Berlim 24 horas

O dia-a-dia de quem mora em Berlim com dicas culturais, gastronômicas e de passeios para todos os gostos e bolsos.

Decoding

Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.

Festivais de música

Os melhores festivais de música do Brasil e do mundo num só lugar.

Fit Happens

Aventura, esporte, alimentação e saúde para quem quer explorar o mundo.

Quinoa or Tofu

Restaurantes, compras, receitas, lugares, curiosidades e cursos. Tudo vegano ou vegetariano.

Rio24hrs

Feito com ❤ no Rio, para o Rio, só com o que há de melhor rolando na cidade.

SP24hrs

Gastronomia, cultura, arte, música, diversão, compras e inspiração na Selva de Pedra. Porque para amar São Paulo, não é preciso firulas. Só é preciso vivê-la.

SXSW

Cobertura pré e pós do SXSW 2022 com as melhores dicas: quais são as palestras, ativações, shows e festas imperdíveis no festival.

Amsterdam Dance Event, a meca da música eletrônica

Quem escreveu

Lalai Persson

Data

04 de November, 2016

Share

Apresentado por

Eu já passei duas vezes pelo Amsterdam Dance Event, mas por alguma razão desconhecida, eu não o visitei. Este foi o ano de desbravar o festival que, por cinco dias, reuniu cerca de 370.000 pessoas em Amsterdã, tornando-a a meca da música eletrônica. E quer saber? É muito legal e ele é um evento diferente para cada pessoa que o frequenta. Ele pode ser uma grande festa, ele pode ser um grande aprendizado, pode ser um teste na sua carreira, pode ser um networking enlouquecido, onde você terá contato com todo mundo de quem você sempre sonhou em chegar pertinho. E ele pode ser também tudo isso.

Foto: Ola Persson
Foto: Ola Persson

Não sou uma profissional da música, não produzo mais festas, não arrisco mais nas pickups. Sou apenas uma grande fã de música e, como a maioria que me acompanha bem sabe, de festivais. Aterrissei em Amsterdã sem grandes pretensões, mas com uma agenda mais ou menos preparada para os dias que se seguiriam. Neles não tinham palestras, workshops, showcases… tinham apenas festas. E mesmo que você não trabalhe com música, não despreze a magnitude do festival. Não deixe de separar algumas horas para olhar com calma a programação, que parece interminável. Porque tem muita coisa legal, tem muito encontro inusitado, tem muita gente interessante.

Foto: Ola Persson
ADE por todos os lados em Amsterdã. Foto: Ola Persson

O ADE, como é carinhosamente chamado, se espalha por todos os cantos de Amsterdã. Todos os clubes, bares, lojas de discos e até museus abraçam o evento e preparam uma programação super especial para ele. As bandeiras do ADE estão por todos os cantos, assim como carros adesivados. Tem propaganda até mesmo na farmácia, que cria kit especial de vitamina para que você dê conta da maratona. E, sim, é necessária bastante energia para abraçar tudo que o ADE abriga, porque pouca coisa não é. A 21ª edição chegou com todos os ingressos para a conferência vendidos.

A trupe do ADE. Foto: Ola Persson
A trupe do ADE. Foto: Ola Persson

Por cinco dias foram mais de 2.200 artistas tocando ou falando em mais de 140 locais; mil eventos, sendo 450 conferências e 375.000 visitantes, o que quebrou seus próprios recordes e firmou o ADE como o maior encontro de clubes e a maior e mais importante plataforma de negócios de música. Se você está envolvido no universo da música eletrônica, seja como dono de clube, booker, produtor, DJ, tem que ir.

Phillip Glass & Laurie Anderson na abertura do ADE 2016
Phillip Glass & Laurie Anderson na abertura do ADE 2016

Para entender a importância do ADE para a cidade, a cerimônia de abertura aconteceu no Museu Stedelijk, um dos principais de Amsterdã. Nele, os artistas visuais Nikki Hock, Nick Mind, Children of the Light e os cientistas do TNO apresentaram POLARIS, uma instalação luz feita em grande escala, que era animada de acordo com a emoção do público. Já o Rijskmuseum abrigou um evento subterrâneo produzido por Maceo Plex e Audio Obscura, que reuniu 2.000 visitantes (eu fui uma das 60.000 pessoas que se inscreveram para o evento e, fuén, não conseguiram entrar). O DJ Armin van Buuren criou um guia multimídia no Museu Van Gogh, apresentando suas onze obras favoritas e falando sobre sua paixão por cada uma delas (em cartaz no museu até 01.12). Teve Laurie Anderson e Phillip Glass numa apresentação muito única. Quando você poderá vê-los tocando juntos novamente?

Fila pro Melkweg. Foto: Ola Persson
Fila pro Melkweg. Foto: Ola Persson

E isso tudo foi apenas o início de um evento que contou com grandes nomes em suas conferências como Molly Neuman (Kickstarter), Gilles Peterson, Om’mas Keit, Mathew Ogle (Spotify), Rob Newlan (Facebook Creative Shop), Bruce Eskowitz (Red Light Management), além de grandes nomes da música mundial. Participei de algumas (poucas) conferências, mas Vinyl Rascal – bate-papo sobre tocar com vinil, com Axel Boman, San Proper (que apareceu vestido de onça), Nastia – com moderação do jornalista Job de Wit, foi um ótimo momento de descontração. Os djs tocaram suas atuais faixas favoritas, contaram sobre o último vinil comprado, numa conversa bem despretensiosa como se estivesse no sofá da sala de casa. Já os novatos que andam produzindo música podiam apresentar suas produções à uma mesa chamada (não à toa) de Demolition, onde as músicas eram tocadas e depois avaliada pelo júri formado por Dave Clarke, Don Diablo, Eats Everything entre outros.

Axel Boman. Foto: Ola Persson
San Proper, Axel Boman e Nastia. Foto: Ola Persson
Demolition, part XX. Foto: Ola Persson
Demolition, part XX. Foto: Ola Persson

Quem adora uma entrevista aberta, o ADE Music Talks reuniu grandes nomes como Noisia, Richie Hawtin e Joris Voorn para ser entrevistado por seus fãs.

Mas eu, que sou festeira, me joguei mesmo foi nas ótimas pistas de danças. E tinha festa em qualquer horário do dia, era só escolher. A lista não era nada modesta, especialmente para quem tem dificuldade na hora de decidir por algo. A nossa primeira noite, quinta-feira, foi intensa. No fim do dia fomos na disputada festa no basement do Mary Go Wild, loja de parada obrigatória para quem visita Amsterdã. A entrada era gratuita e a cerveja também. Fila para entrar? Eu fiquei 1h30 plantada lá na frente esperando a minha vez e só insisti porque “ah, já estou aqui há 1 hora”. Pista quente, galera fervidinha ainda no início da noite, música boa. E, claro, cerveja gelada para ajudar no clima. Acabamos até nos rendendo e ficando por lá um tempo. Depois seguimos para o Melkweg, para ver o show da dupla que mais ouvi esse ano, o HVOB. Foi de chorar de tão lindo. Uma hora de show de techno ao vivo com o (ótimo) álbum Trialog tocado na íntegra. Todo mundo hipnotizado pela voz e presença de Anna Müller. Foi dar o pontapé inicial com toda a pompa que o festival merece. Tentamos seguir a noite por ali com Rüfüs, mas o pop não permitiu.

Melkweg. Foto: Ola Persson
Melkweg. Foto: Ola Persson

A noite seguiu na pista do mais novo clube de Amsterdã, o Claire. A festa dos suecos do Studio Barnhus, contou com um b2b dos DJs Axel Boman, Kornél Kovács, Pedrodollar e Jamie 3:26, que nos manteve na pista quase até o final; e o Lumberjacks in Hell, que celebra seu 6º ano com Marcel Vogel, Mount Liberation Unlimited, Mr. Mendel e Philou Louzolo. Tentamos esticar para a festa com o Tropikillaz, mas o ADE é assim, você nem sempre sabe para onde ele vai te levar.

DJ Harvey, a lenda!!! Foto: Steve Stills
DJ Harvey, a lenda!!! Foto: Steve Stills

A sexta-feira chegou com a expectativa de ver uma lenda nas pickups, o DJ Harvey. A noite era uma das mais disputadas do festival, ingressos sold out há mais de um mês. Aqui vale uma aspa: no ADE é possível comprar o passe que vale para todo o festival, incluindo conferências, festas, shows, e ingressos avulsos para cada evento. Ou seja, nas festas é bem comum que a maioria não seja participante do festival, mas pessoas que frequentam e/ou tem o clube onde cada evento vai acontecer como referência. Isso é bom, porque aumenta o alcance do festival. Isso é ruim, porque, dependendo da atração, o público não vai entender muito bem o que está acontecendo. Essa é a sensação que tivemos com o DJ Harvey.

Caso não conheça o DJ Harvey, que é uma descoberta relativamente recente para mim, vale voltar duas casas para entender o contexto. Ele, que começou como baterista de banda punk, produziu a mítica Tonka Soundsystem, em Brighton, ainda nos anos 1980, e acabou se tornando uma grande lenda. Na revista Rolling Stone foi chamado de o “Keith Richards da dance music”, quando o colocou na lista dos 25 melhores Djs do mundo. Assisti-lo ao vivo é um privilégio, já que ele raramente toca. Seus sets nunca têm menos de seis horas e ao vê-lo ao vivo, a gente entende o porquê. Sua construção cirúrgica é admirável. Ele tocou por nove horas, mas ficamos seis dançando com seu set espetacular de disco cheio de raridades, que nem mesmo o Shazam era capaz de decifrar. Um belo passeio por pelo menos 40 anos de música, incluindo pérolas brasileiras, da disco, passando pelo funk ao house. Foi um dos sets mais incríveis que já ouvi na vida e, só ele já valeu a minha ida ao ADE. Saímos de lá completamente sem fôlego.

Crystal Castles. Foto: Ola Persson
Crystal Castles. Foto: Ola Persson

No sábado passamos por algumas conferências e depois seguimos para o show do Crystal Castles, que tem uma bela performance. Mas a música, não tem jeito, não desce muito para mim. Foi o terceiro show deles que vi e saí na metade. A voz da bela Alice Glass é insuportável aos meus ouvidos. A casa estava lotada, o público estava animadíssimo, mas o som era mais barulhento do que meus ouvidos permitem ouvir. Corri para a sala ao lado, onde os holandeses do Kraak & Smaak, agora com formação de banda, se apresentavam. Eu, que já adorei suas produções, fiquei desapontada com o show perfeitinho totalmente cheesy. Fugi! O cansaço bateu e resolvemos deixar as energias para o último dia.

Ali no "blur", o Ola e a Amanda, curtindo o Theo Parrish. Foto: De Fotomeisjes / Our Society
Ali no “blur”, o Ola e a Amanda, curtindo o Theo Parrish. Foto: De Fotomeisjes / Our Society

Fechamos o domingo com um long set do Theo Parrish. Casa razoavelmente lotada, expectativa altíssima, mas quem marcou mesmo foi o dono da festa Our Society, o Wendel Sield, que conquistou nosso coração e fez a gente dançar até a hora de….. correr para o aeroporto para voltar ao Brasil. E foi assim que terminou nosso ADE, fulminante dentro do avião, onde dormimos por 11 horas ininterruptas até alguém avisar que chegamos em São Paulo.

Galera discotecando no carro ADE. Foto: Ola Persson
Galera discotecando no carro ADE. Foto: Ola Persson

O ADE é intenso, divertido e traz um mundo para descobrir. Quem gosta de música, trabalha com ela ou não, deve considerar fortemente a ida ao ADE. E vai explorando aos pouquinhos, virando fã e colocando anualmente na agenda até se sentir em casa. E é pra lá que a gente quer voltar em 2017. Viva o ADE!

*O Amsterdam Dance Event foi um dos festivais escolhidos para o projeto #fly2fest, patrocinado pela KLM Brasil, que faz parte do SkyTeam e oferece voos para 1.052 destinos em 177 países. A KLM também é a patrocinadora oficial do festival.

Quem escreveu

Lalai Persson

Data

04 de November, 2016

Share

Apresentado por

Lalai Persson

Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.

Ver todos os posts

    Adicionar comentário

    Assine nossa newsletter

    Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.