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Grandes viagens, Grandes livros

Quem escreveu

Jade Gola

Data

18 de September, 2015

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Viagem é cultura. Afinal, é em viagens intensas e jornadas que nos deslocamos de nossos confortos e observamos povos, cenários e nações diferentes – outras culturas de fato. Nesse sentido, viagens são temas ideais para livros: além do gênero de leitura de viagem de fato, grandes e surpreendentes deslocamentos de personagens pelo mundo são motivos para livros inesquecíveis.

Como aqui no Chicken or Pasta viajar é nossa cultura inegável, separamos uma lista com best-sellers do momento, romances e obras etnográficas clássicas, além de outros cronistas de locais e de viajantes. Pois se há grandes viagens, há grandes livros!

1. A SAGA DOS TRISTES TRÓPICOS

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Lançado em 1955, essa obra clássica da antropologia narra aventuras, pesquisas e reflexões do etnógrafo francês Claude Lévi-Strauss em suas viagens nos anos 1930 por rincões do planeta – em destaque, o interior e as florestas habitadas de indígenas do Brasil. Lévi-Strauss foi da comissão de professores franceses que ajudou a formar as faculdades de humanas da USP e, em suas longas estadias no Brasil, aproveitou para viajar e pesquisar regiões brasileiras como Goiás, Mato Grosso, Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso do Sul, o pantanal e a Floresta Amazônica. Suas observações de hábitos, costumes e configurações das mais diversas tribos indígenas (Bororós, Tupi, Cadiueu, Nhambiquara, entre outros) são um dos grandes estudos de caráter científico sobre esses povos e a formação do Brasil recente, um feito memorável a partir de uma coleções de relatos de viagens.

Lévi-Strauss é dotado de fina ironia (o capítulo em que alfineta a intelligentsia paulistana da época é excepcional), posiciona-se como um participante ativo, de olhar filosófico e interdisciplinar na observação do “Novo Mundo”. E a saga Brasil adentro do estudioso não só concebe o ofício do etnógrafo, como também traz considerações sobre viajar e posicionar-se junto a outras culturas e povos, que é a essência de quem está em trânsito mundo afora.

“Compreendo a paixão, a loucura, o equívoco das narrativas de viagem. Elas criam a ilusão daquilo que não existe mais e que ainda deveria existir, para escaparmos da evidência esmagadora de que 20 mil anos de história já se passaram”Claude Lévi-Strauss

Destinos narrados no livro: Brasil, Caribe e Antilhas Holandesas, Índia, Paquistão e regiões indígenas da América do Norte e da Birmânia (atual Myanmar).

*Confira edições e preços do livro no Buscapé e na Estante Virtual. O Chicken or Pasta recomenda a bonita edição de 2004 da Companhia das Letras para “Tristes Trópicos”

2. OLHARES FEMININOS SOBRE O BRASIL ATUAL

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Dois best-sellers de 2015 reúnem olhares femininos sobre a conjuntura de ontem e hoje do país, dois “catataus” que são uma boa pedida para quem quer aproveitar as férias em longas leituras para entender melhor os rumos do Brasil. Pesquisadoras e professoras universitárias, Lilia M. Schwarcz e Heloisa Starling transformam o país num personagem e arriscam-se a traçar uma nova biografia desse tal “Brasil”.

Brasil: Uma Biografia” reúne vasto material textual e pictórico de pesquisa histórica, desde nossa colonização, passando pela formação do Brasil independente e república, e destaque para a contextualização atual da nossa democracia desde o fim da ditadura até os dias de hoje – a obra já insere os protestos de 2013 como um grande marco da cronologia brasileira.

Outro livro sobre contextos brasileiros que traz uma linguagem ainda mais coloquial e analítica é “História do Futuro: o Horizonte do Brasil no século XXI”, da jornalista econômica Miriam Leitão, nome que inclusive se arriscou na ficção. É interessante como o livro tenta entender, através do olhar de uma mulher, o Brasil que hoje é comandado por outra senhora.

Destinos narrados: esse país grande e complexo pra caramba que é o Brasil.

*Confira edições e preços de ”Brasil: Uma Biografia” (Buscapé) e “História do Futuro” (Buscapé).

3. JULIO VERNE DÁ VOLTAS AO MUNDO

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Se toda viagem é imersa em fantasias sobre caminhos e destinos a percorrer, o grande escritor dessa prosa é o francês Julio Verne. Autor de dezenas de obras fictícias, muitas delas adaptadas ao cinema, que tratam de viagens épicas por pelo o planeta – e ao redor dele, Verne ainda é arquétipo de grandes cenários, locações peculiares do mundo e inspiração para um viajante em traslado prestes a descobrir um novo rincão do planeta (no “Tristes Trópicos” acima, Lévi-Strauss ilustra que um porto decadente de um rio no Mato Grosso é “digno de Julio Verne”).

“Volta ao Mundo em 80 Dias” sem dúvida é sua obra mais emblemática. O livro reflete a mente exploradora e os avanços tecnológicos do fim do século 19 – época ainda colonial, vale frisar -, contando as sagas do inventor e lorde inglês Fíleas Fogg ao cruzar rotas como Londres – Egito, Índia – China e Japão – Estados Unidos de navio, trem e até trenó, escapando das mais absurdas situações sempre com destreza e emoção, como manda o estilo de folhetim infanto-juvenil consolidado por Julio Verne. Nas entrelinhas das aventuras e destinos do livro, vale perceber o famoso caráter de viajante europeu a desbravar o mundo selvagem, “exótico”: sempre um lorde erudito e conhecedor das mais inimagináveis rotas, pronto a enfrentar qualquer desafio intelectual ou físico; um tipo muito famoso em aventuras de viagens.

Destinos narrados no livro: Inglaterra, Egito, Oriente Médio, Índia, China, Japão e Estados Unidos.

*Confira edições e preços do livro no Buscapé e na Estante Virtual. Uma das edições brasileiras mais recentes e famosas de “A Volta ao Mundo em 80 Dias” é a de 2004, da Ediouro, com tradução e adaptação do escritor Paulo Mendes Campos.

4. A ISTAMBUL DE ORHAN PAMUK

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“A beleza de uma paisagem reside em sua melancolia” – Ahmet Rasim (escritor turco)

A epígrafe acima abre o íntimo e delicado “Istambul – Memória e Cidade”, livro de Orhan Pamuk, escritor turco vencedor do Prêmio Nobel, e resume bem o olhar introspectivo e pessoal do autor sobre sua cidade. Ao contrário da profusão de cores, texturas e sabores da Istambul tão buscada por turistas do mundo todo hoje, a cidade que Pamuk descreve é fria, resignada em sua limitação frente ao mundo e surge borrada por reminiscências em preto-e-branco, uma memória carregada daquele desalento tradicional que surge com nossas lembranças de infância, dos locais por onde passamos e que formaram nossas raízes.

Se o epíteto de uma boa viagem é conhecer ou estar como os locais, a obra de Pamuk é um bom relato de Istambul a fundo, em suas particularidades muito além do exotismo de uma cidade posicionada entre Ocidente e Oriente, dualidade que o autor não deixa de ilustrar bem, partindo da inegável força que o Canal de Bósforo representa para todos istambulitas. Ao contar as histórias e memórias de sua família ocidentalizada e pouco religiosa na cidade, Pamuk faz digressões sobre a história e a cultura da cidade e da Turquia, região que já foi palco de grandes impérios e que não  consegue libertar-se de uma inata melancolia – é a hüzün, ideia turca que reflete a disposição de várias pessoas em compartilhar a mesma sensação sombria, prostrada.

Destinos narrados no livro: Istambul, Turquia.

*Confira edições e preços do livro no Buscapé e na Estante Virtual.

5. PERDIDO NO CARIBE COM GARCÍA MARQUEZ

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Em fevereiro de 1955, oito tripulantes do barco militar colombiano “Caldas” desapareceram em uma grande tormenta no Mar do Caribe. A tripulação foi dada como morta, mas uma semana depois um dos oficiais apareceu moribundo em uma praia deserta na costa norte colombiana, sobrevivente depois de navegar sem rumo em um balsa salva-vidas por 10 dias, sob o sol, sem ter o que comer nem o que beber a não ser a água salgada do mar.

Essa história cinematográfica de superação humana é contada em livro pelo grande jornalista e escritor colombiano Gabriel García Marquez. Por mais que não seja um relato turístico, etnográfico ou da natureza, esse instigante livro de 1970 revela um fato inegável: as viagens mais impressionantes pelo mundo são as inusitadas, as não-planejadas e surpreendentes, como essa saga de 10 dias do marinheiro Vasco boiando perdido no Caribe, tostado pelo sol à beira da morte, alimentando-se uma ou outra vez apenas, de um passarinho desafortunado que pousa em sua barca.

A história é verídica e foi um grande frenesi no país à época, e García Marquez foi procurado pelo próprio sobrevivente anos depois para contar em detalhes a história desse náufrago que viajou da maneira mais inóspita possível um dos mares mais bonitos do mundo, revelando a pequenez do homem diante do mundo.

É o “Relato de um náufrago” – “que estuvo dez días a la deriva en una balsa sin comer ni beber, que fue proclamado héroe de la pátria, besado por las reinas de la beleza y hecho rico por la publicidad, y luego aborrecido por el gobierno y olvidado para siempre”.

Destinos narrados no livro: Caribe, Cartagena das Índias, Colômbia.

*Confira edições e preços do livro no Buscapé e na Estante Virtual.

6. BERLIM: DO CABARÉ AO TECHNO

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Eis um recorte temático interessante sobre a história de uma das cidades mais amadas da atualidade. Théo Lassour narra de 1904 a 2012, do cabaré ao techno, um século de música berlinense. Em “Berlim Sampler”, a cidade e seus acontecimentos marcantes são relatados em paralelo com o desenvolvimento das culturas musicais locais que marcaram não só o ideário local e alemão, mas da música no mundo todo.

O livro é dividido em 4 partes, escrito em tópicos didáticos em torno de artistas, músicos, canções, discos e outros fenômenos. Dos cabarés liberais do pré-guerra, até a Segunda Guerra Mundial, a primeira parte (Erste Musik) ilustra como a capital alemã tomou o lugar de Viena no imaginário do burlesco e foi cenário de movimentos significativos como o Dadaísmo e Bauhaus. A segunda parte (Unterhaltungsmusik) é mais focado no pop da Deutsche Chanson e no purismo erudito recuperado pelos nazistas em contraponto à “arte degenerada” (concepção de viés racista, principalmente para expurgar o jazz negro, a arte judaica e pintores expressionistas, por exemplo).

A terceira parte (A-Musik) retrata a música gerada nos anos do muro de Berlim, até desemborcar na quarta e última parte – Techno – que relata como a música eletrônica encontrou um lar na cidade e transformou-se num próprio sinônimo de Berlim, motivo por qual hordas de clubbers do mundo todo mudam-se para lá.

“Assim como o reggae na Jamaica, o Techno é propulsado para o mundo a partir das margens do Rio Spree, tornando-se o som que realmente representa Berlim.” – Théo Lassour

Destinos narrados no livro: Berlim, Alemanha.

*”Berlim Sampler” não tem edição brasileira; você pode importar o livro pela Amazon.

7. BEATRIZ SARLO, CRONISTA DA AMÉRICA LATINA

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Historiadora, pesquisadora cultural, cronista famosa por suas posições anti-kirchneristas, Sarlo é uma das grandes intelectuais da Argentina, de fino texto. Foi lançado em 2015 um e-book que resume diários pessoais de suas viagens desde os anos 1960 até hoje, da “Amazônia às Malvinas”, como atesta o nome da edição, que peca ao não explicitar ou categorizar melhor os destinos e lugares viajados pela autora, como seria funcional e mais bonito para um livro que é de viagens.

No e-book estão textos recentes famosos até, alguns publicados pela revista Piauí, como o que conta sua saga por uma Brasília recém-inaugurada, símbolo do progresso latino-americano que despertou a curiosidade da jovem comunista Sarlo e seus amigos nos anos 60. Em 2013, ela visitou as Ilhas Malvinas (as Falkland, oficialmente), território britânico em disputa com a Argentina, crise que ela revive numa viagem que serviu de expurgo a seus posicionamentos políticos sobre a ditadura Argentina. Sua percepção das geladas ilhas é de fantástica perspicácia – transporta e contextualiza o leitor com riqueza.

É  um livro de leitura prazerosa, um pouco prejudicado pela edição mal-feita (seria bonita uma edição impressa também); espere observações e digressões históricas, sociológicas, factuais e narrativas de viagens deliciosamente auspiciosas.

Destinos narrados no livro: Argentina, Bolívia, Brasília, Amazônia, Ilhas Falkland (Malvinas) e algumas cidades europeias.

*Compre e baixe o e-book de Beatriz Sarlo no iTunes e na Amazon/Kindle.

**imagem destaque: Rasstock. Cortesia shutterstock.com

Quem escreveu

Jade Gola

Data

18 de September, 2015

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Jade Gola

Jornalista, pesquisador musical, notívago e apaixonado por viagens, rotas, jornadas e pela complexa geografia do nosso pequeno grande mundo. Tanto em texto quanto nas experiências de vida, interessado na interação entre culturas, espaços, histórias e "fait divers". Siga em facebook.com/jadegola e twitter.com/jadegola.

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