Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Quando coloquei na cabeça que conheceria Myanmar fiquei obcecada pelo país. Depois a ideia foi para a gaveta, vieram outras viagens e, só então, em meados do ano passado eu decidi que finalmente iria para a Ásia e Myanmar seria um dos países que eu visitaria. Viajamos em 6 amigos (incluindo o marido), mas só chegamos 2 em Myanmar (e não era o marido).
Myanmar saiu esse ano em várias listas de destino para ir. Uma rápida pesquisa no google e acho Myanmar nas “hot lists” de lugares para conhecer em 2015 na National Geographic, Rough Guides, Skyscanner Austrália, Boston Globe, além de ter Yangon em 25º lugar nos destinos mais baratos para mochileiros. E de fato é. Myanmar ou Birmânia ou Burma, é o país do contraste. São milhares de templos espalhados pelo país, alguns feitos de ouro, mulheres com roupas coloridas e maquiadas com thanaka, pescadores “bailarinos” que transformam o Inle Lake num espetáculo a céu aberto. Na contramão, a miséria exposta a olho nu.
Myanmar faz fronteira com a Tailândia, Bangladesh, Laos e China. O país esteve sob ditadura militar ferrenha até 2011, quando o atual presidente Thein Sein ganhou as eleições colocando um ponto final numa história de 50 anos de poder militar. Desde então o país recebeu 9 bilhões de dólares de investimentos externos e não pára de crescer. Os hotéis começaram a lotar, novas redes começaram a aterrissar no país causando um aumento de 350% no valor das tarifas. Se em 2014 era difícil utilizar cartão de crédito internacional no país, agora já não é mais, em janeiro último conseguimos pagar hotéis e alguns restaurantes (internacionais) com cartão, além de ter conseguido sacar dinheiro no caixa eletrônico. Internet também já está a menos de R$ 20,00 de distância e com conexão melhor do que a que temos por aqui.
Quando embarquei num vôo da Bangkok Airways me deparei com um artigo que falava sobre o novo momento criativo de Yangon, mostrando o quanto a capital está fervilhando de novidades. E está mesmo. A leitur me surpreendeu em relação a tudo que eu tinha lido antes do meu embarque rumo à Ásia A capital está florescendo para uma nova era em que o país segue a passos galopantes. Na contramão há muito, mas muito mesmo para fazer. O país ainda tem cerca de 70% da população vivendo sem energia elétrica e na zona rural do país em condições extremamente precárias. Saneamento básico é um sonho para a maioria. Prepare-se para ver esgoto a céu aberto em todos os cantos pelos quais passar, incluindo no centro de Yangon. A mortalidade infantil também é altíssima: 40 a cada 1.000 nascimento e 51 a cada 1.000 crianças abaixo de 5 anos. A expectativa de vida, diferentemente da maior parte da Ásia, é de 65 anos.
Mas o país tem uma previsão de crescimento de 8% na economia para 2015, lembrando que a média mundial em 2014 foi de 3,3%. Recentemente (jan) o Exército libertou mais de 400 crianças soldados (menores de 18 anos), recorde desde que um pacto sobre o tema foi assinado com a ONU em 2012. Ou seja, mudanças de fato estão acontecendo e o mundo está de olho. O diretor da região do Sudoeste Asiático do Banco Mundial tem feito visitas ao país, aberto discussões sobre melhorias e pontuado cada um dos problemas mais graves a serem resolvidos, em especial energia elétrica e saneamento básico.
Claro que com todas essas mudanças, abertura do país e da economia, nada mais natural que o turismo comece a bombar, especialmente num lugar onde há tanto para se ver. Pegar esse início traz uma experiência completamente diferente (nem sempre fácil) do que chegar num lugar em que o turismo já está consolidado. Tem um lado desbravador ao viajar por Myanmar que me encanta. Aos menos desbravadores não há preocupação. É possível fazer tudo de forma planejada com agências de turismo ou guias locais (prefira guias independentes, assim você ajuda quem precisa ao invés de deixar seu dinheiro nas mãos do governo). É muito comum ver grupos de terceira idade (aliás, eles são maioria) indo e vindo pelo país, em geral grupos de turistas ingleses. Não usamos guia em nenhum momento, então não temos para recomendar, mas no Trip Advisor dá para fazer uma ótima pesquisa e achar um adequado à sua viagem.
Myanmar é predominantemente budista, então prepare-se para ver monges em todas as esquinas. Eles são gentis, risonhos e muito simples. Por isso, caso vá fotografa-lo, não deixe de dar uma gorjeta pela gentileza. Eles nunca irão pedir, pois não podem, mas ficarão felizes, já que vivem de doações.
Outra peculiaridade birmanesa é o modo de se vestir e se maquiar. Os homens estão sempre trajados em saias e chinelos, assim como as mulheres em seus longyi. É muito raro ver um homem usando sapatos, até mesmo garçons em restaurantes, motoristas e recepcionistas de hotéis chiques e mesmo funcionários no aeroporto. Eles abusam das estampas e cores, deixando o país ainda mais colorido. Sapato é algo que indica posse, o que poucos por lá tem. A maquiagem das mulheres é à base de thanaka, um pó que parece argila que, além de enfeitar, protege do sol. Muitas fazem desenhos com o pó no rosto, nos braços e até mãos. É comum ver crianças, inclusive meninos maquiados com thanaka também. Algumas chamam atenção pelo uso exagerado cobrindo totalmente a pele do rosto, formando uma crosta na pele, enquanto outras usam-a de forma extremamente delicada.
A mão no trânsito é inglesa e eles são frenéticos. O trânsito é caótico, barulhento (eles buzinam o tempo inteiro) e carregam tudo que possa se imaginar em cima dos carros, bicicletas, cavalos, vans, ou qualquer outro veículo que estejam dirigindo. É uma loucura. Vimos uma cena de uma lotação que estava lotada e eles tentavam colocar um guarda-roupa no teto, pois as pessoas não tem carro, os lugares não fazem entrega, ou seja, comprou um móvel? Vai ter que levar na lotação. E eles dão um jeito, todo mundo ajuda e quando você se dá conta, o guarda-roupa está no alto do veículo.
Nos restaurantes é comum chamar o garçom fazendo barulho de beijo. É engraçado no início, mas quando você vê, você está fazendo biquinho e barulho para que sua cerveja venha urgente para sua mesa. Uma dádiva: a cerveja costuma ser servida sempre bem gelada.
Muitos se viram no inglês, mas dependendo do lugar em que estiver, vai ter que se virar com sinais e imagens na Internet, já que o ideograma birmanês não consta no vocabulário do celular, então não dá para traduzir nada. Bagan foi onde ouvi as pessoas falando inglês melhor (muitos falam perfeitamente), incluindo as crianças, que tem que se virar enquanto segue turistas nos templos e vai contando as histórias do local, para conseguir uma gorjeta no final. E elas são adoráveis. É bom sempre ter bons trocados no bolso. Notas de 100 kyats já são de grande serventia.
E o birmanês ama futebol. Quer conquista-los? Fale que é do Brasil e eles vão soltar o nome da seleção completa da Copa, vão falar sobre seus jogadores favoritos, em especial o Neymar. Futebol é a grande paixão nacional, assim como o hip-hop, o estilo musical mais ouvido no país (especial o mais pop), o uísque e a cerveja.
As gorjetas para carregadores de mala, bares e qualquer outra coisa que você queira recompensa-los de alguma uma maneira, uma nota de 200 kyats fará os olhos deles brilharem e isso equivale a apenas 0,20 centavos de dólares. Tenha sempre trocados à mão. Eles garantirão ainda mais sorrisos, porque esses trocados de fato fazem muita diferença para eles.
Myanmar é o país da laca, produzida em Bagan. São belíssimos trabalhos laqueados como tigelas, caixas, travessas. Dá vontade de trazer tudo e é muito barato.
A moeda local é o “kyat”. A conversão é 1000 kyats = 1 dólar (o correto é 0,95 centavos). Hoje em dia é mais fácil usar cartão de crédito na cidade, pois até pouco tempo atrás não era possível sequer pagar hospedagem com cartão de crédito. Atualmente hotéis e restaurantes internacionais aceitam cartão, inclusive muitos deles tem o menu já com os preços já em dólares. No dia-a-dia para táxi, restaurantes mais simples e comprinhas, é dinheiro vivo em kyat. Ao chegar no aeroporto já faça a troca de dinheiro, pois na cidade ainda não é tão fácil achar uma casa de câmbio.
As corridas de táxis são baratas e não tão negociáveis quanto o restante do Sudoeste Asiático. Tuk tuk, quando tem, é uma boa pedida, pois os preços são mais baixos. Um táxi do aeroporto para o centro de Yangon, por exemplo, custa cerca de 8.000 kyats (ou 8 dólares), que não é nada em relação ao tempo e distância que leva entre um ponto a outro. O trânsito em Yangon é insuportavelmente parado, então pode-se levar 1 hora para percorrer os 16km que separa o aeroporto da cidade. Os passeios pra cá e pra lá sempre custam em média 2 a 3.000 kyats. Já em Bagan, o táxi é bem mais caro. Pagamos 7.000 kyats do aeroporto ao hotel e do hotel ao aeroporto por um percurso de menos de 15 minutos. A impressão que tive é que todas as corridas que fiz em Bagan custavam 7.000 kyats independente da distância. Para ir ao restaurante gastei 7.000 kyats, para ir a Old Bagan, que era muito mais longe, paguei os mesmos 7.000.
Comer é barato também, mas não comparado à vizinha Tailândia (ainda assim é barato). Os pratos custam em média 3.000 kyats (ou 3 dólares) em lugares mais simples e entre 10 e 30.000 em lugares mais chiques. A deliciosa cerveja Myanmar (sim, a cerveja é do governo) custa em média 2.000 kyats a garrafa de 1 litro e é praticamente só ela que você encontra, inclusive ela enfeita todos os lugares que couberem propaganda. Tem também a Mandalay, que é ainda mais barata, mas não tão boa.
Comer em Myanmar é uma dádiva. A comida tem muito em comum com sua vizinha Tailândia, inclusive no quesito “pimenta” e “frituras”, mas tem também pratos bem típicos. O mais típico é uma salada feita com folha de chá verde em conserva, com amendoim torrado, alho, tomate, repolho e, às vezes, mini camarão seco. É de comer de joelhos. Chama-se “lahpet” ou “tea leaf salad” e tem praticamente em todos os lugares. Outros pratos que valem a investida: shan-style rice ou noodles, curry birmanês, nangyi thoke (feito com noodle seco).
Caso passe por uma casa de chá, não deixe de entrar. Eles são obcecados por chá e os fazem como ninguém. Além do chá, a cerveja e o uísque são as bebidas nacionais. Esqueça o café.
Ter Internet à mão em Myanmar é uma mão na roda, mais do que em qualquer outro lugar que estive. Hoje tem 3 operadoras no país: Ooredoo e Telenor, recém-chegadas ao país, e a MPT, estatal, que foi a que acabamos optando e foi possível utilizar numa boa (quase) nas 3 cidades pelas quais passamos. Já faça a compra no aeroporto. Gastamos 20.000 kyats (20 dólares) pelo chip + crédito, que é comprado por minutos de uso, independente da banda. Então fique atento: ligue o 3G somente quando for realmente utiliza-lo. Com esse pacote eu consegui ficar 10 dias em Myanmar sem precisar recarregar.
Hoje é bem simples conseguir o visto para o país. O mais fácil é tirar o e-visa antes mesmo de viajar. Ele sempre chegará com uma validade de 90 dias a partir da emissão, permitindo ficar até 28 dias no país. Custa US$ 50,00 e chegou em menos de uma semana. Caso tenha decidido ir para lá em cima da hora, deixe para tira-lo no aeroporto, mas somente é possível tirar o visto na entrada do aeroporto de Yangon. O serviço de visto no aeroporto foi cancelado, então é bom ir programado.
Não há vôos diretos do Brasil e um dos melhores lugares para fazer escala é em Bangkok. O vôo de Bangkok à Yangon tem duração de 1h25 e é feito por várias cias. aéreas, mas eu super recomendo a Bangkok Airways.
O melhor é ir entre novembro e fevereiro, quando o clima é mais fresco e seco. A temperatura média nessa época é de 20 a 24ºC, ainda assim é quente (eu torrei um pouco no calor birmanês). Fuja da época das monções, que é entre maio e outubro. Nesses meses a temperatura média aumenta para 25 a 30ºC com muita chuva, o que pode ser bem frustrante num país como Myanmar.
Myanmar tem vários lugares para conhecer, inclusive praias paradisíacas e pouco exploradas. Os lugares mais procurados são Yangon, pois acaba sendo o ponto de partida no país, mas pode ser frustrante caso não tenha um bom guia ou boas dicas nas mãos; Bagan, a cidade dos 2000 templos e pagodas; Inle Lake, um dos lugares mais lindos que eu já conheci; e Mandalay. Caso queira conhecer o litoral, Ngapali Beach é considerada a mais bela e está entre os 20 lugares para ir em 2015, pela National Geographic.
Prepare-se para aventuras.
Há algumas cias. aéreas internas que fazem os trechos nacionais, muitos deles não possibilitando a compra da passagem via Internet (o sistema de e-commerce em Myanmar ainda não existe). Por isso não se espante caso receba apenas uma confirmação da reserva pedindo para efetuar a compra pessoalmente até uma data específica. Geralmente você terá que ir até o guichê da cia. no aeroporto para efetuar o pagamento. O transporte aéreo nacional é bem precário, assim como os aeroportos, com exceção do Internacional de Yangon, que é relativamente novo e está em intensas obras de expansão. Nós voamos pela Air KBZ e Air Bagan sem problemas, já a Air Mandalay nós nunca encontramos alguém no guichê para concluir uma compra de uma reserva previamente feita. Ou seja, esqueça.
As bagagens devem sempre ter até no 20kg. As passagens não são nominais e nem tem lugares marcados. No aeroporto, em especial no primeiro embarque, dá a sensação de que vai perder o vôo porque nem sempre eles informam em inglês e não há telas mostrando embarques e portões. Você sempre ganhará um adesivo de uma cor específica, relacionada ao seu vôo; uma pessoa passará com uma plaquinha com o nome do destino e portão enquanto grita em birmanês e olha para os adesivos nas pessoas, muitas vezes cutucando-as enquanto aponta para a placa para mostrar que é o seu vôo.
Não perca o ticket de bagagem, pois ele é obrigatório para pega-la de volta.
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Garanto à você: caso vá a Myanmar, prepare-se para se apaixonar pelo país, pelo seu povo, costumes, comida, gentilezas, sorrisos e belezas naturais. O país é de tirar o fôlego e de deixar aquela vontade louca de voltar e explora-lo ainda mais. Os próximos posts serão com dicas sobre Bagan, Inle Lake e Yangon. Aguardem :)
Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.
Ver todos os postsEm outro site informa que o povo de Myanmar adora ler, existem muitas barraquinhas vendendo livros, geralmente usados pela região. Aqui não foi mencionado nada a respeito. Por que?
Os livros são em birmanês?
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.