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“Me vê aí duas Sukitas, um Trident hortelã e duas maconhas.”
Desde a legalização, imaginei que comprar cannabis no Uruguai era igual a comprar pão na esquina. Ledo engano! Descobri com um amigo frustrado que é praticamente impossível um turista comum comprar a erva.
Fiquei bastante intrigada com o fato. Não que afete a mim diretamente. Correndo o risco de arruinar minhas chances de ser presidente da República, confesso já ter fumado maconha. Mas tenho uma inaptidão pessoal para consumo da substância, comprovada após 8 horas olhando para uma amedrontadora parede branca em um quarto de hotel em Amsterdã.
Mas quando o assunto é consumo de que não falta é encontrar referências mais experientes no assunto. Para fazer um dossiê, recorremos a dois globaltrotters experts no assunto: VJ Spetto, responsável por projeções e mappings mais incríveis desse país, e o Matias Maximiliano, ativista e uma das cabeças por trás da série Narcoturistas.
Descobrimos que maconha, não é porque é legalizada, que é fácil conseguir viajando. Mas também não é porque é fácil, que é legalizada.
A legalização e a facilidade de compra são completamente independentes. Quer alguns exemplos?
Em Amsterdam, a posse de maconha é mais que legalizada, é cartão postal. Impulsiona o turismo, a economia, e a cara feia dos locais. E lá é aquela coisa que você já sabe: um coffeeshop em cada esquina. Os cafés são os locais que tem permissão para funcionar, e exibem um cardápio digno de fazer inveja às mais famosas enotecas por aí. Graduação, sabor, efeito, milhares de graduações.
Mas o Spetto lembra que lá já foi mais comum – ele lembra até de pedir para o policial acender o baseado para ele em 1999. Era muito mais comum executivos entrando, comprando 2 ou 3 baseados, e saindo para trabalhar. Ou senhoras de bicicleta entrando para comprar porção de haxixe, fumar, tomar um café, ler um email no ipad e seguir a vida. Mas andaram fechando muitos coffeeshops de lá para cá. Hoje em dia não é educado fumar na rua, por exemplo. Inclusive é passível de multa se alguém se incomodar com a fumaça.
Portanto é possível comprar facilmente, fumar na rua, somente não se pode nem cultivar nem transportar. Portanto, a erva cresce nos coffeeshops por geração espontânea, certo? Matias Maximiliano explica que a história é bem hipócrita, na verdade. Ele, estudioso do assunto, diz que a maior parte da maconha de Amsterdã é plantada na Espanha ou no Leste Europeu, e traficada por gangues. Porém existe uma maior ‘vista grossa’ por parte do governo.
Ou seja, se seu objetivo era fumar em Amsterdã para não financiar atividades ilegais, bom… talvez sua consciência não fique tão limpa. Vale ver o episódio do Narcoturistas na cidade para umas boas risadas.
O Colorado é o primeiro estado americano que legalizou o uso recreativo da maconha. E como o Spetto conta, é muito interessante o pioneirismo para um estado mega caipira, red-neck,cowboy style. Eles estavam em crise e está sendo um caso de extremo sucesso, criaram um modelo do que pode e o que não pode ser feito para ser bem sucedido.
Primeiro, abriram inscrições para cadastrar interessados em ter loja e plantar. Os traficantes foram lá, se cadastraram e ganharam licenças. Ou seja, o cara que um ano atrás estava com arma até os dentes, fugindo da polícia, agora tem uma loja com duas gostosas na porta, e é super simpático, vende sua erva, paga seus impostos, e sorri o dia inteiro.
A polícia economizou uma grana preta – pois não precisa mais gastar prendendo bandidos, não tem gasto de gasolina, hospital, prisão… Aumentaram os salários dos policiais. A grana dos impostos da maconha, que não é pouco, custeia esse aumento. Depois aumentaram os salários dos professores e aumentaram a verba das escolas.
O comércio como um todo está em polvorosa. O comércio que mais cresceu no último ano foi entrega de pizza 24 horas, tanto que até o Seven Eleven entrou nesse business. Quando o Spetto estava por lá, soube que até o KFC pediu uma licença pra vender erva também.
Lá você pode comprar por vez 28 gramas. O que, perguntei aos especialistas, é maconha à beça. Seria o equivalente a um barril de chope de maconha. Ou a 60 becks, para ser mais exata.
Então para o turista ‘taba-friendly‘, tudo é lindo, não?
Não! Eis o pulo do gato: você não pode fumar na rua. Aliás, não pode fumar no carro, no parque, dentro de ambientes, e praticamente lugar nenhum . A não ser na casa de alguém que permita, ou um hotel que permita. E não são tantos assim. Uma outra curiosidade é que as lojas só aceitam dinheiro – já que pela legislação nacional, o Federal Reserve não reconhece o negócio como legal. Portanto, eles não podem ter conta bancária.
Washington, Oregon e Alaska, assim como as cidades de Portland e South Portland já legalizaram, e estão caminhando para profissionalização do Colorado. Porém, inspirados pelo sucesso do país, muitos estados já estão na fila. Incluindo Nevada, que está deixando o Colorado com o cabelo em pé com a concorrência turística.
Para uso médico, já existem lojas legalizadas em 25 estados. Na California, por exemplo, a própria licença virou um business. Muitas vezes cobrando até US$ 200,00 por licença, médicos dão a receita para pessoas com dificuldades no sono, enjôo, ou glaucoma. A maioria das clínicas dos “Green Doctors”, entretanto, são mal avaliadas pelos usuários no Yelp por cobrar mais do que deveriam.
A terra do Mujica foi o primeiro país do mundo a de fato legalizar e regulamentar a cannabis. Mas a lei dele não permite que um turista tenha acesso à maconha. Na verdade, até agora não está rolando nem sequer o varejo da maconha, só o cultivo pessoal ou associado, os chamados “clubes canábicos”.
Os uruguaios podem se associar em grupos de até 40 pessoas, alugar um lugar e contratar pessoas para cultivar. Mas para isso você tem que ser residente no país. “Ou seja, para turista, é praticamente impossível” – conta Matias. “Mas a legalização foi tão divulgada que as pessoas acham que é bagunça. Toda hora me pedem dicas de lá. O fato é que se você não tiver um ótimo amigo, vai sair perguntando, até conseguir comprar no mercado negro, uma maconha ruim e cara”, complementa. “E eu já respondo “se vira aí… O Uruguai não é Disneylândia… ainda!”
Mas você pode fumar em qualquer lugar, porque o uso é descriminalizado desde 1975. Apesar disso, a cultura é muito forte, como em uma reportagem que ele escreveu para VICE
A compra e venda de cannabis na Espanha é considerado tráfico. Já a posse e consumo é descriminalizado, ou seja, não vai para o xadrez. Mas se você é pego fumando na rua pode render uma multa de 500 euros.
Lá não há venda oficial ou coffeeshop, mas como o cultivo para consumo próprio é permitido, existem os Clubes de Fumadores. Lá dentro, você pode fumar e comprar à vontade. Spetto conta que é sócio de 3 clubes de fumadores em Barcelona. Ele diz que funciona como um banco: você entra, compra uma cota e “deposita” suas sementes no banco. O clube cuida das suas sementes, planta e você pode, de acordo com sua cota, fazer retiradas de erva. “Eu tenho direito de tirar 90 gramas, 60 gramas e 50 gramas em cada um desses clubes, respectivamente, por mês” – conta Spetto . “É muito legal, porque dependendo dos teus hábitos e gosto, o clube lhe indica as melhores ervas, as melhores colheitas, etc.”
São em torno de 500 “clubes de fumadores” na Espanha, 200 deles em Barcelona. Por isso, é um destino cada vez mais popular entre os ‘taba-turistas’. Andam inclusive chamando de “Nova Amsterdam”.
Assim como a Espanha e a Itália, o uso da cannabis em Portugal foi descriminalizado a partir de 2001. A posse, entretanto, se limita a 2g de erva, 5g de haxixe ou 2,5g de óleo de cannabis. Os limites são definidos por 10 doses diárias, já considerados extremos para um ser humano comum. Se forem excedidos é considerado, portanto, tráfico .
Spetto conta que é possível fumar tranquilamente no Adamastor ou no Bairro Alto e ninguém reclama. Não é liberado comprar, não existem lojas, mas é possível comprar facilmente nas ruas haxixe e (mais raramente) a maconha mesmo. Diz que a cultura de fumar existe na cidade e se a polícia encanar contigo, o máximo que vai acontecer é você ser direcionado para um psicólogo que vai tentar te dissuadir de fumar maconha.
Ele fala que, em compensação, em Portugal existem as smartshops, que não vendem maconha, mas vendem substâncias até mais ‘fortes’ cogumelos, chá de efedrina (hoje em dia já é mais raro) ou Miow Miow. (Fico pensando: se já me dei mal com maconha, o que as paredes brancas fariam comigo com algo que se denomina “miau miau”. Melhor morrer curiosa, já que ‘a curiosidade matou o gato’ #trocadilhomaroto).
Em Berlim, tudo é proibido. A venda, o consumo e a posse, com exceção da medicinal. Porém… todo mundo fuma e a coisa mais fácil de comprar lá é maconha, conta Spetto. Basicamente,você vai no parque e procura os africanos ou os turcos. O preço é meio tabelado, e vários sites dão abertamente o caminho das pedras. (Bom, pedra não. Caminho da maconha).
Entretanto talvez isso funcione apenas para profissionais. Ouvi relatos que turistas menos experientes que não se sentiram nada seguros, nas mesmas praças. Além disso, por ser ilegal, fumar em nenhum lugar é permitido. Mesmo em pequenas quantidades, a chance é que você vá parar na delegacia e ganhe uma ficha. A definição de “pequenas quantidades” varia de região para região – em Berlim, andar com até 15 gramas é considerado uso pessoal. Em resumo, apesar de bem tolerado, ser pego com maconha é uma excelente forma de conseguir uma dor de cabeça (dessas que você não cura com mais uma dose de THC).
Lá, tudo é ilegal. Mesmo. Um desses países que você vai para cadeia. Um exemplo de brasileiros que se deram mal é o da Carol, uma amiga e leitora que pediu para não ser identificada. Conta que estava em um tour em um canal, quando alguns tailandeses ofereceram “Weed? Happy Weed?” – eles aceitaram, mesmo sabendo que o preço era muito acima do que se espera. Foi os amigos do barco irem embora, 3 policiais à paisana fizeram uma emboscada na esquina seguinte. Para não irem para prisão tailandesa (que não deve ter as melhores instalações), resolveram pagar a propina solicitada, dez vezes mais que o preço do beck já superafaturado.
Nos dias seguintes, repassando mentalmente os fatos, Carol e seus amigos perceberam que provavelmente os caras que pediram proprina não eram policiais. Não estavam fardados e mostraram um distintivo duvidoso. Muito provavelmente, estavam já mancomunados com os vendedores. No país onde tudo pode ser um golpe, ao menos esse teve consequências menos piores que se fossem policiais reais.
Dando a volta ao mundo, mesmo os mais contrários à legalização vêem que ela é um modelo de sucesso. As vantagens para o usuário é a qualidade, certificação, variedade, segurança. Já para o Estado, a cobrança de impostos e o foco nas verdadeiras causas de problemas sociais também são vantagens nítidas. Agora você já sabe para onde viajar, quando quiser “viajar”. Não?
Seu exacerbado entusiasmo pela cultura, fauna e flora dos mais diversos locais, renderam no currículo, além de experiências incríveis, MUITAS dicas úteis adquiridas arduamente em visitas a embaixadas, hospitais, delegacias e atendimento em companhias aéreas. Nas horas vagas, estuda e atua com pesquisa de tendências e inovação para instituições e marcas.
Ver todos os poststolerado no brasil? piada?
Olá, Spetto
Vc sabe me falar como e onde consigo comprar maconha em Orlando?
Pode me responder no email [email protected]
Grande abraço!
Chester, a cor do Canadá é uma mistura do amarelo com azul, que indica que o país legalizou a maconha para fins médicos, mas o uso pessoal não é considerado crime.
tem certeza de que citou todas as fontes usadas para chegar a esse texto?
Oi André! Acho que sim, mas fiz tanto copiar e colar que pode ter passado algo. Você acha que faltou algo? :)
Tem algo estranho no mapa: “Ilegal mas tolerado” no Brasil? Só se for em centro acadêmico. E o Canadá (que talvez se encaixe nesta categoria, pelo que constatei morando aqui por três anos) tem uma cor que não está na legenda…
No mais, bacana o artigo!
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.