Ao ler o título deste post, você deve estar pensando que consumir maconha em Barcelona é como em Amsterdã. É melhor que você não venha com essa expectativa para Barcelona, porque aqui os clubes dessa plantinha funcionam de uma maneira totalmente diferente.
Segundo reportagem do jornal El País, publicada em 2014, existem 165.000 sócios de clubes de maconha na Catalunha. A região tem 7,5 milhões de pessoas, ou seja, 2% da população está inscrita em desses clubes. Essa porcentagem é muito inferior em relação àquela em que muita gente acredita, afirmando que, quando uma droga é liberada, todo mundo passa a usá-la.
Quer saber como é um clube de maconha em Barcelona? Separamos sete curiosidades para você descobrir como funcionam esses espaços de livre consumo da erva na cidade.
O clube da maconha é para locais ou quase locais
Em Amsterdã, qualquer um pode entrar em um coffee shop e comprar maconha. Em Barcelona, eles são clubes privados e, por isso, a entrada é não é permitida a todos. Para ser associado, você deve ser indicado por algum sócio. Além disso, eles só aceitam pessoas que têm endereço na cidade, o que em Barcelona significa “estar empadronado”. Não pense que é só preencher o endereço do seu Airbnb. O empadronamento é um documento tirado nos postos da prefeitura e você precisa levar um contrato de aluguel ou ir com alguém já empadronado, que vai afirmar que você também mora nesse endereço.
Foto: Cecília Rodriguez
E como são esses clubes?
Depende de quanto o dono quer investir no espaço. Existem alguns bem simples, apenas com o dispensário e uns sofás velhos. Outros são bem cuidados, com bares, boa música, sofás, exibições de filmes e até cursos de inglês, catalão, defesa pessoal e massagem. Os frequentadores são de todas as idades e classes. Tem uma garotada, uma galera engravatada, os hipsters, gente na terceira idade e também muitos gringos que moram em Barcelona. Cada um na sua, outros conversando com amigos, mas todos se comportando bem e com educação, como deve ser feito em qualquer lugar. Muita gente fuma e fica por lá, trabalhando. Alguns clubes tem um ambiente agradével, outros servem apenas para retirar a maconha e ir embora.
Foto: Marijuana Games
A maconha não é comprada. Ela é retirada.
Os membros do clube fazem parte de uma cooperativa. Você, ao se associar, permite ao clube plantar maconha para o seu uso mensal, que cobra uma anuidade, em torno de 20 euros, para cobrir os gastos da plantação e distribuição (a manutenção do clube). Por isso, você não está comprando a maconha, porém retirando o que é seu nessa cooperativa. Cada retirada tem um custo, que varia de acordo com o peso e o tipo de maconha que você está levando.
O ato de “retirar” e não “comprar” é muito enfatizado pelos clubes aos seus sócios, para que eles entendam que tipo de transação está sendo feita e assim reforçar a legalidade dos clubes, que estão em uma área cinzenta do código penal.
A lei e os cuidados que o usuário deve ter
Cada região da Espanha tem uma lei diferente em relação ao plantio e consumo de maconha, como nos Estados Unidos. A Catalunha é a mais liberal delas e Barcelona, sua principal cidade, concentra a maior parte dos clubes. Porém, não pense que é só retirar a planta no clube e sair fumando por aí.
Quem é pego fumando na rua leva uma multa. Já vi gente tomando multa na praia. Mas foi algo muito discreto, sem aquela comoção e dor de cabeça que é em lugares onde a erva é proibida. Os policiais agem de uma forma polida, e o usuário aceita sem violência e discussão que está infringindo a lei e leva a multa.
Ao entrar como sócio em um clube, há uma aulinha sobre como se defender em situações com a polícia. O uso no clube e outros espaços privados é totalmente legal, porém, ao sair do clube portando maconha, o usuário deve escondê-la nas suas partes íntimas. Por quê? Bem, a polícia em Barcelona só pode vasculhar sua cueca ou calcinha e sutiã se tiver um mandado para isso. Se eles acharem maconha com alguém nessas partes e não tiverem mandado, não vale de nada. Mas se o cidadão está fumando um na rua, corre o risco de levar multa.
Uma erva para cada vibe
Em países onde a maconha não é legalizada, o usuário não sabe o que está comprando. Pode ser caldo Knorr, maconha cheia de amônia ou até misturadas com drogas desconhecidas. A maconha então pode dar um barato completamente inesperado, para o bem e para o mal. Ou não dar barato nenhum.
Nos clubes de maconha, existem os menus, onde o usuário pode escolher que tipo de maconha quer. Isso varia a intensidade da onda, o sabor da erva e até que tipo de reações o usuário pode querer. A quantidade do tipo de erva mostra qual a porcentagem de sativa (que dá mais disposição) e índica (que dá aquele efeito sofá de relaxamento). Alguns clubes indicam se você vai conseguir um efeito mais dançante, criativo, falante ou se a maconha escolhida é a perfeita para fumar na praia e relaxar completamente. Ela pode ter um cheiro mais cítrico ou mais doce. Afinal, estamos falando de uma planta.
Existem alguns tipos de maconha medicinais que custam mais caro que as normais. Os clubes também são frequentados por gente que sofre de algum tipo de doença para o qual a maconha é recomendada para aliviar a dor.
As pessoas então compram maconha para quem não é sócio?
Um sócio não pode comprar 200g de maconha se quiser, pois existe um limite mensal para o consumo. Essa informação é preenchida quando alguém se torna associado e pode ser modificada a qualquer momento. O limite máximo varia entre 60g e 100g por mês. Considerando que estamos falando de uma maconha pura, é erva para caramba.
E como as pessoas fumam maconha nesses clubes?
A maconha na Europa é bastante forte, pelo fato dela ser muito mais pura do que aquela vendida geralmente no Brasil. Ela vem no formato de flor, e não em um tablete negro de origem duvidosa. Devido à sua intensidade, as pessoas na Europa costumam fumá-la misturada com tabaco. Como o cigarro de enrolar é bem comum no continente (por ser mais barato e por ter um gosto mais de tabaco e menos de outras substâncias adicionadas), todo fumante sabe fazer um cigarro decente.
Alguns clubes disponibilizam vaporizadores com balões de ar e bongs, para quem não quiser fumar porém inalar a fumaça, que muitos afirmam ser menos nocivo para os pulmões.
E onde você mora, a maconha é vendida de forma legalizada?