Em 2000, nós brasileiros fomos tomados de assalto por um programa de TV que viria a revolucionar a nossa relação com a telinha. O “No Limite” foi o primeiro reality show brasileiro e inaugurou um rol enorme de Big Brothers, Casas dos Artistas, Fazendas e por aí vai. O formato fez muito sucesso, claro, mas eu lembro que uma das cenas mais catárticas desse programa dominical era a prova em que os participantes tinham de comer coisas estranhas, como olhos de cabra, gafanhotos e larvas vivas. O Zeca Camargo jurava que todos os petiscos eram iguarias em algum rincão do mundo, mas eles – e o público – não se convenciam disso, haja vista a cara de nojo com que mastigavam os petiscos.
Fast forward 15 anos (nem é tanto tempo assim!) e o mundo está mudando. Catástrofes naturais, escassez de recursos, população crescente e aquela sensação perene de que a humanidade está à beira do abismo fazem com que muita gente perca o sono pensando em como vamos sobreviver nos próximos anos, décadas e séculos. Uma das maiores preocupações é saber se vai haver comida para todo mundo e, brigas entre carnívoros e veganos à parte, precisamos achar uma nova forma de nos alimentar, diferente daquela a que já estamos acostumados.

Com isso em mente, o chef Adam Holcroft abriu nesse ano o primeiro restaurante da Grã-Bretanha dedicado à entomofagia, ou o hábito de comer insetos. Ele acredita que os pequenos invertebrados podem ser a solução do futuro para conseguirmos nossa cota diária de proteínas, e, quem sabe assim, deixarmos os mamíferos, aves e peixes em paz. O Grub Kitchen fica em Haverfordwest, no País de Gales, dentro da fazenda de insetos da entomologista Dra. Sarah Beynon, que já é uma atração turística na cidade. A ideia do chef, que não é assim tão ingênuo, não é substituir completamente as carnes por invertebrados. Mas seu objetivo é fazer com as pessoas comecem a encarar essa opção de alimentação com mais normalidade e naturalidade, pois um dia poderemos realmente precisar incluir os insetos na nossa dieta.

O cardápio é todo sazonal, com ingredientes orgânicos e pratos bem elaborados. Alguns não assustam tanto, como os preparados com massa de farinha de grilos torrados e triturados. Outros já são mais tensos, como os burritos de larvas, o hambúrguer de bicho-da-farinha, grilo e gafanhoto servido com polenta frita, e o sorvete de lagarta. Mas calma, para os fracos, tem comida “normal” também (se quiser ver o cardápio completo, confira aqui). Normal, assim entre aspas, porque a FAO indica que mais de dois bilhões de pessoas ao redor do mundo se alimentam regularmente de insetos. No Japão se come vespas, na Tailândia, formigas, e em alguns países africanos se come mariposas e cupim (não o do boi).

Eu estive na Tailândia e vi aquele monte de escorpiões e besouros fritos para vender, mas parecia muito golpe pega-turista, porque não vi nenhum local se deliciando com um espetinho por lá. Mas pesquisando um pouco sobre a entomofagia, descobri que ela está mais perto do mundo ocidental do que imaginamos. O próprio Noma, dito o “melhor restaurante do mundo”, usa formigas nos pratos com bastante frequência. E fora isso, achei ainda algumas listas de restaurantes que servem insetos em Nova York, nos Estados Unidos, e até no mundo todo. A proposta me parece bem interessante, mas enquanto o futuro não chega, vou continuar me deliciando com os petiscos tradicionais.
As fotos do post são todas do instagram do Instagram do restaurante.
Foto do destaque: Shutterstock – wasanajai