Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Na virada de 2000 para 2001 eu estava em Caraíva, sul da Bahia, quando chegou a notícia de que uma rave de ano novo estaria acontecendo por perto. Era só descer o rio de canoa: a festa era numa praia de rio, em meio a mata. Como nossa festa era em casa mesmo, não fomos. Mas passei pelo local durante um passeio de canoa, com um guia local, uns dois dias depois.
O cenário era desolador. Garrafas, canudos, copos, bitucas de cigarro, restos de decoração. O canoeiro, entre desolado e bravo, contou que era sempre assim e que o pessoal da vila estava se reunindo para proibir festas nos próximos anos. Segundo ele, esse tipo de turista acaba com a água, deixa tudo sujo e vai embora para gastar dinheiro nas pousadas de Arraial D’ajuda ou Trancoso. E mesmo que ficassem, não é o tipo de turista que a vila de Caraíva, que na época estava começando a crescer como destino cool em contraste com a super lotação de outras vilas mais famosas do sul da Bahia, queria atrair.
Lembrei disso vendo o trailer do Gringo Trails, documentário sobre o impacto do turismo de massa em regiões de todo o mundo. Ficou dez anos em produção e usa como exemplos a destruição deixada após cada Full Moon Party tailandesa e o impacto nem sempre positivo causado pela presença dos turistas nos desertos de sal da Bolívia. A diretora, a antropóloga norte-americana Pegi Vail, parte da experiência pessoal de escritores, editores, fotógrafos e profissionais da indústria do turismo. Longe de apresentar soluções, mostra de forma clara o problema e suas causas, deixando que cada um pense em como se tornar um viajante melhor e mais consciente.
Gringo Trails Official Trailer from Pegi Vail on Vimeo.
A National Geographic considerou o documentário “uma necessária discussão sobre o significado de ser um viajante” e o Village Voice foi além, decretando que o filme mostra “como backpackers não são assim tão diferentes dos turistas comuns”. Quem lê em inglês encontra no site da CNN essa ótima entrevista com a diretora, que comenta que gringo não significa apenas brancos norte-americanos ou europeus e que as pessoas não tem a dimensão exata do poder da indústria do turismo no mundo.
Gringo Trails está sendo exibido em festivais de cinema e eventos de viagem em todo o mundo e ainda não há data de lançamento de uma versão física ou online.
Saiba mais
https://www.facebook.com/Gringo-Trails
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Gaía Passarelli é paulistana de nascença, autora do livro "Mas Voce Vai Sozinha?"(Globo, 2016) e do blog How to Travel Light. Encontre-a em gaiapassarelli.com
Ver todos os postsNa Espanha isso é gritante e em Barcelona só tem piorado. Esse verão foi pesado, muitos moradores fazendo protesto nas ruas contra o turismo, muitos grupos de turistas fazendo baderna dia ou noite. Mas o que me deixou mais chocada foi pegar um vôo Londres-Ibiza no verão e depois dormir no aeroporto de Ibiza. Era como estar em um programa sobre animais soltos na floresta.
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.