Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Viajar é preciso, mas alimentar-se é indispensável. E o ditado popular “saco seco não se põe de pé” define bem o porquê de nos repetirmos tanto sobre o assunto “comer”. A verdade é que a humanidade não sofre ameaça de extinção por falta de roupas, calçados, produtos de higiene pessoal, cosméticos e nem mesmo vinho (escrevi mesmo isso?). Só mesmo a falta de comida, água e oxigênio encerraria a nossa existência nesse planeta.
Pois bem, coisa que nós brasileiros gostamos é comer. Não há crise nesse assunto, estamos sempre prontos. Para muitos de nós a maneira de distribuir as refeições é: café da manhã, lanchinho, almoço, lanchinho e jantar. Divididos isso em comer bem ou comer para passar a fome. Subdivididos em comer bem e pagar pouco ou muito, e comer para passar a fome se divide em self-service ou rodízio. Dentro das opções oferecidas para a modalidade comer bem – pagando o justo – está o conceito de supper-club que caminha na contra mão dos restaurantes tradicionais.
Não confundir Supper club com Super club, nem com restaurante. Supper clubs são jantares sociais estabelecidos em casas particulares ou comerciais que fecham as portas para um grupo, promovidos para amigos ou para desconhecidos e com admissão previamente estabelecida. Também conhecidos como bistrôs, restaurantes secretos, paladares, portas fechadas, pop-up restaurantes, guestaurantes, speakeasies, anti-restaurantes. O preço, o menu e a frequência variam de “club” para “club”. O tipo de publicidade usada é boca a boca ou em eventos criados e compartilhados nas mídias sociais. Um super club é aquela boate legal onde a gente se joga e só vai embora depois de três dias.
Os primeiros registros de supper clubs foram por volta de 1930s e 1940s, simultâneamente nos Estados Unidos, America Central e Europa. Na ocasião, jantar era considerado um “evento” onde os participantes seguiam noite a dentro, começando com uma programação de cocktails e terminando com música após a refeição. Atualmente a fórmula é flexível, pode ser jantar com ou sem bebidas, jantar com ou sem música, com ou sem filme. Existe até uma vila nos Estados Unidos que se auto promove como a “Capital dos Supper-Clubs no Centro-Oeste Americano”, o Calumet County, com 30 guestaurantes e mais de 70 casas servindo peixe às sextas.
Para o viajante que esteja à procura de uma experiência que vai além de sentar em um restaurante e comer bem, uma boa opção seria entrar em contato com um guestaurante ou supper club. Pois além da experiência em si de participar em um jantar “tailor made” para ocasião, o número limitado de pessoas sempre garante a interação de todos e transforma o jantar em um evento.
Pesquise em sites como o CoP, Blogs e Google por #supperclubs, faça o quanto antes pois os eventos nem sempre são regulares e existem listas de espera. Depois de enviar um email ou preencher um formulário disponível na website, a maioria dos grupos envia uma mensagem de volta com perguntas sobre você (responda exatamente o que foi perguntado e não force barras). Sempre conferir o menu antes de submeter o seu pedido, caso o menu seja secreto ou não seja divulgado com antecedência, mantenha em mente suas alergias ou restrições alimentares. Não haver dress code não significa que você pode escolher a sua pior roupa. Vale se vestir de maneira confortável e perguntar se há alguma restrição, tipo não é por ser Lisboa no verão que você pode ir de havaianas (ou talvez sim!).
Espere o que foi anunciado no convite: o tipo de menu, a qualidade e quantidade de bebidas e extras. Uma refeição que custa Eur-5,00 pode valer Eur50,00 em termos de sabor (o contrário já não seria aceitável), é só eleger o bom senso na hora de avaliar a situação antes de julgamentos. Higiene na cozinha, pratos, copos e talheres limpos, serviço cordial e pontualidade são responsabilidades dos organizadores. Sobre a experiência: tudo que for aceito como “surpresa” deixa pouca margem para reclamação, tudo que for definido antes pode ser cobrado.
Tudo que você cobraria de um “super club” ou restaurante, deixe em casa na hora de ir para um supper club ou guestaurante. Para conseguir usufruir melhor dessa experiência você precisa estar disponível para algumas coisas que acontecerão de maneira diferente de um restaurante tradicional: cardápio, serviço, pessoas e ambiente. Em alguns casos, os eventos são em casas particulares, e nesses casos o respeito e delicadeza da parte dos convidados, devem ser duplicados.
A gente sabe que Supper club melhor que a casa da mãe (avó ou tia) “está para nascer”, mas seguem algumas opções que talvez possam competir… :) Voilà!
I eat you. Berlim é f•da (.) Esse supper club, formado por criativos e afins, eleva o ato de jantar para um patamar acima do convencional. Focam na experiência como um todo e no desenvolvimento de um menu surpreendentemente delicioso para jantares cuja a finalidade é conectar artistas, performers , designers, filósofos, músicos… Esse grupo organiza jantares esporádicos imperdíveis para qualquer criativo que estiver em Berlim. Além disso, podem ser contratados como curadores, produtores e chefs para eventos já existentes, diretores de arte para a concepção de idéias ou como guias em Berlim. Trabalham com empresas ou indivíduos. Preço, menu e locação variam. Admissão através deste formulário.
Os organizadores do supper club do metrô (The Underground Supper Club), começaram um dos jantares mais concorridos de Londres na cozinha do apartamento Brixton alguns anos atrás e a coisa deu tão certo que hoje ocupam um vagão aposentado em 1967 na linha Victoria para Walthamstow. O sucesso com os jantares no vagão foi tanto que em janeiro deste ano começaram também a servir o menu em um barco antigo datado de 1914, atracado em Barking. O preço do menu do supper club no metrô custa entre £40 e £55, e £38 no barco. A comida é boa mas a experiência é o que conta aqui. Reservas através deste link.
O Whisk & Ladle faz jantares esporádicos no próprio loft em Williamsburg e são considerados autoridade dentro da supper scene pelo tipo de jantares que promovem e por conta do ambiente que conseguem criar, além dos cocktails incríveis e os chefs f•dões que eles conseguem. Eles são super seletos na escolha dos participantes mas qualquer um pode pedir para participar. Dica: em nenhuma parte do processo implore para ser aceito, manter a dignidade funciona bem na hora de conseguir um lugar na mesa deles. Preço e menu variam. Os encontros são sempre no mesmo loft. Para ser informado sobre as datas, precisa preencher o formulário on line, eles responderão com algumas perguntas e “daí, já se vê”.
Os jantares oferecidos pelos The Gastronauts acontecem mensalmente em restaurantes escolhidos no perímetro urbano de NY, São Francisco, Washington e LA. São jantares para quem está disposto a comer tudo (no próximo menu está sopa de sangue de porco! Bem… É mesmo take it or leave it, e pelo jeito muito mais “take it“: raramente sobram lugares. Já serviram tripas, insetos, cérebros e miúdos de roedores. E uma vez servido você terá que pelo menos experimentar. Preço, menu e locação variam. Incrições através deste link.
O Blind Tiger é dos supper clubs mais curtidos que eu já participei! O casal de portugueses Marco e Joana, depois de 11 meses juntos em Madagascar, resolveram voltar para Portugal e transformar um imóvel antigo no centro de Lisboa em um espaço que incorpora cozinha industrial, bar, lounge e um mezanino que faz uso do pé direito da antiga casa ainda com estrutura de pedra. Em cima estão o banheiro e um open space onde ficam as camas. Sim, eles moram lá! E isso faz da experiência toda algo ainda mais exclusivo: um jantar, a curadoria dos vinhos, e por vezes dj ou banda na sala de casa. Pela mesa do Blind Tiger já passaram brunchs e jantares elaborados para amigos, empresas e eventos privados. Preço e menu variam. Os jantares são sempre no mesmo local. Reservas através da página no Facebook.
O Alfama-te não é bem um supper club. É uma comunidade de amigos que compartilha o amor pelo bairro de Alfama em Lisboa e resolveu atuar como guia e produzir eventos no bairro. Um desses eventos que realizam é o jantar realizado para 10 pessoas (que não podem se conhecer) em pátios do bairro. Mais informal impossível, a mesa é montada na calçada, a comida é feita por mamas portuguesa locais e voilà! Preço, menu e locação variam. Admissão pode ser feita através da página no Facebook.
Não deve existir país com mais supper clubs por metro quadrado que Cuba, e lá chama-se Paladar. É tão popular comer em um paladar quanto ir a um restaurante, e pessoalmente os paladares são muito melhores. A diferença entre um paladar e um supper club é que os paladares estão abertos ao público, e você pode simplesmente entrar, sentar e pedir uma refeição. As refeições são estilo PF, muitas vezes servidas nas varandas ou pátios das casa. O meu preferido em Havana é o da Doña Etimia, apesar de já não ser no “quintal” a comida se mantém caseira e é deliciosa. Preço e menu variam. Endereço: 60-C, Callejon del Chorro, Havana Reservas: (07) 8611332
Holandeses da cidade grande adoram apps, mídias sociais e tecnologia, então em Amsterdã já existe a versão dutch do Share Your Meal, uma espécie de “club virtual da tupperware” e maneira online de dividir refeições entre os vizinhos, que na Holanda chama-se Thuis Afgehaald. Funciona assim: você se inscreve para disponibilizar ou comprar refeições dos “vizinhos”, o site mapeia (estilo google) quem está online e o que está disponível; que tipo de refeições e por quanto. Também servem de plataforma para eventos, o que os torna uma espécie de supperclub comunitário. Preço, menu e locação variam. Inscrições através deste link.
Para quem prefere uma experiência sem o intermédio de interfaces on line, a Mary Calderaro organiza o Ons Botecohuis: encontros culinários e degustações esporádicas e informais na própria casa. A Mary é prata da casa, e por ser brasileira tira da manga picanhas, pães de queijo e coxinhas… #os-gringo-pira. Preço e menu variam. Os jantares são sempre na casa dela. Reservas podem ser feitas através da página no Facebook.
Eat with é uma plataforma que também explora o conceito supper club de uma maneira interessante: qualquer pessoa pode inscrever sua cozinha, basta submeter um vídeo e ficar disponível como host. E qualquer um, de passagem (ou não) pela cidade pode solicitar um jantar nas cozinhas disponíveis. Leia aqui a experiência dos Cláudios com a interface. Mais supper impossível!
*Foto destaque:Sergio Stakhnyk – Shutterstock.com
A Priscilla escolheu como mantra a frase de Amyr Klink: "Pior que não terminar uma viagem é nunca partir". Adora mapas e detesta malas. Não perde uma promoção ou um código de desconto e coleciona cartões de fidelidade. Nas horas vagas é diretora de arte, produtora de festas, dj e coletora de lixo nas ruas de Amsterdã. Escreve aqui e no www.almostlocals.com
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.