidade educacional que existe no Brasil, assim como todas as dificuldades que é levar a educação a lugares remotos como o interior da Floresta Amazônica.
Visitamos o Parque Nacional do Jaú e passamos uma manhã na Cachoeira do Rio Pauini, que já estava quase seca na época em que fomos (fim de setembro), mas ainda a tempo de desfrutá-la um pouco. É incrível esse espetáculo da natureza de “cheia” e “seca”, transformando a natureza por completo. Interessante imaginar a cachoeira com pequenos degraus, pelos quais a água passava o bastante para massagear nossas costas, e que em breve estaria completamente seca, tão diferente de há poucos dias, quando estava completamente cheia, impossibilitando sentar nas pedras como pudemos fazer. Na época em que viajamos, o rio tinha descido entre 4 e 6 metros, mas em vários lugares ainda desceria por mais 8. É impossível imaginar a areia branca surgindo e impossibilitando o acesso de barco em alguns cantos, além de formar belas praias no meio do rio.
Fizemos focagem, que é navegar por igarapés em pequenos barcos, na completa escuridão, para ver jacarés. As emoções passeiam entre o medo e a excitação. Além da possibilidade de ver jacarés, passear pela escuridão ouvindo os barulhos da floresta, dos bichos, da água e do movimento do barco, é também uma emoção à parte. Traz um contato com algo no nosso interior que não costuma ser desperto.
Passamos um dia com os alunos da Escola Viva Amazônia, na comunidade Gaspar, já pertencente ao estado de Roraima, liderada por um casal meio irlandês, meio italiano, que largaram tudo para se dedicar à educação das crianças, num lugar onde a infra-estrutura é ínfima e completamente isolado do mundo. E imaginem nossa emoção ao chegar lá e as crianças terem preparado uma peça de teatro para nos apresentar, pois sabiam da nossa visita! Depois ainda fomos curtir uma “praia” com elas, o que foi também outro ponto alto da viagem. Rolou um bate-papo sobre sonhos e anseios para o futuro, em que os desejos são tão simples, como um menino que respondeu que quer ser faxineiro, enquanto alguns sonham em ser “doutores” ou “professor”. Internet? TV? Em algumas das comunidades que passamos sequer TV tem, imagine então Internet…
Passar 8 dias navegando por rios em meio à Floresta Amazônia traz calmaria e intensidade, pois temos todo o tempo do mundo para pensar, contemplar, conversar ou apenas se desligar. Repito: é uma conexão imersiva com a natureza, que nos faz rever a nossa relação com o mundo, os nossos desperdícios e o alto consumismo.
Mais legal do que apenas viajar pela Amazônia, que é tão imensa, é se embrenhar em sua cultura. É conversar com as pessoas, visitar a casa delas, assistir aula com as crianças e contar um pouco sobre você para elas. É ter um contato ainda maior com uma vida simples, onde menos é mais.
E voltei como a gente sempre regressa de viagens incríveis: renovada, feliz, mais gordinha (afinal comi bem o tempo todo), com lembranças emocionadas, novas amizades que vou gostar de manter e cheia de expectativa pela minha próxima aventura.
O barco Jacaré-Açu possui 3 andares, sala de estar, deck com espreguiçadeiras e redes, 16 cabines, sendo 8 com cama de casal e 8 com beliches, todas com banheiro, ar-condicionado e chuveiro. Esqueça banhos quentes, afinal estamos em meio a uma temperatura nas alturas: entrar na ducha fria com água vinda do rio vai ser sempre um alívio. As camas são confortáveis e a janelinha sempre emoldurará paisagens de tirar o fôlego. Há também uma sala de jantar e cozinha, que funciona das 7 às 22h diariamente e fica totalmente à disposição. Tudo é preparado nela: café da manhã, almoço, petiscos e jantar. Na nossa viagem, tivemos sorte de ter peixe fresco todos os dias, além de muitos legumes, verduras e frutas típicas da região. Comer era sempre uma benção, de tão incrível e simples ao mesmo tempo que eram as refeições. Para mim foi um ótimo detox.
Mosquitos não são comuns no Rio Negro devido ao alto pH de suas águas. Então não se preocupe tanto com eles, mas não deixe de levar um bom repelente para usar nos passeios pela floresta ou pelos igarapés à noite, quando a luz das lanternas os atraem.
Apesar de ser extremamente quente o ano todo, não deixe de levar um agasalho completo e camisa de malha fina com manga comprida para usar a noite quando estiver no deck. Para passeios pela floresta, vale ter uma calça comprida de tecido leve, um bom tênis e meia no tornozelo para que não tenha contato com formigas. Chapéu também é bem-vindo. No mais, acaba-se usando shorts e roupas curtas durante a maior parte do tempo para aguentar a sauna amazônica. Vestidos, roupas leves, canga, camiseta regata, biquini ou sunga e é isso!
Já para os pés, chinelos, um tênis e se der, vale levar uma sapatilha de neoprene para andar pelo rio.
Vale muito a pena ter uma boa máquina fotográfica à mão. As noites podem ser estreladas, como poucas vezes vemos na vida, além de ter muitos pássaros e alguns animais como jacarés e boto cor de rosa, que fazem nos arrepender de não ter levado uma boa máquina para fotografá-los.
Não deixe de levar uma boa lanterna, preferencialmente daqueles que se prende à cabeça. Filtro solar e chapéu fazem a diferença também. Se você, como eu, não nada muito bem e não se sente seguro em se jogar num rio com muitos metros abaixo dos seus pés, invista num colete salva-vidas. O que eles possuem são mais para uso de segurança do que para ficar brincando na água.
Como tem muitos passeios de barcos pequenos, vale uma bolsa impermeável para carregar a câmera fotográfica.
O seu último instagram vai ser em Novo Airão antes de embarcar. Comunicação só por telefone público em 2 comunidades em que o Jacaré-Açu faz parada. O barco conta com comunicação via satélite para qualquer emergência, então relaxa!
Leve um bom livro. Sabe aquele com 1.000 páginas que você não consegue terminar de ler? Manda bala que lá ele vai rolar. Se você, como eu, adora séries de TV, a viagem é uma boa oportunidade para colocá-las em dia. Joga tudo no computador, porque sobrará tempo para devorá-las. Música também é bem-vinda. Nós sempre buscávamos por trilhas sonoras para a viagem nos celulares alheios.
Na nossa viagem, tinham dois meninos, um de 8 e outro de 10 anos. Foi puro deleite para ambos, mas vale levar jogos e coisas para eles matarem o tempo nas longas horas de viagem, pois, às vezes, eles podem ficar bem entediados. A experiência é única e é uma sorte tremenda viver tal experiência tão jovem.
Depende muito do que é luxo para você. Se luxo for conforto, comer bem, ter um ótimo serviço à disposição, um quarto com cama, ar-condicionado e banheiro em meio à Amazônia, sim, tem luxo e bastante. A comida é sempre feita à base de ingredientes frescos, com muita verdura, legumes, sucos de frutas locais e peixe.
Se você como eu treme só de pensar em cair da cama antes das 8h, prepare o coração, pois a sua rotina vai mudar. Não foi tão difícil quanto imaginei, mas meus horários mudaram completamente. Acordava geralmente antes das 6h30 e dormia por volta das 23h, fora os meus cochilos obrigatórios no meio da tarde. Não se preocupe, pois, se eu me adaptei, qualquer um se adapta.
Chegando em Novo Airão é possível pegar o transfer e se mandar para Manaus. Eu estava num estado tão sublime que eu não conseguia conceber a ideia de cair numa queda livre em uma cidade grande. Optei por esticar o fim de semana, que eu super recomendo, no Hotel Mirante do Gavião, onde o nosso barco atraca no fim da viagem. O hotel fica à beira do Rio Negro, tem uma piscina incrível, um ótimo restaurante, também com a cozinha assinada pela chef Débora Shornik, e carta de drinks assinada pelo bartender Alexandre D’Agostino (Spot). Deu para explorar um pouco a região, ver boto cor de rosa de pertinho e fazer novos passeios pelo Rio Negro.
**Mais informações no site da Katerre ou por email com a Paula. A próxima expedição acontece entre dias 7 e 14 de Maio. O transfer sai às 9h de Manaus no dia 7.
Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.