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Desde que meu coração se derreteu pelos Estados Unidos, eu comecei a explorar mais possibilidades de viagens por lá (e continuo à caça). No ano passado eu decidi com meus amigos que faríamos uma road trip de Las Vegas até Austin, onde participaríamos do SXSW.
Ficamos um bom tempo brincando no Google Maps para achar o melhor caminho para Austin a partir de Las Vegas, pois tínhamos apenas 4 dias para chegar lá, o que fez nossa viagem de 2.670km ser cronometrada.
O plano inicial foi:
Dia 1 – Las Vegas
Dia 2 – partir para Grand Canyon às 15h – chegada no Grand Canyon prevista para às 20h
Dia 3 – passar o dia no Grand Canyon e seguir para Albuquerque, passando por Flagstaff. Previsão de chegada à 0h
Dia 4 – café da manhã em Albuquerque (eeeee, Breaking Bad), rumar para Roswell (ver disco voador) para almoço, seguir para Fort Stockton, onde dormiríamos
Dia 5 – café da manhã em Fort Stockton e seguir pra Austin
Eu nunca tive muita vontade de conhecer a famosa Sin City, mas acabei me rendendo e achei que passar uma noite por lá seria mais do que suficiente. Devido à influências cinematográficas, decidimos ficar no Bellagio, o famoso hotel que abrigou cenas do filme “Onze Homens e Um Segredo“.
Las Vegas foi uma divertida surpresa. Contemplamos a fonte dançante do Bellagio da janela do nosso quarto, jantamos dentro da Torre Eiffel, comendo e bebendo muito bem, tomamos um brunch incrível no Central Michel Richard, dentro do Caesars Palace. À noite nos mantivemos fiel e ficamos horas gastando nossas doletas no cassino do Bellagio e tomando bons drinks. E, claro, fizemos, como manda o figurino, o passeio nos hotéis mais famosos, lojas. O prêmio “originalidade” de Las Vegas foi dado ao The Venetian, tamanha ousadia ao tentarem ser chineses na cópia. Reparem no teto falso:
Ficamos exatamente 24 horas em Las Vegas. Às 15h da terça-feira dirigimos rumo ao Grand Canyon. A viagem para o Grand Canyon foi uma das mais lindas que fiz na vida, pois a estrada que liga Nevada ao Arizona é de tirar o fôlego (sei que é muito mais fácil ir de Las Vegas de helicóptero, mas juro que a viagem de carro é inesquecível, então deixe para fazer o vôo de helicóptero a partir de Flagstaff ou Phoenix, se estiver em Las Vegas, pegue um carro, vá e prepara o coração).
O deserto faz com que, em alguns momentos, a gente se sinta na Lua ou em qualquer outro planeta bem distante. Percorremos 513km com os olhos vidrados na estrada. O que é ainda mais belo é a variação de cores do deserto americano, ganhando contornos coloridos em alguns lugares. A sensação é de estar viajando para o fim do mundo, já que não há nada além do deserto em volta. A estrada é reta e infinita e à sua frente. São estradas incríveis atravessando o nada.
A dica é: não esqueça a trilha sonora, imprescindível para essa viagem, ou aluga carro com rádio por satélite, pois no nosso caso a SiriusXm foi nossa salvação. O por do sol que ganhamos na estrada nos deixou completamente embasbacados… sabe quando você vê uma imagem e quer enquadra-la para sempre na memória? Foi assim… aliás, nessa road trip vi alguns dos por-do-sóis mais incríveis da minha vida.
Chegamos no National Park Grand Canyon por volta das 22h e, para nossa surpresa, estava nevando. Alugamos um lodge no meio do parque, algo que recomendo, pois facilita bastante a locomoção por lá. As tarifas fora do parque são bem melhores, mas valem a pena só se você for ficar mais tempo na região. O ideal é ficar, pois em um dia você não vê muita coisa.
Acordamos e ainda estava nevando, algo inesperado nos meus planos. Optamos pelo passeio de ônibus, afinal helicóptero não ia rolar devido ao mal tempo. Já na primeira parada deu vontade de chorar, tamanha era a neblina e ainda ter que ouvir a motorista falando (e rindo):
– Bom dia! Aqui você pode ver…. ah, ahn…. não dá para ver nada.
Por alguma sorte do destino, a neblina começou a se dissipar e o Grand Canyon começou a se abrir para nós. Difícil explicar tudo que senti durante o passeio, mas foi aquela sensação de ser um pontinho no universo e nada mais. A vista vai muito além do que acreditamos que ela alcance. É impossível não se perder nos próprios pensamentos. Você vê uma ponta de um canyon que está a 90km de onde você está.
É o tipo de viagem em que é muito fácil cair em auto-reflexões sobre nossas vidas. Eu chorei de emoção. E chorei, de verdade. As lágrimas caíram copiosamente diante de tal beleza (sou cafona, vocês sabem). Apesar da paisagem não alterar muito, a cada novo canyon, meu queixo caiu diante de tal cenário, em especial quando vi o Rio Colorado cortando os canyons. Para mim é viagem obrigatória na vida.
Claro que a viagem foi curta demais. Parti com uma tensão de que não tinha visto tudo. E, claro, não tinha visto nada. Contemplei apenas uma pequena amostra do que é o Grand Canyon. A dica é ir na primavera, pegar os passeios a pé, que permitem caminhadas no meio dos cânions, experiência que não tive (senão estaria chorando emocionada até hoje).
Saindo do Grand Canyon, nossa missão era conseguir chegar no mesmo dia em Albuquerque, que fica a 740km de onde estávamos. O tempo era curto e a vontade imensa de parar em vários cantos era de nos fazer tremer, tamanha ansiedade em ver tanta coisa que a viagem oferece. Eu, que sou curiosa, fui googlando todos os nomes estranhos que fui lendo em placas, o que me fez descobrir lugares que nunca soube existirem.
Conseguimos entrar em Flagstaff já no meio da tarde e, de lá, decidimos que percorreríamos a antiga Route 66 enquanto fosse possível, mesmo que saísse um pouco da nossa rota e nos atrasasse. Aliás, para quem quiser ir mais longe, nesse link há todos os lugares interessantes que ficam no meio da velha “route 66″.
Lugares que recomendo a parada caso tenha mais tempo do que eu tive nessa viagem:
– visitar a represa Hoover Dam, uma das maiores obras de engenharia dos Estados Unidos, onde é possível percorrer o interior da usina em tours turísticos. No pouco tempo que tínhamos, paramos apenas num local onde era possível ver uma parte do rio. A imagem já nos impressionou, afinal estávamos bem no meio do deserto e a água cortando aquele terreno tão árido, já é uma visão estonteante.
– Reserva indígena Hualapai que dará ao visitante a vista de uma verdadeira cidade do velho oeste americano. Pesquisamos tudo a respeito, mas não conseguimos visita-la. Ficou a vontade.
– Sunset Crater Vulcano, no norte de Flagstaff, que é a cratera de um vulcão extinto. A montanha tem 2.500 metros de altitude e é possível percorre-la em 2 horas.
– Monument Valley, que fica ao norte do Grand Canyon, a 327km, no Navajo National Park. Foi lá que rolaram várias gravações de filmes de faroeste, em especial os do John Ford.
Saindo de Flagstaff rumo a Albuquerque nos deparamos com uma placa “Meteor Crater”. Obviamente resolvemos segui-la para ver do que se tratava. Infelizmente nos deparamos com o local fechado (too late, baby!). Voltamos frustrados para a estrada e acabamos sendo presenteados por um por-do-sol de tirar o fôlego, afinal não é sempre que você vê o sol se pondo no deserto.
As placas que fomos visualizando até chegar em Albuquerque só nos causou a certeza de que “temos que voltar e fazer essa road trip por um mês”, afinal o que não faltam são lugares incríveis para serem visitados. Fiquei doente!
O “Painted Desert” se estende por cerca de 160km numa incrível mistura de tons diferentes de cores, se estendendo da região do Grand Canyon até a Floresta Petrificada. Não conseguimos visita-lo, mas a pesquisa que fiz me mostrou que a visita proporciona a vista de pedras com todas as cores do arco-íris e deixa o visitante estupefato por tal beleza natural.
Depois de atravessar Arizona e alcançar o Novo México, finalmente chegamos em Albuquerque no início da madrugada. Acabamos ficando num motel na entrada da cidade, que me fez rir feliz, afinal a gente dormiria pelo menos uma noite num motel bem suspeito com uma recepcionista atendendo através de uma grade, causando a impressão de estar num episódio de Breaking Bad, e que alguma merda poderia acontecer por ali a qualquer momento. Não aconteceu.
Infelizmente o máximo que conseguimos em Albuquerque foi tomar um digno café da manhã no The Range Cafe, uma mistura de american breakfast com boa (ou total) influência mexicana.
Eu, que tenho estômago sensível, consegui algo fora do tradicional para eles: torradas com manteiga, ovo pochê e café. Enquanto isso, meus amigos se entregaram a um verdadeiro banquete com direito a chili e sorvete frito.
Após o café, seguimos para Roswell, onde almoçamos e visitamos o “UFO Museum”. Para quem grudou na TV e fuçou o jornal para acompanhar o caso de Varginha, imagina o que é estar em Roswell! Aos perdidos, sugiro a leitura do caso para se inteirar e se animar e passar por lá.
Chegando na cidade, logo se constata que o famoso incidente que aconteceu em 1947, a fez crescer em torno dele. Acabamos almoçando num típico americano, o Cattle Baron, com pratos bem servidos e atendimento primoroso. Comer em lugares típicos americanos com toda a influência mexicana, sempre faz você sair rolando, afinal comer pouco pra quê?
A visita ao UFO Museum é obrigatória, afinal quem não gosta de rir?
Em Roswell você entende o que é uma cidade crescer em torno de uma lenda.Depois da visita ao museu, pegamos o carro e fomos para Fort Stockton, onde jantamos e dormimos.
Fizemos uma busca no yelp e foursquare e fomos parar no mexicano (sempre) que, aparentemente era o mais popular da cidade, Bien Venidos. Mesmo sendo popular, está longe de ser bom, mas é o que tem. Era um botecão. Aliás, essa é uma viagem em que 80% dos lugares em que você parar para comer, serão mexicanos e nem sempre bons.
Ao chegar no hotel (o “luxuoso” Super 8 Motel) a recepcionista foi categórica quando pedimos dicas de lugar para ir tomar uma cerveja: “se vocês querem se divertir, não vai ser nessa cidade”. Então nos rendemos a tudo o que queríamos naquele momento, um bom banho e uma boa noite de sono, o que conseguimos.
No dia seguinte acordamos animadíssimos, pois seguiríamos para Austin, nosso destino final, onde finalmente nos estacionaríamos por 10 dias.
A ótima surpresa foi encontrar uma cidade alemã em pleno Texas. Quem diria? Fredericksburg é super charmosa e com um centro recheado de lojas bacanas de design, roupas e ótimos restaurantes. Acabamos optando por um italiano, o que parece contraditório, mas sabíamos que Austin nos reservava tex mex e talvez teríamos ali nossa última refeição do jeito que gostaríamos (pelo menos eu). Fomos parar no Pasta Bella, onde fomos bem atendidos e comemos como reis. Deu uma vontade enorme de gastar mais tempo na cidade, mas nosso tempo estava se esgotando.
Já estávamos perto do final. Tínhamos apenas 144km pela frente, percorridos debaixo de uma chuva torrencial. A estrada não nos ofereceu grande deleite, mas chegamos são e salvos em Austin. Um dos pontos interessantes em atravessar o Texas é ver as bombas de petróleos espalhadas por todo o estado, que são grandes instalações que não tem como ignorar.
A viagem foi a mais corrida que já fiz na vida. Foram 2.670km em 4 dias, que deixou uma vontade imensa de repeti-la com mais tempo. Caso tenha oportunidade, separe pelo menos 10 dias.
As estradas americanas são impecáveis e não tem pedágio. Você pode dirigir a 130km/h, o que requer um bom carro e foi o que fizemos. Como sabíamos que dormiríamos em motéis ao longo da viagem e comeríamos em restaurantes baratos de estrada, decidimos que nosso investimento seria em um bom automóvel, que nos proporcionaria conforto na maior parte do tempo. Esse foi nosso investimento: uma Mercedez de primeira linha que nos garantiu chegar inteiros no nosso destino final. E valeu cada centavinho.
*Foto destaque: Nicolas Cool Las Vegas
Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.
Ver todos os postsLalai, tem ideia do que faria se tivesse mais tempo? Tô pensando em fazer essa road, só que o inverso, saindo de Austin. Bjo
Que incrível! Fiquei morrendo de vontade! E só para lembrar: a sua primeira vez num super 8 foi comigo em Chicago!
siiiim, e como lembro dessa viagem, que aliás, precisamos escrever sobre ela
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.