Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Todo turista visita a Tailândia cheio de expectativas. Comer muito bem. Nadar em praias lindas. E ver moças atirando bolas de pingue pongue com a força de seus… hum… “músculos interiores”. Não necessariamente nessa ordem.
Confesso que nossa curiosidade era quase tão alta quanto aqueles australianos da Kao San road explodindo de testosterona na corrente sanguínea.
Do lado do anjinho ali em cima da orelha esquerda, sabíamos que ir ao show significava corroborar e retroalimentar a indústria do turismo sexual, completamente degradante às mulheres tailandesas. Do lado do diabinho, em cima do lóbulo direito: como deixar passar a chance de verem dardos voando de um buraquinho tão minúsculo em direção a balões?
A perversidade, campeã universal quando joga com as decisões humanas, ganha mais uma vez. Rumo ao “Super Pussy”, avante!
Preparamos a estratégia de guerra para a noite que até o próprio Sun Tzu teria nos congratulado. Explico: todo o ecossistema ao redor dos shows é feito metodicamente para esfolar o turista com a maior quantidade de dinheirinhos gringos possível. Inclui cobranças astronômicas não combinadas, bebidas para as meninas não solicitadas, zeros a mais na conta, coerção na porta e tudo mais que se pode descobrir facilmente nos tripadvisors originais ou genéricos.
Preparados, posicionamos a nossa defesa. Levamos dinheiro contado. Driblamos os tuk tuks. Evitamos os meninos que oferecem o cardápio laminado de shows (e fotos com as “borboletas”) – com a naturalidade do atendente do Giraffa’s querendo acrescentar fritas ao seu combo. Combinamos o preço na entrada e o pagamento antecipado. Entramos.
Esperava um grande circo, com uma grande audiência e garotas treinadas anunciando a entrada da mulher barbada e engolidor de espada no picadeiro. Encontrei um ambiente escuro, um casal tímido no canto, outro gringo em outro, e nos pole dances garotas cansadas, não lá na sua melhor forma, apresentando seus shows de… bom, nesse quesito, a mulher barbada e engolidora de espada é uma boa analogia. Mas sem glamour nenhum.
A primeira coisa que apresentam é o potinho de maionese indicando a sugestão de gorjeta ‘forçada’ de 100 Bahts por show. Em seguida, enfileiram-se tailandesinhas olhando para você e para jarra, e tiram suas roupas de baixo. A primeira se aproxima e retira uma fita métrica gigante da sua preciosa borboleta. E tira, e tira… e tira…. Enquanto isso, você reflete sobre sua própria anatomia (e o seu provável defeito congênito de espaço para estoque e armazenamento de mercadorias).
Seu amigo coloca 100 bahts no potinho, ela olha para você indicando que também deve pagar. Logo acenamos que os 100 bahts é para os dois (um pouco menos de R$ 10,00). A próxima da fila pede para vocês segurarem balões. Coloca os dardos no receptáculo e direciona para os balões, e, consequentemente, uma vista muito mais explícita do que você tinha pago (melhor pôr 100 baht no pote logo). Logo recebe um dardo no seu cabelo. Você não sabe se retira com as próprias mãos ou queima logo o próprio cabelo ali mesmo para não ter que encostar no dardo. Alguns deles, entretanto, acertam os balões estourando. 100 Baht.
Do lado de cá, moças e ladyboys (no caso, os rapazes identificáveis por serem “aquelas das moças que são bonitas e não tem celulite”), fazem massagem e tentam sentar no colo do seu companheiro de aventura. O qual você protege como uma ursa que recém pariu um filhote ursíneo.
Enquanto apreciamos uma cerveja quente de 450 Baht cada, a seguinte convida para segurar uma garrafa, e com habilidades no seu próprio corpo a abre. Imagino o quanto alguns amigos ficariam impressionados com um acessório tão multi-funcional, já vem “a moça” e o “abridor de cerveja” em apenas um recipiente.
O show seguinte é o próprio pingue pongue. A essa altura, você já pega na raquete numa boa, pois sabe que não há gel anti-séptico no mundo que lhe trará algum conforto psicológico. Uma bola, duas bolas, três bolas, quatro bolas… (é, definitivamente, a delas vieram com mais espaço de estoque). 200 Bahts.
No palco, a moça aloca sem muita cautela um canetão e escreve palavras de acolhimento: “Welcome to Thailand”. E pensar que minha caligrafia escrevendo com a mão não é tão boa.
Seu amigo solicita o show mais esperado: a borboleta que fuma. Vem a moça para o balcão, dois cigarros, e entregam para vocês o isqueiro. Justo para você, que já odiava shows com interação – até quando elas eram apenas verbais. A quase queimadura de terceiro grau não a deixa traumatizada – deve ocorrer sempre.
A cerveja, sua curiosidade e os Bahts em notas trocadas acabam em questão de minutos. Com eles, o resto de decoro, compostura e dignidade que você outrora teve. Cabisbaixa, anda pelas ruas de PatPong. Refletindo sobre sua existência, decide: melhor se ater a exercitar aos músculos já incorporados na sua rotina da academia mesmo. É, melhor…
Seu exacerbado entusiasmo pela cultura, fauna e flora dos mais diversos locais, renderam no currículo, além de experiências incríveis, MUITAS dicas úteis adquiridas arduamente em visitas a embaixadas, hospitais, delegacias e atendimento em companhias aéreas. Nas horas vagas, estuda e atua com pesquisa de tendências e inovação para instituições e marcas.
Ver todos os postsVivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.