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A viagem que me fez amar viajar

Quem escreveu

Lalai Persson

Data

28 de January, 2014

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Quem me conhece sabe que não consigo parar quieta. Estou sempre querendo fazer a mala e partir para algum lugar. Tenho um desejo, em que um dia ainda darei vazão: ir ao aeroporto com uma mala pequena e comprar uma passagem para algum canto do planeta não planejado. Cair de paraquedas em um país que nunca habitou meu inconsciente ou mesmo minhas listas de destinos.

Gostar de viajar é algo que vem desde muito cedo. Sou filha de um aventureiro, que só não foi mais longe porque algo o segurou. Aos 12 anos fugiu de um colégio interno e foi parar no Rio, onde ficou por 1 ano até ser descoberto por um tio enquanto passeava na praia. A próxima fuga foi para vender santinho no Espírito Santo e depois Brasília, quando ainda estava sendo construída. Por fim, meu pai veio parar em São Paulo, onde se casou com a minha mãe, após vê-la sozinha chorando num banco na rodoviária.

Foto IVL / Shutterstock.com
Foto IVL / Shutterstock.com

Cresci sendo levada pra cima e pra baixo pelo meu pai, com direito à caronas de caminhões que pegávamos na Rodovia Anhanguera ou Bandeirantes, próximas ao lugar onde nasci. Minha mãe não nos acompanhava, mas mesmo assim eu sempre pulava de alegria quando ele vinha e falava “hora de fazer as malas”. E assim percorrermos boa parte de Minas Gerais entre caronas e longas viagens de ônibus. Cada viagem vinha acompanhada de histórias cheias de aventuras que sempre me deixavam ansiosa pelo nosso destino final.

Quando fiz 15 anos a vida era outra: difícil e sem muita grana. Naquele momento, prometi a mim mesma que, aos 40 anos, teria dinheiro suficiente para rodar a Europa. E assim cresci, dividindo com meu pai, meu plano mega ambicioso de conhecer a França, país que sempre foi uma misteriosa paixão para mim.

Comecei a trabalhar nessa época e, mesmo com muita dificuldade de economizar, fui juntando uns trocados, o que me valeu 9 anos depois a realização do meu audacioso plano antecipando-o em 16 anos!

Se as pequenas viagens já mexiam com a minha cabeça, essa então viria para mudar a minha vida.

Lembro-me ainda de todos os preparativos. Era 1997 e a economia uma loucura. Cada país europeu tinha sua própria moeda, eu sequer tinha um cartão de crédito internacional e o Visa Travel Money era ainda uma utopia por aqui. Viajei com travellers cheques em dólares, na época num câmbio de 1 pra 1. A nossa economia começava a prosperar.

Nessa época a Internet como conhecemos dava seus primeiros passos. Fiz amigos pelo IRC e salas de bate-papo do UOL mundo afora que me ajudaram nas minhas pesquisas e dicas de lugares baratos para ficar. Na época também não existiam as companhias aéreas low-fare, tanto que minha primeira rodada na Europa foi de trem, muitas vezes em viagens super desconfortáveis e cansativas.

Esse meu primeiro mochilão foi feito com uma das minhas melhores amigas, que também nunca tinha ido tão longe. Partimos no dia 09.09.1997 a bordo de um vôo da Vasp, rumo à Barcelona, nossa primeira parada. A minha sorte era tamanha que eu ganhei um upgrade para a Classe Executiva, pois rolou um overbooking. Detalhe: eu não entendi isso na hora e achei que a econômica era boa daquele jeito mesmo.

Eu e a Petula, minha melhor amiga que viajou comigo, em Paris em 2011
Eu e a Petula, minha melhor amiga que viajou comigo, em Paris em 2011

Eu mal conseguia segurar minha excitação. Cheguei em Barcelona com um sorriso de orelha à orelha e não parava de encher o saco da minha amiga pedindo para ela me beliscar, pois nada daquilo poderia ser verdade.

Porém, a minha emoção ao pisar fora do país pela primeira vez não foi em Barcelona. Lá eu ainda estava suspensa no ar quase fora de órbita. Depois de 7 dias na cidade embarcamos para Nice em um trem caótico, que não tinha nem lugar pra sentar. Achei que o pesadelo começaria ali, mas a minha animação era tanta que sentei na mochila e viajei feliz. Descemos no final da noite na primeira estação já em território francês. Comecei a pular e gritar: eu FINALMENTE estou na França. Confesso que chorei. Chorei mesmo. Ria e chorava ao mesmo tempo.

Eu em Paris em janeiro 1998
Eu em Paris em janeiro 1998
Eu em Paris em 2011 por @olapersson
Eu em Paris em 2011 por @olapersson

Apesar da euforia, essa viagem foi cheia de contratempos. Minha amiga foi roubada em Nice e teve que interromper a viagem. Quase surtei, afinal continuaria a viagem sozinha, algo que não estava nos meus planos. Mas assim mesmo esse mochilão acabou se tornando uma temporada de 6 meses na Europa.

No primeiro mês eu fui para Barcelona, Nice, Mônaco, Veneza, Munique, Nuremberg, Berlim (imaginem o que era Berlim em 1997) e de lá segui de carro até Amsterdã para depois finalmente chegar num dos destinos mais esperados: Paris. Depois, ainda em êxtase, segui para Londres e então para Kiel, onde peguei um navio para Gotemburgo, na Suécia (sim, a Suécia <3): tinha conseguido um trabalho de au pair numa cidade minúscula chamada Örebro. Um dia cheguei na minha casa na Suécia e dei de cara com uma carta do Brasil. Era meu pai. Ele me dizia o quanto estava orgulhoso por eu ter herdado sua vontade de conhecer o mundo e por ter conseguido tal façanha. E, para a Lalai de 24 anos, aquilo foi uma façanha e tanto.

Foi na Suécia de fato que começou minha aventura. Rodei um bocado por lá, mas no inverno eu fugi para Londres para os braços de um dos meus melhores amigos. O destino ainda continuou me jogando de volta para Paris e depois Lisboa, totalizando meio ano, indo pra cima e pra baixo de mochila nas costas como meu pai tinha me ensinado.

A grana sempre fui curta me fazendo contar moedas. Fiz trabalhos de limpeza, fui babá de criança e cachorro, tudo para poder esticar a minha estadia o máximo que pudesse. No final descobri que minha passagem estava vencida e eu não tinha dinheiro pra voltar ao Brasil. Felizmente um amigo deu um jeito e me emprestou a grana, me colocando num vôo (horroroso, a propósito) da Alitalia, com escala em Roma.

Para quem achava que não cruzaria o Oceano tão cedo, essa viagem virou minha vida de ponta-cabeça. Deixei pra trás um namoro de quase 7 anos, um emprego razoável, família e amigos. Por lá eu me vi e me senti sozinha várias vezes, chorei de saudades, quis voltar, quis ficar, quis viajar o quanto fosse possível.

Durante esta aventura, fiz grandes amigos, namorei sério e prometi que a Suécia não seria o lugar para onde eu voltaria, de tão chato que eu tinha achado o país, mesmo ele me proporcionando experiências e mais viagens incríveis (crescer nem sempre é fácil). Acho que o destino me pregou uma peça.

Eu entre Suécia e Noruega em 2011, por Ola Persson
Eu entre Suécia e Noruega em 2011, por Ola Persson

Voltei com um rombo na cabeça (e no banco). O mundo ficou maior, gigante, possível, acessível!

Sei que se essa viagem não tivesse acontecido, hoje eu seria outra. Provavelmente vivendo num mundo menor, sonhando menos e enxergando mais perto.

Essa viagem definiu muito o que sou hoje. Tornei-me mais otimista, pois agora acho que voar é sempre possível, perto ou longe, alto ou baixo. Corri muito atrás porque decidi que não passaria um ano sequer sem fazer uma grande viagem. Por isso eu sempre sempre sempre incentivo quem quer que seja a viajar. E vamos concordar, viajar hoje está tão mais fácil e é algo imprescindível.

Cheguei aos 40 e não teve como não olhar para trás para resgatar como eu sonhava na adolescência estar quando estivesse com 40 anos. E o maior sonho que eu tinha para eles, eu o conquistei aos 24. Aos 40, eu já pisei tantas vezes na Europa, que mal consigo contar e ainda assim sei que tudo o que eu quero é não parar. Pois nada me liberta e me faz tão feliz quanto viajar.

Quem escreveu

Lalai Persson

Data

28 de January, 2014

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Lalai Persson

Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.

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Comentários

  • Adorei, Lalai! Ainda lembro quando publicou em um blog seu uma história linda sobre uma viagem que fez que lembrava muito o filme “Antes do Amanhecer”. Adoraria reler um dia. Ainda existe publicada em algum lugar? Me manda? Beijos!

    - Tuka Pereira
    • tava no multiply, mas eles tiraram a rede do ar :(

      - Lalai Persson
  • Me identifiquei muito, apesar de não ter viajado pra fora nenhuma vez (mal saí do meu Estado), mas achei muito legal e o brilho nos olhos foi forte. Parabéns e que você consiga continuar viajando mais e mais, sempre!

    - Diogo De Souza Junior
    • opa, obrigada. Mas se tiver a oportunidade, se joga no mundo um cadinho :)

      - Lalai Persson
  • Me identifiquei tanto com a matéria. Sempre tive tbm essa vontade conhecer Paris sem saber porque e quando conheci fiquei estática, não acreditando no que estava acontecendo.

    - Elba Geovanini Vanzeli
    • ah, então na primeira oportunidade que tiver, agarre e vá conhecer Paris… a cidade é demais

      - Lalai Persson

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