Live from Black Friday, Orlando – S01E02 – Sofrendo por antecipação

Doze dólares a mais por dia por um carro maior. Seguro completo, 12 dólares por dia a mais. Não quer? Só 93 assinaturas em documentos amedrontadores, declarando ciência dos infortúnios terríveis que vão acontecer. Da provável perda dos bens da sua família à inevitável prostituição do seu corpo e alma por ter decidido declinar os 12 dólares.

Comprando online no site da Universal dois ingressos para o parque,  ganha um grátis. Ou no hotel, 20% de desconto mais taxas. Ou em outro site um pacote por 143, mas é válido para 2 parques, no mesmo  dia, o outro não. Ou compra dois parques, com uma rosquinha, mas não tem refrigerante ilimitado, mas vale porque pode passar na frente de até  uma excursão.

Meu cérebro nessas ocasiões não funciona. Consigo escutar apenas “você quer trocar todos seus cartões de crédito por uma galinha de borracha?? (Siiiiiiimmmmm)

O sistema de cupons e ofertas nos EUA se organizaram a ponto de formar o maior confusopólio do planeta. Para fugir de uma balança comercial movida pela Mão invisível do mercado, as empresas usam a famosa técnica de deixar você tão confuso, tão confuso para tentar entender qual é o menor preço, que quando desiste e fala “vai esse mesmo”: elas descobrem o quanto você está disposto efetivamente a pagar. Ou seja, quando equaliza a energia e paciência que está disposto a gastar. No meu caso, basta uns cinco minutos para cansar o tico e teco e pensar “posso pagar um pouco a mais pra NÃO ter que levar um cupom?”

No carro, resisti bravamente e assinei um potencial desastre econômico na minha vida. Para os ingressos da Universal, paguei 285 dólares na porta, na internet, porque a mocinha insistia em me cobrar 350. Para logo mais descobrir que poderia ter pago 125.

Por isso que estou já sofrendo por antecipação. Da fila, da muvuca, do estacionamento lotado, a ponto de querer ficar no hotel tomando um café. Tenho impressão que meu coração muambeiro não tem mais tanta energia.

Quem se dá bem mesmo, são os animados. Para você realmente aproveitar as promoções, tem que estar disposto a pesquisar. Sites como BFads.net, theBlackFriday.com, Black Friday @Gotta a deal, ajudam a colecionar os tablóides dos locais.

Muitas lojas abrem 6 da tarde durante o Thanksgiving, outras 7, 8 e muitas ficam a noite inteira. Outras abrem amanhã 6 da manhã, outras 8, outras no horário normal…

Dei uma olhada básica e confesso que não tenho muito vocação para cupomaníaca, então mantive minha estratégia bem simples: vou em dois doorbusters (teoricamente a galera faz camping na porta das lojas e saem correndo quando abre), mas em lugares mais off-circuit.

Objetivo é às 6 da tarde na Sports Authority, comprar um tênis de corrida. Acho que é muita esperança achar o que eu quero, mas estão com promoção de 2 por um aparentemente. (Acabei de ler direito é o segundo é desconto de 50%, viu como não sirvo para isso?)

Se bem que deve ser a pior loja para entrar correndo com o público esportista  (tentem não cair da cadeira rindo da minha piada).

A outra, das 6 as 12 da manha é a Bed, Bath and Beyond, minha loja favorita nos EUA. Ela vai distribuir um cupom de 20% em toda a compra durante esse período, válido para todo o dia. Provavelmente não existe alguém mais feliz no mundo em comprar tupperware do que eu.

Por último, tentarei ir na Apple, que faz a única promoção do ano, mais ou menos 8% no valor total.

E ver roupas durante a madrugada, enquanto, esperamos, as mães de família, brasileiros cansados dos parques, senhoras de idade e demais cidadãos de respeito, não tenham pique para experimentar jeans. Andar até doer o pé e voltar para o hotel.

Gostaria de pedir para todos que façam uma corrente, pensem positivo;  se tiverem uma religião, coloquem meu nome lá no altar, ou na jarra do pastor. Porque se voltar hoje com todos os fios de cabelo e sem ter sido pisoteada, já será melhor que minhas expectativas.

Foto do destaque: Shutterstock – BlueSkyImage