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Há cerca de uma década a região ao redor da Estação da Luz, centro velho de São Paulo, não era aconselhável para turista algum. Levar os tios que vieram do interior? Só para ver exposição na Pinacoteca! Sei bem: durante parte da adolescência morei na região do ABC e usava os trens da Luz todos os dias. Meu trajeto normal era caminhar da estação até a Praça da República, subindo a Casper Líbero e a Ipiranga.
Em 2013 andei refazendo o trajeto. A região está longe de transmitir sensação de segurança, mas já foi mais degradada. Desde que a Prefeitura de São Paulo começou o arrastado processo que chama de “revitalização do centro” esse trecho melhorou um tanto, ainda que esteja longe do que os paulistanos poderiam considerar ideal.
A Luz, antiga estação em estilo inglês fundada em 1901, é hoje centro de um roteiro cultural que inclui o Museu da Língua Portuguesa, a Sala São Paulo e o Jardim da Luz. Como pode rolar fila nos finais de semana, quem puder deve dar preferência a encarar o passeio num dia útil qualquer. Assim também dá para programar uma parada na Casa Búlgara, ali no Bom Retiro, e pedir um suco de maçã com bureka de queijo.
Aberto em 2005, fica ao lado e em cima da Estação da Luz. O térreo abriga exposições temporárias. A atual é dedicada às letras de Cazuza e vai até fevereiro. Às terças-feiras o museu fica aberto até as 22h e tem entrada gratuita. Acesso pela Praça da Luz, na frente da Pinacoteca.
Palco de algumas das primeiras megaexposições de São Paulo, como a de Auguste Rodin, em 2001. É uma das construções mais bonitas da cidade, obra do arquiteto Ramos de Azevedo. É também o mais antigo museu de São Paulo, inaugurado em 1905! Entrada gratuita aos sábados.
A mesma fundação é dona da Estação Pinacoteca, ali perto da Julio Prestes, no Bom Retiro. Inaugurado em 1914, foi sede da polícia paulista durante a ditadura militar e ficou conhecido como ‘prédio do DEOPS’ (Departamento Estadual de Ordem e Política Social), ganhando memórias sinistras. Por isso o prédio foi escolhido em 2005 para abrigar o Memorial da Resistência, um dos passeios menos agradáveis e mais instrutivos da cidade.
A sede da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo ocupa a bela construção que é a Estação Julio Prestes, antiga central da Ferrovia Sorocabana. É o lugar ideal para um desacostumado ao centrão paulistano entrar dizendo que “nossa, nem parece o Brasil”. É uma construção imponente, finalizada em 1938, quando carros começavam a repartir o espaço da cidade com os trens e bondes. Em 1997 foi ocupado pela Secretaria de Cultura de São Paulo para se tornar o Complexo Cultural Julio Prestes.
Todo paulistano, de nascença ou de coração, merece passar pela experiência de ver a Orquestra em ação na Sala São Paulo. É mais fácil e acessível do que parece, já que a OSESP oferece concertos de todos os tipos para todos os bolsos. Só tem que ficar de olho na programação.
Já pedindo desculpas pela frase boba: durante um dia de sol o Parque da Luz tem uma das luzes mais bonitas da cidade. Não sei dizer se são as altas copas das árvores, o reflexo dos prédios antigos ou a felicidade de ver essa praça restaurada – lembro que anos 90 era apenas mais um lugar a ser evitado – mas há ali algo bem bonito de ver. Dentro do parque, que cede parte do terreno para a Pinacoteca e para uma porção de esculturas modernas, há fonte, coreto, rochas formando cavernas para crianças entrarem, o lago em formato de cruz de malta e a Sede da Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente. Em qualquer hora do dia há homens com olhar perdido sentados nos bancos, senhorinhas caminhando em direção ao Bom Retiro, crianças passeando cachorros e moças de vocação duvidosa – mais paulistano, impossível.
Pouca gente visita esse espaço de relíquias religiosas que desde 1970 ocupa uma das alas do Mosteiro da Luz, extensão da capela que batizou a região, fundada em 1603. De frente para o trânsito e camelôs da Avenida Tiradentes e tombado como patrimônio nacional, o museu exibe principalmente peças do período colonial, como as obras de Aleijadinho.
Deu fome? O Bom Retiro é um dos bairros mais servidos de São Paulo na categoria ‘ecletismo étnico’. Você vai achar as tradicionais burekas da Casa Búlgara, empanaditas no Café da Colômbia e pratos fartos no único restaurante grego da cidade, o Acrópoles (lotado na hora de almoço, vale a sua espera). O falafel do escondido Malka e comida de mãe-gourmet no Bistrot da Sarah são outros clássicos da área. Nem tudo fica aberto aos finais-de-semana, veja contatos e endereços no mapa.
* Foto de capa: Vitoriano Junior / Shutterstock.com
Gaía Passarelli é paulistana de nascença, autora do livro "Mas Voce Vai Sozinha?"(Globo, 2016) e do blog How to Travel Light. Encontre-a em gaiapassarelli.com
Ver todos os postsPasso nesses lugares todos os dias, já visitei alguns, tipo os que ficam ali, grudadinhos à estação da Luz (Parque, Museu da Língua Portuguesa e Pinacoteca), são bem legais, mas, quanto à sensação de segurança, bom, é SP, né…
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