Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Você já deve saber que Jerusalém é um prato cheio pra quem é chegado em religião ou curte muito história. Em uma pequena caminhada pelas ruas da Cidade Antiga, você pode visitar o túmulo de Jesus Cristo, o Muro das Lamentações ou um sítio arqueológico da Idade do Cobre, além de algumas dezenas de mesquitas, igrejas e sinagogas. Mas, quando o sol se põe na Cidade Santa, chega a hora de guardar o terço na gaveta, esconder o quipá debaixo do travesseiro e preparar o estômago para alguns shots (ou chasers, como eles chamam por aqui, mantendo o sotaque em inglês).
Entre hipsters, locais e poucos turistas (o perfil do visitante médio de Jerusalém não é exatamente focado em bebedeiras, né?), a noite de Israel tem uma cena pequena, mas muito gostosa de ver: espere ser tratado como um amigo querido, conhecer pessoas cheias de histórias e, na noite seguinte, esbarrar com todo mundo de novo, mesmo por coincidência.
Depois de noites mal dormidas, conversas sem pé nem cabeça e ressacas colossais, cheguei em uma lista definitiva (olha a presunção!) de bares em Jerusalém. Prepara o bolso e já joga uns engovs na mala, porque você vai precisar!
É aqui que você vai encontrar a maior concentração de pessoas por metro quadrado na noite de Jerusalém. Dividindo a mesma esquina, o HaTaklit, o HaKaseta e o Video também são dos mesmos donos, mas cada um tem a sua própria personalidade. Se você vier com amigos, tente encontrar uma mesa na calçada; se estiver sozinho, arrume seu espaço no balcão de algum dos bares, abra um sorriso e se prepare pra ter longas conversas com o bartender ou com outros bêbados desacompanhados. Mas vamos lá, um por um:
O bar: com um salão razoavelmente espaçoso, o Hataklit talvez tenha o staff mais divertido da cidade. O som varia entre punk israelense, The Smiths e, se você der sorte, uma compilação de músicas psicodélicas brasileiras montadas pelo Serguei. Eu sei, eu sei.
Uma história: passei horas conhecendo bandas israelenses e apresentando a “nova cena” de música brasileira para eles (Fumaça Preta, Holger e Boogarins foram os favoritos). A noite terminou depois de alguns shots de rum, com uma porção de batata frita no balcão. Se você tiver interesse, é só jogar um papo e se preparar pra sair com uma lista cheia de recomendação de bandas.
O bar: o HaKaseta é um bar subterrâneo e o irmão mais novo do HaTaklit (em inglês, os bares se chamam Cassette e Record). Com capacidade pra umas vinte pessoas, é grande a probabilidade de você não conseguir um espaço dentro do bar. Vale chegar a programação no Facebook para ver o que vai rolar – de vez em quando eles conseguem encaixar na pistinha enxuta deles para um live de algum produtor ou músico.
Uma história: na calçada do HaKaseta conheci um israelense que trabalhou com uma amiga minha do colégio (Primeiro detalhe: eu sou de Teresópolis, no interior do Rio. Segundo detalhe: ela era uma intercambista húngara). Viva a globalização!
O bar: senhoras e senhores, preparem-se: o Video é o único bar gay de Jerusalém e um lugar que você precisa visitar independente da sua orientação sexual. Prepare-se para conversas amistosas, um monte de gente legal e muito álcool. A música é cheesy, mas se você animar pra jogar as mãos pro alto e cantar uma Rihanna no último volume é só se deslocar para a pista (também pequena) do bar. Se não for a sua praia, dá pra passar a noite inteira batendo papo (ou dando uns beijos) nos outros dos ambientes do bar.
Uma história: é melhor nem começar.
O bar: o Shira é uma combinação de Jerusalém e Berlim, mais ou menos. As paredes são de pedra, a arquitetura típica (e obrigatória) da cidade, mas a iluminação baixa, as paredes pixadas e o eletrônico industrial que toma o som na maioria das noites te transportam direto para a Alemanha. Ele abre durante o dia, também, e a vibe muda muito.
Uma história: o Shira também abre durante o dia, se você quiser abrir os trabalhos antes do sol se pôr. Se tudo correr bem, você vai dividr o balcão do bar com um ou dois gatos de rua que gostam de visitar – talvez eles tomem o seu drink.
O bar: o Uganda é um café durante o dia, bar durante a noite e, nos dois períodos, também vende discos, camisetas e as zines mais legais de Israel. A música vai do indie experimental até a trilha sonora do Rei Leão (por acidente) e, como só existe uma mesa, a maioria das pessoas se concentra no balcão do bar – ou seja, um ótimo lugar pra fazer amigos. Nos dias mais cheios, a galera vai para a rua e se mistura com o público do bar do lado. Imagine o Mandíbula, mas em hebráico.
Uma história: em 1903, quando começaram a procurar um território permanente para os judeus, Uganda foi um dos primeiros países a serem considerados. Por pouco, Israel não foi parar no meio da África. O nome do bar faz piada com isso e tem até uma foto do Theodor Herzl, o cara que apareceu com a proposta de criar um Estado judeu. Fora isso, espere encontrar o bartender mais bêbado e querido de Israel.
O bar: Em primeiro lugar, qualquer bar chamado 4:20 vale uma visita. Mas o 4:20 também tem bons drinks, bons preços, um balcão bem grande pra você se encaixar (a essa altura você já deve ter reparado que eu amo balcões) e muitas mesas na calçadas.
Uma história: eu não vi ninguém fumando um baseado.
O bar: o May 5th fica em uma outra parte da cidade, dentro do Mercado de Mahane Yehuda. Durante a noite, o mercadão fica tão cheio quanto de dia, mas em vez de velhinhos vendendo verduras você encontra muitos bares e muita gente legal. O May 5th talvez seja o bar mais legal do Mahane Yehuda, mas você pode visitar todos e tirar as suas próprias conclusões. O que não falta é opção.
Uma história: uma hora antes do pôr-do-sol de sexta-feira, quando o shabat está prestes a começar, um grupo de judeus passa pelos corredores do mercado tocando sinos e avisando que está na hora de fechar os bares. Reza a lenda que os comerciantes que se recusam a fechar levam broncas bem pesadas (ou pedradas, mesmo), mas não cheguei a conhecer alguém com a coragem de pagar pra ver.
O bar: OK, vamos ser honestos: o Austrian Hospice não é um bar, tá? Eu roubei no jogo, mas é porque você realmente precisa conhecer esse lugar. Além de uma cafeteria no jardim (onde dá pra tomar cerveja!) e da vista mais incrível da Cidade Antiga, eles recebem exposições de fotos e funcionam como um hostel, caso você queria passar mais um tempo por lá. Para entrar, toque a campainha ao lado da porta de madeira e espere.
Uma história: o Austrian Hospice foi construído pelos austríacos (como o nome já diz, dãr) lá no século XIX, no coração de Jerusalém. Antes de virar um hostel, ele funcionou como um hospital para pacientes terminais. Tranquilo dormir em um quarto onde uma velhinha austríaca morreu, né?
Se você é como eu e não é um grande fã de tumulto, os fins de semana em Jerusalém podem assustar. As ruas do centro da cidade ficam lotadas e pegar um drink em um bar pode virar uma tortura. Pra mim, o ponto alto da cidade é fazer um barhopping no meio da semana mesmo e não passar sufoco. Aliás, não vale esquecer que, por conta do judaismo, aqui o fim de semana fica um pouco diferente: o movimento começa na quinta-feira e vai até o sábado.
Para entrar na brincadeira com os dois pés na porta, tem duas bebidas que você precisa experimentar: o Arak, que é o destilado local (em resumo, o equivalente da nossa cachaça) e tem um baita sabor de anis, e o Tubi 60, um licor que começou a ser fabricado no país dois anos atrás e deixou todo mundo apaixonado. Até hoje, ninguém sabe exatamente quem produz e do que é feito o Tubi, mas é fácil sentir o gostinho de limão e gengibre – e ficar bastante bêbado depois do segundo shot.
As três coisas favoritas do Alex são música, comida e gin tônica. Obviamente, ele também gosta muito de viajar (mas quem não gosta?) e é um fotógrafo amador (mas quem não é?). Quando a inspiração aparece, ele relata suas experiências caóticas pelo mundo - desde uma dor de barriga em uma geleira islandesa até ficar sem-teto em Praga - no Dormi no Aeroporto - https://medium.com/dormi-no-aeroporto.
Ver todos os postsParabéns pelas dicas. Eu ainda não conheço Israel mas tenho muita vontade de conhecer, e saber onde fica o movimento é muito importante. Quero conhecer muito. Novamente: Obrigado.
Opa, que bom que curtiu. A gente também gostou e estamos com o país na nossa lista :)
Infelizmente artigos como esse acabam servindo como ferramenta de “whitewashing” dos crimes de Israel contra a população indígena palestina que inclui apartheid, limpeza étnica, colonização, “apropriação” ilegal de terra, etc. E outra Jerusalém é na Palestina e não em Israel apesar do mesmo já ter se “apropriado” ilegalmente da parte ocidental da cidade. E se Israel fosse na Uganda?…
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.