Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Muito já se falou (com certeza bem), muita foto se viu e se postou, mas nada pode explicar o que é visitar Inhotim. Acho que no mundo inteiro não existe nada igual. E não consigo pensar em uma pessoa no mundo que não vá gostar de passar algumas horas lá.
Nós saímos de BH logo cedo porque queríamos aproveitar ao máximo o nosso dia lá. O ideal, como todo mundo diz, é ter dois dias para ver tudo. Mas com um só bem que conseguimos ver a maioria. Para chegar são apenas 60km, mas existem 3 estradas que levam a Brumadinho, a cidade vizinha. Espertos que somos, seguimos a indicação de uma amiga mineira da gema (ou do pão-de-queijo, talvez), e não pegamos a rota por Betim, mais óbvia e com mais trânsito. Seguimos a rota que passa por Piedade do Paraopeba, numa estradinha toda arborizada, tranqüila e linda. Em uma hora dá para ir com facilidade. Na chegada, também seguindo orientações, já tínhamos os ingressos comprados online, mas até que a fila era pequena para um feriado prolongado. Só paramos para comprar a pulseira dos carrinhos de golfe, que fazem alguns trajetos mais longos, e valeu muito a pena. Não que os trajetos sejam muito longos, mas foi ótimo para economizar tempo, e claro, descansar um pouco as batatas das pernas. Ninguém é de ferro.
O que mais chama a atenção para Inhotim é que não é um museu, não é um sítio, não é um parque, é tudo junto ao mesmo tempo. É como se a Disney resolvesse montar um parque temático, mas o tema é arte. Tudo limpo, organizado, lindo. Para quem torce o nariz quando se fala em arte, e principalmente arte contemporânea, um aviso: você também vai gostar, e muito! Museus podem ser maçantes, mas aqui a arte está espalhada, misturada com os jardins e matas, e o melhor, muitas são interativas. Um exemplo disso, é que duas obras são piscinas, e você pode sacar sua roupa de banho da mochila e nadar (atividade muito adequada ao calor que faz lá). Inclusive, uma pessoa do nosso grupo realizou o sonho de fazer parte de uma obra de arte, e fez uma incrível performance de mais de 30 minutos para um grande público em uma delas. Mais detalhes eu não posso dar – quem viu, viu.
As galerias todas tem projetos de arquitetura arrojados, algumas assinadas por escritórios renomados como o Arquitetos Associados e Rizoma Arquitetura. Algumas são dedicadas a artistas brasileiros específicos, como Tunga, Adriana Varejão, Lygia Pape e Cildo Meireiles. Outras, como as galerias Fonte, Lago, Mata e Praça, tem exposições temporárias, para fazer a gente voltar, claro. E fora isso, tem um monte de obras espalhadas pelos jardins, então tem que ficar atento. Não dá para falar de tudo aqui, mas vou colocar pelo menos o que mais me encheu os olhos. E sabiamente, não se pode fotografar quase nenhuma galeria por dentro, então fica um pouco de mistério para quem ainda não viu:
– Adriana Varejão: inevitável, pois fica perto da entrada, e uma das galerias mais fotografadas (foto que abre o post), tem três andares, com obras bem fortes da artista mais valorizada do mercado brasileiro. No térreo, uma parede de carne sangrenta se contrapõe a uma pacífica tela de uma sala de banho. No primeiro andar, os gigantes azulejos portugueses trincados, e no topo um enorme banco de azulejos de passarinhos dão uma vista privilegiada do parque.
– Olafur Eliasson: em um ponto alto com visão de todo o horizonte, o artista dinamarquês colocou um gigante caleidoscópio de metal que você consegue enfiar a cara inteira. Está no meio do jardim, então é um dos melhores lugares para instagramar.
– Lygia Pape: essa galeria é uma das mais recentes, e abriga uma única obra da artista falecida em 2004. Uma sala escura e um trabalho maravilhoso e muito delicado lá dentro. Não vou contar mais.
– Galpão Cardiff & Miller: uma obra para se ouvir, de olhos fechados. A dupla canadense montou um pequeno auditório com cara de sarau, para você sentar e se deixar levar pela voz suave de Janet Cardiff, enquanto ela conta um sonho intenso que teve, intercalado com música e sonoplastia. Impossível não sentir os pelos arrepiarem. Na Galeria Praça, uma outra obra sonora de Cardiff apresenta um coro de uma composição do século XVI, reproduzida em 40 canais de audio. Não esqueça de andar pela sala enquanto escuta.
– Tunga: pode-se dizer que ele é o maior responsável por todo esse parque acontecer, e por isso ele tem uma das maiores galerias. As muitas esculturas dele são contundentes, às vezes perturbadoras. Mas além disso, a galeria é especialmente linda. Dá vontade de levar uns móveis e morar lá para sempre.
– Cosmococa: esse espaço cheio de compartimentos você tem que experimentar sem os sapatos, que ficam na entrada. Cada sala tem uma experiência sensorial criada pela dupla Hélio Oiticica e Neville d’Almeida. Libere a criança de dentro de você e se jogue na sala forrada de espuma.
– Doug Aitken: lá no fim do caminho, a última galeria é no mínimo intrigante. A obra do artista americano é site-especific, ou seja, foi criada e feita para acontecer lá. Um tubo de 200m de profundidade aloja muitos microfones hiper-sensíveis que colhem os sons causados pela movimentação da terra, deslocamento de gases e mudanças de temperatura, e tudo é amplificado na galeria circular de vidro, coberta com uma película cristalizada que embaça a visão do entorno.
Mas fora isso, não deixe de ver nada. Entre em cada caminho e experimente o lugar com curiosidade. Algumas coisa podem ser meio sem graça, mas sempre tem outra em seguida para nos arrebatar. Eu acho que vale a pena chegar lá sem saber muita coisa do que se vai ver. Mas para os curiosos e os preguiçosos, achei alguns vídeos que mostram algumas coisas que você vai encontrar lá aqui, aqui e aqui. E se quiser fazer um tour virtual, o Google tem disponível.
A julgar pelo público, acho que Inhotim não tem muita restrição. Vimos por lá grande grupos de senhorinhas com transporte próprio, até famílias cheias de criançada correndo por todo lado. Para facilitar a nossa vida, você encontra banheiro em praticamente todas as galerias, e toda a equipe do lugar é super simpática e prestativa para ajudar. Aliás, os funcionários são outro exemplo como tudo por lá é bem feito. Quase todos são moradores de Brumadinho, recebem um ótimo treinamento e escolaridade, e diz-se que todos falam inglês. Não testei, mas não duvido. Brasil mostrando sua civilidade por aqui.
O único drama que pode acontecer é com a comida. Não que faltem opções, mas é melhor se programar. Para não perder tempo, nós optamos por fugir das filas de espera dos restaurantes e optamos pelas lanchonetes. A primeira que fomos servia pizzas que pareciam deliciosas. Mas elas estavam demorando cerca de 30 minutos para sair, então desistimos. A próxima lanchonete que encontramos estava fechada, o que deixou o estômago de alguns reclamando. Na terceira, finalmente, fomos vencidos e comemos hambúrgueres, que deixaram bem a desejar. Mas se quiser se precaver, dá para deixar sua mesa reservada no Restaurante Tamboril e no Bar do Ganso. Ambos ficam na sede original da fazenda, e dizem que a comida é dos deuses. A outra opção é o Restaurante Oiticica. Esse sim fica em um edifício novo e lindo, e serve comida a quilo. Mas para nosso azar, fica do outro lado do parque e só chegamos lá no final do dia.
No fim, conseguimos ver uns 70% das obras, com certeza todo mundo saiu com vontade de voltar. Além de algumas exposições serem temporárias, vimos mais um grande pavilhão em plena construção lá no meio. Mas na próxima vez com certeza vou tentar ir para ficar alguns dias, e ver tudo com calma. Daí vou aproveitar e me hospedar em algum dos hotéis da região, porque vi que existem alguns bem especiais.
E se alguém aí se inspirou com a nossa história e quiser se organizar para ir para Inhotim, vou deixar aqui um mini-guia:
A história do lugar: o pequeno sítio pertencia a um engenheiro britânico chamado Senhor Tim – Nhô Tim para os locais – e foi comprado por Bernardo Paz (empresário de mineração e siderurgia). Nos anos 80, com o avanço dos empreendimentos mobiliários na área, ele começou a expandir seus domínios para proteger a vegetação, e os jardins desenhados pelo seu amigo Roberto Burle Marx. Na época, incentivado por seu amigo e artista Tunga, Bernardo começou a colecionar arte contemporânea. Em 2006, ele resolveu abrir a área de mais de 20km2 para visitação pública, e montou o que deve ser o maior museu/jardim dedicado ao tema. Hoje, Inhotim recebe cerca de 250mil visitantes por ano, tem mais de 25 pavilhões-galeria e mais de 500 obras de artistas de 30 países, como Yayoi Kusama, Olafur Eliasson, Matthew Barney, Cildo Meireles, Adriana Varejão, Anish Kapoor, Steve McQueen, Helio Oiticica, entre outros nomes grandes.
Como chegar: Brumadinho fica a 60km de distância de Belo Horizonte. Se quiser ficar na capital, dá para chegar de carro em uma horinha. São três caminhos que levam até lá, e você pode ver todos aqui. Nós usamos a rota sul. Se quiser usar um transporte público, a Saritur tem ônibus saindo todos os dias da rodoviária às 9h15, e voltando de terças a sextas às 16h15, e sábados e domingos às 17hs. A viagem demora 1h45, e as passagens podem ser compradas na hora ou pela internet, e custam R$23,90.
Horários e preços:
Terças a sextas: das 9h30 às 16h30
Sábados, domingos e feriados: das 9h30 às 17h30
Segundas: fechado
Terças: gratuito
Quartas e quintas: R$20,00
Sextas, sábados, domingos e feriados: R$30,00
Taxa de conveniência para compra antecipada: R$7,19 (aqui)
Transporte interno: R$20,00 por pessoa
Hospedagem: ficar em Belo Horizonte é muito fácil, e acaba sendo a melhor opção para quem, como nós, vai passar uma noite só, já que os hotéis e pousadas da região costumam fechar pacotes de fim-de-semana e feriados. Se quiser ficar mais perto, o Portal de Brumadinho e mesmo o site de Inhotim dão várias opções. Os mais bacanas, com spa, quartos mais aconchegantes e todo tipo de conforto são o Estalagem do Mirante e o Estrada Real Palace Hotel. Mais familiares, mas ainda assim muito charmosos, recomendo a Pousada Casa de Abrahão e a Pousada Casa Cumbuca Piedade. E se quiser ficar pertinho, em algo mais simples, mas não menos aconchegante, o Ville de Montagne Hotel fica bem no centro de Brumadinho. Em breve vai ser inaugurado um hotel dentro de Inhotim.
O que mais fazer: o parque não fica aberto o tempo todo, então quem fica por lá tem que achar outras coisas para fazer, para sair do hotel de vez em quando. A região ainda está desenvolvendo suas potencialidades turísticas, mas algumas coisas parecem bem interessantes.
– Restaurante Topo do Mundo: praticamente todos os guias que li falam desse lugar, em Piedade. A casa fica no alto de uma colina e a vista parece imperdível. E a comida é muito elogiada.
– Vôo de parapente: nessa mesma colina existem duas rampas de salto para vôos de parapente, a Moedinha e o Moedão. Várias escolas fazem o vôo duplo para os mais radicais.
– Trekking: quem gosta de caminhadas na natureza, a região oferece uma série de trilhas. Várias agências organizam grupos e disponibilizam guias.
– Mais opções: recomendo uma boa pesquisada no Portal de Brumadinho. Lá tem muitas indicações bacanas, bem explicadas e com foto de tudo.
Para o Renato, em qualquer boa viagem você tem que escolher bem as companhias e os mapas. Excelente arrumador de malas, ele vira um halterofilista na volta de todas as suas viagens, pois acha sempre cabe mais algum souvenir. Gosta de guardar como lembrança de cada lugar vídeos, coisas para pendurar nas paredes e histórias de perrengues. Em situações de estresse, sua recomendação é sempre tomar uma cerveja antes de tomar uma decisão importante. Afinal, nada melhor que um bom bar para conhecer a cultura de um lugar.
Ver todos os postsSó pra contar que esse está sendo o único guia de Inhotim que estamos usando para a nossa viagem. Chicken or Pasta arrasando!
Inhotim é um sonho, já fui duas vezes com as meninas, e foram visitas incríveis e bem diferentes. Especialmente pra quem vai com criança, tem que ficar dois dias. Fiquei numa pousada muito fofa e superperto, recomendo MUITO: http://www.pousadadonacarmita.com.br/
Adorei o post, Inhotim é isso aí mesmo!
Clau, lembra do nome da pousada??
Você tinha dúvida, Dani?
Gente, eu tô com uma latinha de cerveja em todas as fotos hahaha
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.