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Fui a convite da marca da Jameson conhecer a destilaria deles, em Midleton, perto da cidade de Cork, na Irlanda. Cheguei em Cork com mais 3 brasileiros e 52 blogueiros e jornalistas do mundo todo, onde fomos levados para um resort próximo à destilaria.
Além de beber grandes quantidades de whisky, aprendi várias coisas legais. Nunca me interessei muito pela variação irlandesa do whisky, já que 90% das garrafas em casa são escocesas. Não sabia ainda quais eram as principais diferenças na produção, algo que agora entendi e conto aqui.
Fomos divididos em grupos para fazer uma versão especial do tour “Jameson Experience“, uma visita guiada na destilaria desativada. O guia contou um pouco sobre a história e o processo de fazer whisky. O primeiro passo é maltar os grãos, que significa provocá-los a germinar. O processo de germinação libera os açúcares dentro do grão, importante para que a fermentação possa transformá-los em álcool. Na preparação dos grãos para fazer whisky em estilo irlandês, fornos a gás são usados para secar os grãos e parar o processo de germinação. No caso dos escoceses, a turfa é queimada em vez de seca a gás, deixando a fumaça passar pelos grãos, o que da o gosto de defumado que é a marca deles.
Visitamos os galpões onde os barris envelhecem. O ônibus passa por eles, um após o outro, todos menos os mais novos pretos. Estes são diferentes por serem completamente coberto por um fungo que se alimenta de álcool. Já antes de descer do ônibus o cheiro do álcool no ar marca presença, e ao descer, a sensação é de por o nariz dentro de um copo de whisky, só que o tempo inteiro. Aqui evapora uma garrafa inteira de whisky a cada três segundos, ou seja, 29.000 garrafas por mês! Talvez não seja o lugar mais agradável pra se estar com uma ressaca brava.
Kevin O’Gorman, que cuida do envelhecimento, recebe o nosso grupo de jornalistas e blogueiros falando um pouco sobre o impacto que a madeira tem sobre o gosto, de onde os barris vem. O que mais usam para maturação são barris de carvalho branco espanhol que anteriormente abrigaram outras bebidas, como bourbon, sherry e porto, que contribuem ao gosto de formas diferentes. A mesa cheia de copos ao lado de um barril promete um apéritif antes do almoço. Não é todo dia que a vida me oferece um whisky tão cedo assim.
Um do grupo faz as honras, abrindo o barril sob a instrução do Kevin, e serve o líquido que está lá nós esperando desde 1992. Esse é um barril americano que abrigava bourbon antes de vir pra Irlanda. O whisky direto do barril, antes de ser diluído com água, é conhecido como cask strength e o que estamos tomando tem um teor alcoólico entre 55 e 60 %. Mesmo assim desce redondo e aceitaria uma garrafa desse barril qualquer dia. Sob efeito do primeiro copo, convencemos o Kevin com muito entusiasmo a abrir mais um barril, dessa vez um espanhol que abrigava sherry antes do whisky, envelhecendo desde 1998. Para o grupo, o segundo foi o melhor. Eu fui um dos poucos a discordar, achando que o primeiro era mais balanceado e complexo. Os tons do sherry mascaram os outros gostos levemente para mim. Mesmo assim, levaria várias garrafas de cada barril se pudesse.
A destilaria hoje conta com muita tecnologia e automação, mas mesmo assim algumas coisas precisam da mão competente na massa. Manutenção dos barris por exemplo. Cada dia, 1700-1800 barris passam pela inspeção do mestre tanoeiro Ger Buckley antes de serem enchidos com whisky. Cada barril um tem uma vida útil de entre 25 e 30 anos e precisa chegar no final sem falhar, aperfeiçoando o liquido precioso dentro.
Na visita, Ger mostra as ferramentas e técnicas que ele usa para manter os barris em boa forma. As técnicas e, por grande parte, as ferramentas são os mesmos que o avó dele usava. Mesmo hoje em dia, a manutenção é feita artesanalmente, nenhum barril é exatamente igual e para não vazar os ângulos precisam ser perfeitos. Com a base de medida a olho, é preciso bastante experiência para acertar a mão.
Billy Leighton nos encontra numa sala com paredes cheias de garrafas de whisky com etiquetas feitas à mão. Cada garrafa vem de um barril diferente. A sala é usada para ensinar e mostrar como se criam os blends, um dos trabalhos do Billy, que é o Master Blender da Jameson. No caso dos whiskeys, que são vendidos em grandes volumes, o trabalho é mais para controle de qualidade do que um processo artesanal. As quantidades e qualidades que vão na mistura são controladas e parte da última leva é usada na mistura para garantir que não haja variações no gosto. Já as edições especiais, os blends super-premium, contam com uma seleção um pouco mais manual. Quem não gostaria de ter um cargo desse?
Apesar do título, criar os blends não é o principal trabalho do Billy. Ele é o responsável pelo manejo do estoque. Como whisky é uma bebida envelhecida e o tempo no barril é um grande fator para o gosto, para poder fazer os whiskies nas quantidades previstas anos para frente é preciso um planejamento e um controle de estoque complexos. Um barril, como tem que ser usado para outras bebidas primeiro, tem que ser encomendado com 5 anos de antecedência. E como quase todo whisky precisa no mínimo 8 anos no barril, sem contar com os blends que levam whisky muito envelhecido, o tempo entre planejamento e resultado é de pelo menos 13 anos.
Considerando isso tudo, até faz sentido que a formação do Billy foi em contabilidade. Espero que ele tenha uma sistema melhor do que uma planilha de Excel pra controlar os milhões de barris diferentes.
Para finalizar a visita, vemos os 3 alambiques que usam hoje em dia. Whisky é praticamente cerveja destilada e envelhecida, então até aqui o processo é praticamente o mesmo de produzir cerveja. O malte é macerado e cozido e depois fermentado, esse mosto fermentado tem uma graduação alcoólica relativamente forte, entre 5 e 13%. Na Jameson, esse liquido é destilado 3 vezes, algo que varia um pouco entre destilarias diferentes. Para whisky escocês são comuns só 2 destilações, e em outros casos um destilador de coluna é usado, algo comum para o bourbon nos Estados Unidos.
Valeu a visita? Acho que já deu pra perceber que sim, foi realmente bacana. Vale a visita para fábrica para quem estiver por lá? Mesmo sendo uma uma visita bem especial, o “normal” já parece bastante legal e os reviews no tripadvisor são positivos. Incorporaria a visita num roadtrip, começando em Cork e subindo a cênica costa oeste irlandesa.
Viaja sempre com uma mochila com camera, laptop e kindle e uma mala pequena de roupas. Nela leva mais uma mala vazia que vai enchendo ao longo da viagem. Não é fã de pontos turísticos, não gosta de muvuca e foge de filas, mesmo que seja para ver algo considerado imperdível. Por isso nunca subiu na Torre Eiffel, mesmo tendo ido várias vezes à Paris. Acredita que uma boa viagem é sentir a cidade como morador. Tanto que foi pra São Paulo em 2008 e ainda está por lá.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.