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Como sofro de ansiedade, em agosto do ano passado, eu já tinha decidido, junto com uma amiga, onde passaríamos o revéillon. Boipeba foi o lugar eleito e, sinceramente, eu tinha pouquíssimas referências de lá.
Em setembro, já tínhamos pousada e voo fechados. Conversei com alguns amigos que já tinham ido para lá e fiquei com a impressão que passaríamos por perrengue, inclusive com comida, já que as opções eram poucas. Optamos por Moreré, uma das praias de Boipeba, e ficamos receosos de ficarmos sem café da manhã e sem muitas opções de lugares para comer. Não à toa, fomos munidos com comida para o café da manhã, incluindo 250g de café moído, além das garrafas de espumante para garantir a nossa virada e dinheiro em espécie.
Passagens compradas para Salvador e, em cima da hora, traslado fechado até a ilha, que já anunciava o primeiro perrengue, pois o táxi para 6 pessoas que fechamos era um Doblô, que além das 6 pessoas e o motorista, ainda teria que caber as 6 malas.
O que descobrimos? Aparentemente, Moreré evoluiu bastante desde a última ida dos amigos para lá. O lugar deve estar na lista de lugares para ir antes de morrer de todo mundo.
Boipeba é um primeiros locais a terem sido colonizados na Bahia, ainda em 1537 pelos jesuítas. A ilha é formada pelos povoados de Velha Boipeba, Cova da Onça, Moreré, Monte Alegre (um antigo quilombo de escravos) e pertence ao município de Cairu. Para chegar lá só por via marítima ou voando. Boipeba é cercada de um lado pelo oceano e de outro pelo estuário do Rio do Inferno. O encontro do Rio do Inferno com as águas límpidas do Atlântico já daria para fazer um poema.
Boipeba é um paraíso quase intocado e dividida entre duas áreas principais, Velha Boipeba e Moreré. Por lá carros não circulam. A locomoção entre as duas pode ser feita a pé quando a maré está baixa numa agradável caminhada de uma hora, de trator ou de barco. Você escolhe.
Moreré, onde ficamos, tem cerca de 250 habitantes, dois mini mercados, alguns restaurantes e bares, quase todos pé na areia ao longo da costa da ilha, e pousadas. A maioria não aceita cartão de crédito, por isso leve dinheiro em espécie. Internet também é artigo de luxo, então aproveite para um bom detox. Por lá, apenas ruas de areia, então também não é necessário levar nada além do que um par de chinelos.
O mar é calmo seguindo um relógio muito particular da maré, mudando completamente o cenário à sua volta. A água pode estar tanto tomando conta da areia quanto estar a mais de 1km da costa. Areia fofa, mar calmo com águas cristalinas, manguezais, coqueirais, dunas e recifes, que cercam toda a costa litorânea de Boipeba, emoldurada pela Mata Atlântica, fazem da região uma das mais belas do litoral baiano. A maré está baixa? Hora de passear. A maré está alta? Escolhe um bom canto para apreciar a natureza à sua volta.
Conversando com uma amiga expert em Bahia, ela foi categórica ao afirmar que não há lugar mais bonito do que Boipeba. E deve ser difícil ter mesmo, pois Boipeba é com certeza uma das praias mais bonitas em que já estive.
A ilha é perfeita para quem ama praia, quer recarregar as energias, não quer ver o tempo passar, quer ficar desconectado, comer e beber bem, colocar os livros em dia, ver o céu estrelado, como poucos lugares permitem. Não há muito o que fazer além de curtir uma boa praia e fazer longas caminhadas. Ou seja, se você é daqueles que ama uma viagem para lugares com vida noturna agitada, fuja! Boipeba também não é um destino para quem aprecia sofisticação.
Boipeba é um lugar mágico onde parece que a Terra parou. As crianças correm soltas pra cá e pra lá sem os pais por perto, hippies vão e vem por todos os cantos da ilha, trazendo um ar de anos 1970 ao local. Há inclusive alguns acampamentos espalhados por Boipeba, deixando o lugar com uma atmosfera bem jovem. A ilha surpreende por ser tão bem cuidada e quase selvagem em diversos pontos. Para transitar à noite em Moreré é necessário estar munido de uma boa lanterna para não passar apuros, a menos que você não queira se aventurar por lá quando a noite cai.
Mesmo em cantos mais remotos da ilha, onde sombras para fugir do sol nos seduzem para passar o dia, passam vendedores empurrando um carrinho de mão com cerveja bem gelada e água de coco. A praia da Cueira, entre Boipeba e Moreré, além de linda, tem um largo trecho de areia fofa, com a maré mais estável em boa parte dela, dando para curtir o mar e até pegar jacaré dependendo do horário. Por ali há alguns quiosques onde dá para tomar um drink e beliscar quando a fome bater, mas a recomendação é estar sempre munido de uma garrafa grande d’água, um chapéu de abas grandes e um indefectível protetor solar, porque o sol queima – e bastante! Para atravessar a pé vindo de Moreré, tem o Rio do Oritibe, um rio estreito, que vai se alargando até desaguar no mar, onde muita gente escolhe passar o dia. Quando a maré sobe, o rio sobe junto e aí é impossível atravessar, a não ser nadando.
As piscinas naturais formadas em diversas partes próximas à ilha são uma atração à parte. Algumas são possíveis de serem alcançadas a pé quando a maré está baixa. Próximo delas, há alguns bares flutuantes para ajudar a combater a sede com cervejas e drinks bem gelados. Alguns desses bares servem até pastel de lagosta, veja só! Dá para ficar horas em uma das piscinas ou em praias que se formam no meio do mar quando a maré ainda não subiu. Algumas pessoas levam até guarda-sol e montam toda uma estrutura, incluindo comida e bebida, para curtir as praias que se formam em bancos de areia e que existem apenas algumas horas por dia.
Ver o sol nascer ou se pôr é dos espetáculos mais belos que provavelmente você já viu, assim como o céu estrelado, que é daqueles em que a gente vê a Via Láctea e pena para não achar um pontinho branco no céu. Pegamos lua cheia e foi outro espetáculo inesperado, com a lua refletindo imponente no mar. Eu chorei escondida de tanta emoção.
Torço para que esse paraíso dure ainda por muito tempo e que eu possa voltar para lá quantas vezes eu quiser. E quero várias!
Uma das delícias de Boipeba é alugar um barco para dar uma volta completa na ilha. Vale a pena começar visitando o Bar das Ostras, onde são servidas ostras durante o dia todo, inclusive no café da manhã. A Cova da Onça, que vem na sequência, eu pularia, pois acho que há lugares mais interessantes para ver. É na Cova da Onça a parada para o almoço, mas particularmente eu mataria a fome com pastéis em algum dos bares que ficam nas piscinas naturais ou na Ponta de Castelhanos.
A Ponta de Castelhanos é imperdível, considerada uma das praias mais belas de Boipeba. O lugar tem mangues e árvores nascendo no meio da areia, além de pequenas piscinas naturais que se formam entre o mangue e a praia, que é longa e de faixas largas, também com a maré indo e vindo. A praia é perfeita para quem adora longas caminhas e curte mergulhar com snorkel. Na maré baixa, as piscinas naturais se formam entre os recifes e também entre os bancos de areia.
Quem curte mergulhar pode ver o que restou do navio espanhol Madre de Dios, naufragado por ali em 1535, além de belos recifes de corais.
Caso fique na Velha Boipeba, não deixe de separar um dia só para Moreré. Tome café e vá para lá curtir uma praia, almoce no delicioso Paraíso, tome uma cerveja num dos botecos do centrinho. Para fechar a noite, jante no O’Ba, comandado por um russo, ou na charmosa e concorrida pizzaria meio espanhola, meio brasileira, Todo Pasa. Ou coma uma tapioca ou um acarajé em uma das barracas de comida que ficam ali pelo centrinho. São deliciosos.
Testamos o famoso restaurante Guido, conhecido pela lagosta na manteiga, e o único da Praia de Cueira, mas acabamos nos decepcionando após ter recebido as melhores referências sobre ele. O atendimento é lento e o restaurante lota com barcos vindos de Morro de São Paulo, tornando o lugar barulhento demais, o que destoa completamente da praia onde fica. A comida é razoável, nada especial, e também foi um dos restaurantes mais caros que fomos em Boipeba.
Fechamos um táxi do aeroporto de Salvador até Graciosa, em Valença, onde a nossa lancha nos esperava. São 300km a partir da capital, feitos em cinco horas. O trajeto de carro dura cerca de quatro horas e a lancha faz o percurso em menos de uma hora.
Algumas agências oferecem o pacote por cerca de R$ 220,00 por pessoa. Mas também é possível fazer tudo com transporte público: pegar o ferry boat que sai de hora em hora na Baía de Todos os Santos, até Bom Despacho. A viagem dura 1 hora e custa R$ 5. Em Bom Despacho, a viagem continua de ônibus (2h30 de viagem por R$ 23) até Valença ou de táxi.
Também há barcos saindo a cada 30 minutos do Mercado Modelo, em Salvador, até Mar Grande pelo mesmo preço, sendo a viagem feita em 40 minutos (foi a opção que escolhemos na volta). Em Mar Grande, tem van para Nazaré, onde se pega um ônibus até Valença.
Em Valença, pode-se pegar um barco rápido para Boipeba, que sai entre 10h e 16h (ou 18h de acordo com o movimento) por R$ 38. Gasta-se uma hora no trajeto. Caso fique em Moreré, é necessário pegar um trator, que custa R$ 10, em Boipeba. No centrinho de Moreré, descobrimos barcos que saem de lá para Valença também por R$ 75, o que economiza um bom tempo por não precisar se deslocar até Boipeba, já que do ponto final do trator até o cais é necessário fazer uma boa caminhada.
São 3 voos diários saindo do Aeroporto Internacional de Salvador para Fazenda do Pontal, na ilha de Tinharé: 8h30, 12h30 e 15h30. Há uma travessia do aeroporto para Boipeba, já incluída no valor da passagem. A viagem leva apenas 30 minutos e custa R$ 570 a passagem, mais R$ 30 a taxa de embarque. Reservas aqui neste link.
Aqui neste link tem outras formas de chegar até a ilha, mas as relatadas acima são as que recomendamos.
Nos hospedamos em um dos 3 bangalôs do Paraíso, o último restaurante da praia a cerca de um quilômetro do centrinho. As pousadas são todas bem rústicas e simples. Para quem busca por lugares mais sofisticados, as opções ficam na Velha Boipeba, que tem uma infra-estrutura maior. Mas meu voto é “fique em Moreré”. Há pousadas para todos os bolsos e gostos. Apesar do calor intenso que rola na ilha, quartos com ventilador de teto dão conta do recado, pois a ilha é bem fresca à noite.
A Pousada Rancho Alegre fica ao lado do centrinho de Moreré, próximo à saída do trator que leva os passageiros à Boipeba. A pousada é simples, charmosa, possui quartos com ar-condicionado, tem Internet, café da manhã, TV (para quem não fica sem) e uma área comum para os hóspedes relaxarem. Preço média tarifa alta temporada R$ 250/noite.
O O’ba Morere é um restaurante e pousada literalmente com o pé na areia. O lugar é super charmoso e moderno, diferenciando-se do restante ao seu redor. Tem wi-fi, café da manhã inglês, podendo ser servido na praia se preferir. A localização é também um dos pontos altos da pousada, pois fica bem no centro, facilitando ir e vir para qualquer lugar. Preço média tarifa alta temporada entre R$ 300 e R$ 400.
Quem busca por uma vista de tirar o fôlego, quer um bom café da manhã, ar-condicionado no quarto e não se incomoda em suar um pouquinho diariamente para chegar ao quarto, a Pousada Alizées Moreré oferece tudo isso. Apesar de indicar que há wi-fi, ele é disponível somente na recepção. Não possui TV e a locomoção para o centrinho é puxada, o que o fará preferir ficar na pousada à noite. Atente porque nem todos os quartos tem ar-condicionado e prefira os que ficam próximos à recepção para fugir da ladeira. Lugar não indicado para pessoas com dificuldade com problemas de mobilidade. Preço médio diária alta temporada R$ 500/noite.
Uma das pousadas mais concorridas na Velha Boipeba é a Céu de Boipeba. Ela tem acesso difícil e fica um pouco distante da praia, mas a vista compensa tudo isso. É famosa pelo pôr-do-sol, com acesso gratuito a todos, hóspede ou não (é só subir). Possui arquitetura e decoração modernas, mas não tem TV nem ar-condicionado. Não à toa, a Céu é comandada por Jesus. Preço médio diária baixa temporada R$ 310/noite.
Quem quer luxo e uma piscina a alguns passos, pode conferir a Pousada Mangabeiras, que fica na Velha Boipeba, na Boca da Barra, e tem todos os quartos com vista para o mar. Apesar de ficar numa colina, há um elevador que leva os hóspedes até ela. A pousada tem também restaurante, com café da manhã servido até o meio-dia (uhu!), massagem e acupuntura. Preço médio diária na alta temporada R$ 620/noite e R$ 530/noite na baixa.
Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.
Ver todos os postsoi lailai, conheço moreré e boipeba e achei seu relato super bacana!
estive em moreré ano passado e lembro de ter visto e simpatizado com os chalés do restaurante paraíso, mas não peguei contato de lá. você poderia passar? estou ajudando um amigo com dicas e a casa do airbnb em que fiquei já está bloqueada no período… grata!
Oi Ana, tudo bem? Que bom que curtiu o relato. Eu não tenho o contato do restaurante. Vou ver se consigo e te mando email. :)
Lalai, obrigado pelas dicas. Esse bangalô Paraíso que vocês ficaram hospedados, tem o link para os mesmos? Entre ficar em Moreré na Alisée Moreré ou na Mangabeira, qual você recomenda? E de quantos dias seria uma duração bacana da viagem? Obrigado!
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.