Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Seria impossível não inaugurar esta rubrica tendo Lisboa como ponto de partida, já que a cidade, na minha opinião, deveria receber o título de capital gourmet européia. Pois na capital lusa, que é cheia de opções para o dia ou noite, come-se bem, bonito e (relativamente) barato. E sim… claro que curto a haute cuisine francesa, tapas espanholas e pinchos vascos, e a versatilidade com que a batata é incorporada nas receitas dos nórdicos, mas como brasileiríssima, não resisto à tentação que é sentar à mesa onde qualidade é proporcional à quantidade.
Falando em restaurantes, algo que não pode faltar no cardápio e no ambiente é identidade. Independente de qual seja o conceito, é preciso que exista passado, presente e futuro dentre as opções e que estas possam circular livremente por entre as mesas. Enquanto espero pelo gran finale em um restaurante, sempre me ocupo com os detalhes; louça, talheres, guardanapos, luminárias, pintura (ou papel) da parede, teto e principalmente… a trilha sonora. E sem a explicação dos porquês, não há diálogo entre os cinco sentidos vitais para que exista uma imersão total em qualquer que seja a experiência.
Em funcionamento desde 2013 no Cais do Sodré em Lisboa, a Casa de Pasto Corpo Santo é daqueles lugares para voltar sempre que estiver na cidade. Virou lugar do coração logo na primeira visita, quando participei de uma degustação com o intuito de conhecer a proposta gastronômica do chef e diretor executivo Diogo Noronha. Inspirado nas populares “casas de pasto” da cidade até o final do século XIX, ele resgatou a essência tradicional do lugar sem desrespeitar suas características, permitindo que exerça uma função contemporânea com todo o charme.
Durante a degustação, fui surpreendida com conservas caseiras, um tempurá de carangueijo absolutamente divino, sardinhas da estação, creme de legumes frio com figo (minha fruta preferida) e vinhos que casavam perfeitamente com os mimos culinários servidos, executados com perfeição pelo chef Nélio Mendes e do pasteleiro Clayton Ferreira, nosso conterrâneo, que tem arrancado suspiros com a sua duchesse celebrada internacionalmente. A Tânia Neves (fotógrafa deste artigo) se deliciou com as carnes de porco e de gado, grelhadas ou cozidas lentamente em fogo baixo. Percebi que a preocupação principal da cozinha é executar um cardápio cheio de ingredientes da estação – ou seja, um novo menu a cada seis meses – escolhidos e aprovados cuidadosamente por Diogo, que também faz a escolha dos vinhos para a carta e da trilha sonora que muitas vezes passeia pelo Jazz e termina a noite com com um beat (ou vários) a mais.
Existe uma conexão muito forte com a autenticidade em todos os empreendimentos do Grupo MainSide (responsável por projetos como o Lx Factory e a Pensão Amor). Para a Casa de Pasto Corpo Santo, foi convidado o artista conceitual português Leonel Moura para uma instalação sonora e visual; é impossível não se maravilhar com porcos gigantes luminosos que nos olham de cima para baixo, pendurados ao ar livre no espaço para fumantes, ou a viajar um pouco na trilha sonora e ambiente divertido que se tornou o toilette feminino.
Em uma segunda ocasião, não houve falhas, e o nosso grupo de seis foi recebido por uma equipe super consistente e, acima de tudo, muito atenciosa às nossas vontades, tendo em vista que fomos em uma noite de sábado onde todas as mesas estavam ocupadas.
Virei fã absoluta do superstar barman Fernão Gonçalves no dia que experimentei o cocktail de ervilha e rúcula assinado por ele no Picknic Eletronic. E ninguém menos que o próprio assina a direção criativa e execução dos drinks servidos no cocktail bar da Casa de Pasto, que é um pequeno oásis para quem vai ou não jantar. Além da carta de cocktails, é possível pedir petiscos no balcão. Peça um de cada pois são igualmente deliciosos e o melhor é nem tentar escolher. Como já fui totalmente “catequizada” por Fernão, confiei na sua indicação do que seria o cocktail perfeito para começar a noite.
• Reserve por telefone. Mesmo que seus amigos locais digam que não precisa. Se Mick Jagger reservou…
• A “Barriga de atum” não se encontra no cardápio pois depende da qualidade do atum pescado, mas é um prato que vale bastante experimentar. Pergunte por ele e com sorte você poderá saborear esse manjar.
• Pode confiar na equipe no que diz respeito à indicação de que vinhos devem acompanhar as refeições. Todos trabalham em perfeita sintonia com a proposta do chefe.
• Aperte as galinhas e porquinhos pendurados no teto e sorria. É para isso que estão lá, além de remeter à decoração original do lugar.
• A Vinharia que fica no térreo é uma espécie de recepção da Casa de Pasto. Vale muito dar uma parada lá antes ou depois do jantar para a descoberta de vinhos assinados por enólogos conceituados desenvolvidos especialmente para a Casa, que ainda se encontram nos tonéis e são engarrafados na hora. Para quem gosta de experimentar algo novo, tipo monocastas e exclusividades o anexo é um paraíso.
Casa de Pasto Corpo Santo
Rua de São Paulo, 20 – 1, 1200-428 Lisboa, Portugal
+351 – 96 373 99 79
Horários aqui.
* Imagem destacada: Nuno Correia para Casa de Pasto
A Priscilla escolheu como mantra a frase de Amyr Klink: "Pior que não terminar uma viagem é nunca partir". Adora mapas e detesta malas. Não perde uma promoção ou um código de desconto e coleciona cartões de fidelidade. Nas horas vagas é diretora de arte, produtora de festas, dj e coletora de lixo nas ruas de Amsterdã. Escreve aqui e no www.almostlocals.com
Ver todos os postsGostaria de sugerir uma sugestão de pauta p vcs, site onde as pessoas oferecem jantares em suas próprias casas http://www.dinneer.com
Opa, vamos dar uma olhada :) obrigada
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.