Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Veio um turbilhão de lembranças quando li esse post, afinal minha primeira grande viagem aconteceu em 1997, o mesmo ano que o autor do post menciona, e a Internet era pouco popular e acessível. A lista é praticamente a mesma:
Decidi a viagem um ano antes dela acontecer. Nessa época a Internet já existia, mas com muito menos informações que hoje. Decidi o roteiro do meu mochilão com um mapa múndi estendido no chão do meu quarto. Aliado a ele, um livreto de uma agência de turismo contendo as possíveis linhas de trem cobertas pelo Europass que eu usaria. E assim saiu o roteiro: revistas de turismo, guias, mapa mundi, uma lista de trechos de trem, um caderno e uma caneta. Depois eu comprei um guia “Viajando pela Europa”, contendo os principais mapas das cidades que eu visitaria, que me acompanhou nos meses em que rodei o velho continente. Fui arrancando as páginas conforme fui passando pelos lugares para aliviar o peso.
Eu era a pessoa mais dura do planeta na época, então o budget era apertadíssimo. Não existia Couch Surfing, airbnb e nenhum outro tipo de hospedagem além de albergues ou hotéis. Consegui um guia de albergues, escolhi os que eu ficaria, escrevi uma carta para cada um e fiz as reservas com meses de antecedência. Depois recebi uma cartinha de cada confirmando que estava tudo ok. O Trip Advisor ainda era um sonho distante, então os albergues foram escolhidos a partir de dicas nos guias de viagens que comprei. Não preciso dizer que tive algumas surpresas não muito agradáveis no caminho, né?
Hoje mal consigo imaginar comprar uma passagem aérea sem meus aplicativos. Decolar, Kayak, Skyscanner não eram sequer um sonho, a ideia provavelmente não existia. Íamos a uma agência de turismo, contávamos para onde queríamos e ir, eles consultavam o sistema e traziam as opções. Você saía de lá com um bilhete aéreo impresso em “cartolina” dentro de um envelope bonito. E era essa a opção: ir a uma loja física comprar a sua passagem.
Em 1997 viajar pela Europa não era uma tarefa fácil no quesito “moeda”, afinal o Euro sequer existia. Cartão de crédito internacional era uma realidade distante para mim, então só tinha uma opção: os travellers cheques e dinheiro vivo, no caso Dólar. Comprei um talão e levei algumas notas de dólares comigo, que foram devidamente guardados numa pochete fininha que ficava o tempo inteiro dentro da minha calça junto com o meu passaporte até o fim da viagem. Cartão pré-pago? Utopia.
A viagem seria longa e eu teria muitas horas dentro de trens na época. Separei minhas fitas cassete favoritas, mas não muitas para não pesar muito a mochila, comprei pilhas reserva para o walkman e ele foi meu companheiro de viagem até eu esquecê-lo em um albergue. Acabei deixando também as fitas para trás para ganhar espaço na mochila que foi crescendo conforme eu avançava os países junto com o inverno que chegava.
Deu overbooking logo que minha amiga marcou o assento dela. Check-in antes de chegar no aeroporto não existia. Chegamos 3 horas antes do embarque voando para o guichê para tentar pegar uma janela. Ela chegou primeiro e eu fiquei de plantão, até a atendente me chamar e entregar o bilhete com minha poltrona marcada. Estávamos bem distantes uma da outra. Eu ganhei um upgrade pra executiva, mas sequer sabia disso. Entrei no vôo, sentei e para mim o avião era todo daquele jeito (e vamos lá, a executiva estava longe de ser o que é hoje). Fui descobrir a econômica quando decidi procurar pela minha amiga e vi uma das primeiras cenas chocantes da minha vida: ela sentada em uma poltrona que era 1/3 da minha. E não entendi o porquê até o cara ao meu lado explicar o overbooking e que estávamos na executiva.
Prometi para meus pais que ligaria assim que aterrissasse em Barcelona. Não foi uma tarefa fácil. Comprava-se um cartão para ligações internacionais, ligava para a Embratel, que fazia a ligação para a sua casa. A conversa tinha que ser muito rápida porque era muito caro e os créditos eram poucos. Minha mãe só chorou e eu tive que desligar o telefone na cara dela.
Levamos muitos filmes para fotografar a viagem inteira. Cada filme era de 36 poses, preferencialmente ASA 400. No meio da viagem, minha amiga foi roubada e levaram a câmera junto com os filmes. Resultado: não temos lembranças fotográficas da nossa primeira aventura. Selfie não existia e eu nunca tinha visto foto do café da manhã de alguém.
O celular já existia, mas era mais ou menos o mesmo que comprar uma comunicação satélite hoje em dia. Impossível! Como tínhamos horário para tudo, comprei um relógio que tinha despertador para não correr o risco de perdermos um trem. E, claro, levei uma bateria extra pra ele.
Decidi que enviaria um cartão postal para os meus pais de cada cidade que passasse. Não foi tão simples. Comprar o cartão, escrevê-lo à mão, procurar um correio, comprar selo internacional e enviá-lo. O cartão chegou quase no fim da minha viagem.
Eu estava conectada desde 1996 e tinha alguns poucos amigos feitos pelo mIRC e nas salas de bate-papo do UOL. Quando me sentia extremamente sozinha, procurava por uma lanhouse, esperava o modem de 14.000 kbps conectar e eu, finalmente, poder surfar um pouco.
Elas frequentavam bares, cafés, restaurantes e os albergues. Era assim que a gente conhecia novas pessoas. Não trocávamos emails e sim endereços das nossas casas para recebermos cartas que nunca vieram.
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Definitivamente nunca foi tão fácil e acessível viajar como nos anos 2000.
*Foto destaque: jakkapan – shutterstock.com
Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.