Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Durante centenas de anos, Sarajevo foi a fronteira de dois grandes impérios: o Otomano e o Austro-húngaro, que representavam os dois grandes pólos do mundo na época, o Islâmico e o Cristão. Lá hoje, em uma rua qualquer, você escuta o sino da igreja, a reza muçulmana ecoando, enquanto encontra judeus ortodoxos entrando na sinagoga.
A diversidade de uma cidade tão pequena quanto Sarajevo é impressionante. Moças de burca andando ao lado de outras com saltos altos e saias mínimas. Essa mistureba não é à toa: nos últimos 100 anos, Sarajevo foi parte de nada menos que 6 diferentes países. Além de ter participado ativamente na Primeira e Segunda Guerras, o que realmente marca a visita é o passado recente de conflitos após a quebra da Iugoslávia: você vê os sinais nas ruas, nos prédios, e no coração dos moradores. Dar a volta por cima após sentir o quanto a vida é efêmera, ao mesmo tempo, desenvolveu uma nova geração crescente de criatividade, rejuvenescimento e abertura. Afinal: a vida, essa, acaba a qualquer momento.
Sem dúvida, é uma parada imprescindível quando nos Balcãs.
A cidade toda é feita para fazer a pé, mas se você estiver com preguiça, não hesite em pegar um táxi, eles são bem baratos e honestos. Se se perder, não hesite: vá para baixo. É que o centro fica às margens do Rio Miljacka, portanto o ponto mais baixo da cidade. Minha sugestão é acordar cedo e subir até Vratnik, um dos bairros mais antigos da região (tem mais de 700 anos). Se conseguir, vá ver o nascer do sol dentro do forte Žuta tabija, o forte amarelo. Diz a lenda que o canhão do Império Otomano foi enterrado lá, mas nunca encontraram. Mas nos tempos modernos, durante o Ramadam, eles disparavam um canhão ao pôr do sol para celebrar a quebra do jejum – hoje continuam fazendo o mesmo, porém com fogos de artifício. Outro forte próximo é o Bijela Tabija, ou o forte branco, que serviu de base militar, com armas e cavalos, também uma linda vista.
Seu manhã não será a mesma sem um bom café da bósnia. Para tomá-lo de forma correta, primeiro um gole de água. Daí tire uma camada de espuma do topo com a colher e coloque o café da džezva no copinho, e depois coloque novamente a espuma. Se você toma com açúcar, tire um dos cubinhos da sua bandeja e coloque na boca, não no café, para dissolver enquanto você toma. O café da Bósnia é um ritual todo especial, ainda mais se tomado em um dos hamalas, bairros antigos fora do centro (como Vratnik, onde ficam os fortes) junto com os locais, e longe da zona turística. Lá em Vratnik, você achará vários: compre um pãozinho na Pekara (padaria) e pode levar na bolsa o pãozinho em qualquer um dos vários cafés de esquina.
Desça a pé, circundando o cemitério – lá centenas de pessoas foram enterradas durante a guerra da Bósnia, de 1992 a 1996.
Siga até a praça Baščaršija, a praça dos pombos. Começando por lá, encha sua garrafinha da água potável da fonte – diz a lenda que se você tomar da água da fonte, você certamente retornará a Sarajevo – e aproveite para andar todo o centro para sentir a vibração da cidade.
Se preferir, faça um dos free walking tours, como o do Neno ou da Sarajevo Insider, que levam aos principais pontos do centro da cidade explicando a rica história, a sociedade, arquitetura, e como é a vida na cidade. O tour é gratuito e depende apenas de gorjeta (em geral o pessoal deixa por volta de 10 km (20 reais, em Setembro/2016). Você passa pela Ponte Latina, pelo At-Mejdan, a Mesquita do Imperador, a Prefeitura, Bravadziluk, Kazandziluk, Bascarsija, Caravan Saray, Mesquista do Ghazi Husrev Bey, a livraria, o bazar, as sinagogas do bairro judeu e a Catedral. Ótimo para uma rápida visão do que a cidade tem a oferecer.
O prato nacional orgulho da nação é Ćevapčići: algumas salsichas de carne moída com gosto similar a um kafta, com pão feito em casa e cebolas, sempre acompanhados de um belo iogurte. Honestamente? Não vejo nada demais, mas dizem que é heresia passar por lá sem comer. Então é melhor tirar a prova ali no centro mesmo, onde há um dos melhores na Cevabdzinica Zeljo (Kundurdžiluk 19, todos os dias, das 8h00 às 23h00). Para acompanhar, iogurte!
Em uma cidade extremamente carnívora, achei uma alternativa ótima para vegetarianos ou que comem peixes – Karuzo (Dženetića čikma 1, Segunda a sexta das 12h00 às 15h00). Todo decorado com temas marinhos e com poucos lugares, serve o peixe com vegetais com temperos locais que foi uma das melhores coisas que comi por lá.
Não fui, mas me recomendaram fortemente também o Nanina Kuhinja (cozinha da avó), ótimo para provar a comida local com preços excelentes. (Kundurdžiluk 35, Todos os dias, das 8h00 às 23h00).
Para entender Sarajevo, é importante conhecer profundamente a história.O cerco de Sarajevo foi o mais longo cerco da história da guerra moderna, pelas forças sérvias da autoproclamada República Srpska e do Exército Popular Iugoslavo. Durou de 5 de abril de 1992 a 29 de Fevereiro de 1996, durante a Guerra da Bósnia, entre as mal equipadas forças de defesa da Bósnia e Herzegovina, o Exército Popular Iugoslavo e o Exército da República Srpska, situados nas colinas que rodeiam a cidade. Há vários tours que explicam essa história recente, como o Times of Misfortune da Sarajevo Insiders.
Quase todo mundo que você conversar tem uma história pessoal sobre a guerra: os mais jovens eram crianças, os mais velhos participaram ativamente, e muitos de suas famílias deram suas próprias vidas pela sua liberdade.
Para se ter uma perspectiva, é importante conversar com várias, várias pessoas. Você vai escutar sobre como era viver sem comida, água, electricidade, gás. Como as crianças eram educadas, como tentavam estudar – para mim, foi o mais próximo que já senti de uma população que sabe o que significa viver, na pele, uma guerra. E se você conversar com um bósnio, vai ser diferente de um sérvio, que é diferente de um turista. Minha opinião? Pergunte, escute, aprenda, não discuta. É muito recente para qualquer opinião de fora.
Durante toda a cidade você vê as marcas da guerra: as Rosas de Sarajevo, marcadas no chão, foram onde aconteceram mortes com bombas. Nos edifícios, principalmente às margens do rio, há marcas de armas por todas as partes.
No Museu do Túnel você passa por 20 metros do túnel original, que era a única passagem de suprimentos e pessoas durante aquele tempo. A ONU teve muitos acertos e erros. Aliás, é ótimo dar uma olhada no documentário da BBC sobre a Iugoslávia antes de ir para lá. Os tours são informativos, porém com uma pegada um pouco exagerada de comercialização em cima da guerra. Para ir ao museu, ou vá em um tour, ou pegue um táxi (se vocês estiverem em 2 pessoas, melhor pegar um táxi – com transporte público é bem fora de mão).
Outro lugar interessante para eles são as “ruínas” do que foi a instalação dos Jogos Olímpicos de inverno de 1984. Era a primeira vez que um país comunista recebia os Jogos de Inverno. Participaram um recorde de 49 países. Porém lá, o legado foi bem pequeno, principalmente pela destruição completa das instalações durante a guerra. Ainda assim, os moradores tem muito orgulho de ter recebido os jogos.
Dentro da cidade, você pode visitar também o The Ars Aevi Museum of Contemporary Art, que convida artistas a doarem peças, em um sistema inovador de manutenção do museu.
Seu happy hour tem que ser, obrigatoriamente, no meu café favorito do mundo: o Zlatna Ribica (Kaptol 5, Bascarsija | Vječna vatra, Sarajevo, 08h00 às 23h00). Fica próximo ao Eternal Flame, um memorial aos civis e militares mortos na guerra.
O bar é decorado com instrumentos musicais, luzes, pequenos televisores preto e branco, discos de vinil, num ambiente kitch e incrivelmente lindo.
Outro lugar que vale a visita é a cervejaria local Sarajevska Pivara (Franjevačka 15, Sarajevo, Todos os dias das 10h00 à 1h00), mais pela visita ao prédio histórico. Meio cara pela qualidade, foi fundada em 1864 e foi uma das primeiras produções do país. Peça linguiças para acompanhar.
Ao lado do Rio Miljacka, uma construção interessante é a “Inat kuća” (A casa do Despeito), que pertenceu a um velho homem chamado Benderija. O governo queria demolir a casa e ele não permitiu – após muitas negociações, ele disse que abriria mão da sua residência, mas se eles movessem a casa, exatamente como é, para o outro lado do Rio. Hoje ela é um restaurante tradicional lá de Sarajevo. (Veliki Alifakovac 1, Sarajevo, Todos os dias, das 11h00 às 23h00).
Para jantar no centro da cidade, que tal um restaurante que tem mais de 400 anos de idade, e cardápio ainda similar ao original? Bem no centro há o Aeroplan (Restoran Aeroplan Sarači 6, 71000 Sarajevo – Segunda a Sexta das 08h00 às 23h00), com várias comidas típicas. Experimente as mini cebolas recheadas com carne.
Para um jantar mais moderninho, o Apetit Restaurant (Josipa Stadlera 6, Segunda a Sábado, das 11h00 às 22h00) apresenta uma proposta alternativa: sem cardápio, só com ingredientes sazonais, feito para poucas pessoas .
Balada não é o forte da cidade. Muitos gostam de pubs no centro que lotam de gringos. Entre as opções ligeiramente mais locais, o Café Barometar (Branilaca Sarajeva 23, Das 07h00 às 00h00) tem uma decoração moderna, que contrasta um pouco com a música um pouco mais coxinha do lugar. Ali ao lado tem vários barzinhos para pular de um em um até achar um para chamar de seu.
Já pra escutar um jazz a opção é o Rock & Jazz Club Underground (Marsala Tita 56, Sarajevo – Horário e preços dependem do dia, checar a programação no site), com bandas bem bacanas e um precinho camarada para entrar. Para acompanhar, um vinho tinto Blatina, típico da região.
Sarajevo é uma cidade barata, e olhando todas as opções, percebi que o AirBnB tinha as melhores. Fiquei em um apartamento no meio do bairro de Vratnik, super fofo e bem econômico, no meio dos locais. O anfitrião fez até tour comigo, recomendo.
Sarajevo ferve mesmo durante seus festivais culturais: o Sarajevo Winter, o Baščaršija Nights, o Sarajevo Film Festival e o Jazz Fest.
Se tiver mais tempo, durante o inverno há montanhas de neve e estações de esqui, a menos de 30 minutos do centro da cidades: Bjelašnica, Igman e Jahorina. Para quem curte uma caminhada, você pode ir aos cânions – Umoljani, Lukomir – um dos lugares mais isolados da Europa, a 1.500 metros de atitude.
Convencido a não pular a Bósnia?
Seu exacerbado entusiasmo pela cultura, fauna e flora dos mais diversos locais, renderam no currículo, além de experiências incríveis, MUITAS dicas úteis adquiridas arduamente em visitas a embaixadas, hospitais, delegacias e atendimento em companhias aéreas. Nas horas vagas, estuda e atua com pesquisa de tendências e inovação para instituições e marcas.
Ver todos os postsAcabei de ler o romance A rosa de sarajevo e lendo essa postagem fiquei com muita vontade de conhecer.
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.