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Só de olhar o mapa de Barcelona, você pode perceber um pouco da história da cidade. Ao sul perto do mar, as ruas mais parecem um labirinto onde pequenas ruelas se cruzam como uma teia desordenada. Lá é a parte antiga da cidade, da época romana, onde hoje ficam os bairros Gótico, Raval e Born. Logo mais acima desses bairros, o layout da cidade muda completamente. São blocos idênticos, ruas paralelas e perpendiculares perfeitas e grandes avenidas que cruzam a cidade inteira, num plano muito mais organizado.
Bem-vindo ao Eixample, a Barcelona racional.
O Eixample (pronuncia-se “eixampla” e significa “extensão”) começou a ser pensado em 1860 pelo arquiteto Idelfonso Cerdà (por isso esse projeto é chamado Plan Cerdà), inspirado em Hipódamo de Mileto.
Esse grego foi o primeiro a pensar em um plano urbano totalmente racional, onde as ruas se cruzariam em um ângulo reto. O que Cerdà adicionou ao plano de Barcelona é o chanfrado das esquinas. Com isso, além de aproveitar melhor o espaço, o arquiteto fez com que a luz entrasse pelas ruas da cidade, fazendo com que tudo ficasse mais iluminado. Funcionou. O problema é que quando você estiver andando distraído, pode virar à esquerda em vez de seguir reto, sem perceber.
Outro ponto curioso do Eixample são as quadras perfeitas em formato de octógono com um espaço vazio no meio, chamadas de pátio de manzanas ou pátio de luces. Esse vão central permite que os apartamentos tenham mais luz em vários momentos do dia, além ficarem afastados do barulho da rua, mais silencioso. Assim, as casas ficam muito mais ventiladas e morar de fundos muitas vezes é uma benção.
Continuando com o plano de perfeição desse bairro, estabeleceram que uma árvore seria plantada a cada oito metros. Além disso, o projeto contava com diversos parques onde ficam as quadras, fazendo com que Barcelona ficasse muito mais verde. Por outro lado, construíram ruas bem largas para a densidade de Barcelona na época, pensando já no futuro motorizado. Essas ruas até hoje podem ser consideradas bem largas para a quantidade de carros circulando, como a Avenida Diagonal e a Carrer Aragò. O chanfrado das esquinas também foi pensado para a melhor circulação dos carros e hoje em dia, ela é lugar principal onde as pessoas estacionam os carros por curtos períodos. Cerdà e sua bola de cristal.
Mas o plano não foi finalizado como deveria. A Plaça de Glòries seria o novo centro de Eixample, com as maiores avenidas da cidade convergindo nela (Diagonal, Meridiana e Gran Via), mas os locais quiseram deixar o centro burguês onde era, ao redor do Passeig de Gràcia. Além disso, o plano não era muito bem visto na cidade, pois Cerdà foi escolhido por Madri para conceber o bairro, deixando de fora o projeto vencedor na Catalunha. Além disso, Barcelona queria se inspirar em Paris e não ter uma arquitetura tão racional.
Porém, por causa dessa influência parisiense, anos depois o modernismo estourou em Barcelona e o Eixample foi (e ainda é) o bairro onde mais se vê os tesouros dessa época. Os edifícios de Gaudí, Domènech i Muntaner e Puig i Cadafalch continuam arrancando suspiros de todo mundo que passa. Às vezes me pego olhando para dentro de uma portaria só porque ela é incrível.
Agora o Eixample volta a crescer. Com a melhora da Espanha depois da crise e o crescimento da cidade, finalmente decidiram implodir o viaduto horroroso da Plaça de Glòries e estão trabalhando para que a área seja o novo hub da cidade. O distrito do Poblenou (ao lado leste de Eixample depois do Parque da Ciutadela) está explodindo e é o novo centro artístico da cidade. Na Plaça de Glòries ficam a Torre Agbar de Jean Nouvel (um prédio fálico de onde antes saía um jato de água do topo, porque é o edifício da companhia de águas da cidade, tudo mais fálico ainda), o FAD (Disseny Hub Barcelona, o centro de design) o novo Encants, o mercado de pulgas central. A nova Plaça de Glòries foi reinaugurada em março de 2015 e promete ser a área que vai bombar daqui a uns anos.
Depois que eu descobri mais sobre o Eixample e o plano urbanístico de Barcelona, me apaixonei mais pela cidade. Tudo é super bem pensado para o bem-estar das pessoas. Nos últimos anos a prefeitura alargou as calçadas, construiu mais ciclovias e criou um novo plano para os ônibus. E o melhor: tudo funciona bem depois. Olhar para a arquitetura de uma cidade conta para a gente a história do lugar e como o urbanismo realmente impacta a vida das pessoas positivamente, quando bem aplicado. Barcelona é um perfeito exemplo disso, então fique de olho e observe bem a dinâmica da cidade quando visitá-la.
* Crédito da foto destacada: Amos Chapple/REX
A Sarah morou em 5 cidades diferentes nos últimos 9 anos, seja a trabalho ou no sabático que tirou em Barcelona. Na hora de planejar uma viagem, gasta 70% do tempo pensando onde vai comer, porém tenta queimar as calorias conhecendo as cidades de bike . Já teve que renovar passaporte por falta de espaço para novos carimbos mas ainda tem a África e Oceania como pendências.
Ver todos os postsOi! Vou à Barcelona e tenho uma curiosidade: Tem como observar o bairro perfeito de cima? Visualizar pessoalmente igual as imagens que vemos no google? Bjs
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.