Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Nossas referências de drive-in nunca vieram de experiências pessoais. Tudo que sabemos sobre o assunto veio de relatos dos nossos pais, de filmes americanos e de um velho e decadente estacionamento na Avenida Santo Amaro que, por pretensão ou somente por carregar uma fagulha de um passado glorioso, ainda ostentava a placa de “Auto Cine Snob’s”, lá pelo final dos anos 80. Esse hábito de assistir a um filme de dentro do carro, tendo o parabrisa como filtro e regado de milkshakes e hamburguers não pegou por aqui e ficamos durante muito tempo sem esse tipo de diversão.
Mas agora a cidade ganhou um novo cinema que promete reviver um pouco dessa época, em que o barato não era só ver o filme, mas envolvia também mexer com os outros sentidos, mais precisamente o paladar. Fomos assistir a uma sessão no novíssimo Drive-In, uma sala de cinema dentro do Caixa Belas Artes e que recria com muita propriedade a sensação de outros tempos.
O Drive-In foi ideia de duas mentes inquietas de São Paulo: Facundo Guerra, do Grupo Vegas, e André Sturm, do Belas Artes e MIS. Surgido há alguns anos, a ideia era trocar figurinhas e criar um projeto totalmente novo – novo para a experiência de cinema de André, novo para o know-how de entretenimento e comida de Facundo e, principalmente, novo para o público da cidade. Com auxílio luxuoso do escritório MM18 Arquitetura – parceiro do Facundo em todas as suas casas – o conceito saiu do papel e virou realidade, em forma de uma sala gostosa, com clima retrô dos antigos cine drive-in, e que conversa bem com públicos bem diversos.
Pois bem, para nossa sessão inaugural particular escolhemos um filme emblemático, o sexy sem ser vulgar “9 1/2 semanas de amor”. A última vez que vimos este filme foi em meados dos anos 90 e lembrávamos muito pouco dele, ou melhor, a gente só lembrava que eram quase duas horas de Kim Basinger e Mickey Rourke sarrando o tempo todo e que envolvia cenas quentes de erotismo com comida. Tinha tudo a ver! A compra do ingresso para o Drive-In pode ser feita on-line ou na hora, em guichê separado da bilheteria normal. Você pode escolher entre as cadeiras normais de cinema, os bancos de carro antigos ou então a primeira fileira, com um banco tão grande que rola de assistir ao filme deitado. Esses bancos são todos originais de carrões antigos do tipo Dodges, Impalas, Galaxies e Cadillacs.
O primeiro passo é escolher algumas das opções de milkshakes, petiscos e comidinhas, todos eles com nomes inspirados em filmes clássicos e elaborados pelo pessoal do Riviera Bar e pela chef Mari Gilbertoni. Os drinks foram todos criados pelo menino prodígio Kennedy Nascimento, um dos melhores mixologistas do Brasil. O destaque vai para o Drive-In Highball, que leva bourbon com infusão de manteiga clarificada, pipoca e refrigerante de cola, é uma delícia!
Para entrar totalmente no clima, pedimos um mac n’ cheese (apropriadamente chamado de Lebowski) e a especialidade da casa, o Touro Indomável, um hamburguer generoso, com picles de maxixe, alface, bacon, tomate, queijo raclette num pão de brioche. Para acompanhar, o milkshake Branca de Neve, uma gostosa mistura de sorvete de nata, morango e hibisco e o fabuloso 5 Dollar Shake (que nome!), que leva sorvete de caramelo com amendoim salgado e pó de pipoca!
O mais legal é que você não precisa ficar esperando em pé até o rango ficar pronto, pode ir se acomodando na cadeira escolhida e ser avisado que está tudo pronto através de uma senha eletrônica. Basta ir até a cozinha e pegar tudo prontinho. Enquanto espera, a telona exibe clipes (nesta sessão rolou até Sade), desenhos animados e trechos de filmes. Tudo pronto, entra o hilário “manual de instruções” do cinema – narrado pelo maravilhoso Pereio – as luzes se apagam e o filme começa. A tela e o som é o padrão do Belas Artes, nada de som digital e cópias em ultra HD. O lance aqui é rever um filme de sua infância em tela grande ou então assistir um clássico numa experiência totalmente nova. A curadoria dos filmes exibidos é bastante apurada e tenta cobrir todos os estilos, seja comédia pastelão, filmes de terror, muita Sessão da Tarde e até Monthy Python!
Mas devemos confessar que falhamos miseravelmente na missão de ver o filme. As cadeiras confortáveis, para sentar juntinho com seu amor ou crush, aquele escurinho e inspirados pela pegação non-stop da dupla Basinger/Rourke e pela famosa trilha sonora erótica, foi difícil nos conter e praticamente não vimos nada do filme, se é que você me entende….
Danilo passou mais de 20 anos suando sangue no mercado financeiro. Até que a crise da meia idade bateu forte e ele resolveu largar tudo e partir para o que gosta de fazer: viver bem. Desde então passou a sair mais, a tocar em tudo quanto é canto, a viajar melhor, a exercitar a veia da escrita e da leitura, cuidar do corpo, a montar playlists e, principalmente, amar fazer tudo isso. Não quer nem lembrar da fase em que esteve debruçado em cima de uma HP12C. Saravá, Danilo!
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.