Tendências dos principais festivais de inovação e criatividade do mundo.
Eu tinha um amigo sueco que já tinha rodado o mundo, mas mal conhecia a Europa abaixo dos pés dele. Um dia o questionei o porquê e a resposta foi que ele deixaria para explorar o continente europeu quando estivesse mais velho, pois provavelmente não daria conta de viagens tão longas.
Peguei essa desculpa (esfarrapada?) para mim e pouco viajei ao meu redor. Atravessei oceanos, continentes e almejo atravessa-los cada vez mais, mas pela primeira vez caiu minha ficha do quanto há para ver ao nosso lado e quanta disposição é necessária.
Pisei uma vez em Buenos Aires e foi toda a minha experiência com os países vizinhos. Em Lima só pisei no aeroporto para uma conexão. Há uns dois meses atrás vi que ia rolar o Primavera Fauna, um festival de música, perto de Santiago, no Chile. Decidi armar a viagem para fazer uma surpresa pro Ola, que sempre sonhava acordado em conhecer o país, pois é um ótimo lugar para fazer duas coisas que ele ama: esquiar e praticar windsurf, com grandes ondas e muito vento, diferente do windsurf praticado no nosso litoral.
Mesmo sabendo que Santiago não daria a ele a oportunidade de fazer qualquer uma das duas coisas, decidi seguir em frente, afinal Santiago poderia ser uma primeira boa experiência para voltar outras vezes e viajar ao seu redor. Opções não faltam.
A viagem foi descoberta pelo Ola somente na hora do embarque. Ele descobriu que soube que iríamos para fora do Brasil quando passamos pela Polícia Federal, mas ainda assim tentou manter o mistério, que foi desvendado ao chegar no portão de embarque com a atendente avisando sobre o embarque que estava prestes a ser iniciado.
Foi tão legal ver a cara de felicidade dele, pois aparentemente ele realmente não desconfiou. Malditos sejam os cookies, porque ele passou por Santiago em várias janelas do meu browser com anúncios no meu Facebook, gmail mostrando hotéis e vôos para a cidade e por aí vai, mas aparentemente ele sequer prestou atenção.
Eu voltei encantada com a cidade, que costuma ser apenas uma passagem rápida de turistas que vão para desvendar seu litoral, montanhas ou deserto. Eu fiquei com vontade de passar mais um tempinho em Santiago e, claro, assim como a maioria explorar o Chile de norte a sul, afinal atrações por lá não faltam: Matanzas, Valparaíso, as vinícolas, Portillo, Valle Nevado, Atacama, só para citar alguns.
O Chile é tão único que possui todos os climas característicos das regiões ocidentais, com exceção do tropical úmido (lembrando que o país abriga o deserto mais seco do mundo) e o clima polar (nem preciso explicar, né?). O país é fascinante quando o assunto é geografia e natureza para ver, enquanto o queixo cai.
O meu primeiro momento de êxtase foi quando avistei os Andes da janelinha do avião. Confesso: quase chorei. Para mim os Andes era algo tão distante e vê-lo tão perto foi emocionante. Imponente e belo, com alguns lagos azuis no meio dos seus vales, picos brancos, rotas, pequenos povoados. Foi mais do que imaginei.
O branco do seu pico vai desaparecendo dando lugar à terra quando vamos aterrissando em Santiago. Durante os 5 dias em que fiquei na cidade, não parei de contemplar os Andes cercando Santiago.
A experiência foi bem legal. A cidade é plana, moderna, limpa, arborizada, cheia de parques e praças, oferecendo incríveis opções gastronômicas, já que no Chile eles tem espécies únicas de frutos do mar, cortes diferentes de carne, boas cervejas e, claro, excelentes vinhos.
Ficamos no bairro Lastarria, em frente a um dos principais pontos turísticos da cidade, o Cerro de Santa Lucia. O bairro fica colado ao Centro, tem dois belíssimos parques (o Forestal e o Santa Lucia), museus (Belas Artes e o MAC), além de uma charmosa rua (Calle Lastarria) cercada de restaurantes, cafés e bares, tudo esbanjando charme com mesinhas tomando as calçadas, além de flores e árvores à sua volta.
Apesar de todos dizerem que a visita ao Mercado Central é obrigatória, eu confesso que me decepcionei. Só o recomendaria para quem tiver tempo de sobra na cidade. Para quem não sabe, é praticamente um mercado de restaurantes. Tem alguns poucos corredores com bancas de peixes, frutos do mar e carnes, mas nada muito além disso. O restante é tomado por restaurantes com garçons chatos que ficam tentando te puxar pra dentro deles. Extremamente turístico, cheio e quente. Já que estávamos lá, aproveitamos para experimentar a famosa centolla (um tipo de caranguejo gigante, que só encontrado nas águas geladas do Pacífico) acompanhada da boa cerveja local, a Austral. Ainda assim não foi uma experiência incrível, até porque você consegue comer boa centolla em outros restaurantes, mas prepare-se porque é um prato caro. O jeito mais barato é comer como entrada, mas certifique-se que o prato é servido quente. O preço da entrada é por volta de R$67, enquanto o prato pequeno sai por R$130.
A primeira experiência gastronômica que tivemos na cidade foi no Bocanariz, um restaurante super concorrido em Lastarria, que tem uma das maiores cartas de vinho servido em taça da cidade (só vinho chileno), onde, claro, o vinho é o protagonista. A comida, atendimento e o ambiente são ótimos. Valeu tanto que voltamos lá para ter nosso último jantar na cidade. Não é muito barato mas recomendo. Vá com tempo.
Esse foi o início que eu precisava para me apaixonar pela cidade: aluguel de um apartamento bacana (com o melhor host do mundo) num lugar bacana ao lado de lugares bacanas. Os dias que seguiram foram perfeitos, mas prepare-se para o clima quente e seco caso vá no verão.
Algumas dicas básicas enquanto o guia Santiago não sai do forno:
– melhores bairros para ficar: Lastarria, Las Condes e Providência, preferencialmente próximo a alguma estação de metrô. O airbnb tem opções ótimas e com bons preços na cidade, vale dar uma pesquisada;
– leve um bom par de tênis, pois Santiago é uma ótima cidade para bater perna ou pedalar;
– preste atenção nos grafites, pois tem muita coisa bacana. Uma das mais interessantes eu vi por acaso, após uma visita ao Centro Cultural Gabriela Mistral, que também vale a visita, ao sair por trás. Atravessei o Ministério da Defesa e saí pelo estacionamento à direita. Lá me deparei com algumas colagens incríveis num tapume ao lado. Quase um manifesto:
– evite táxi, mas se for usa-los, não deixe de baixar o app Safertaxi, ainda assim tentarão te engabelar. Os táxis geralmente são carros velhos e sem ar-condicionado;
– ande sempre com uma garrafa d’agua a tiracolo se for verão, pois o calor é surreal;
– vá em quantos parques puder, pois os parques são todos lindos. Os parques Arauco e Bicentenário são distantes, mas valem a visita. Os dois presenteiam com um por do sol divino. É deitar na grama e curtir;
– caso vá ao Parque Bicentenário, se dê ao luxo de ao menos de tomar um pisco sour no Mestizo, restaurante bacanudo que fica no final do parque. É necessário reserva, já para um drink, dá uma chorada que rola;
– caso vá ao Parque Arauco, não fuja do shopping, pois ele possui algumas marcas americanas que não aterrissaram no Brasil. O Shopping Arauco abriga as maiores marcas de luxo do mundo, é um boulevard e reserva boas surpresas na praça de alimentação, que fica a céu aberto. Não se intimide, escolha uma mesa, sente-se e peça um bom drink, cerveja ou um bom vinho. O atendimento é primoroso;
– para compras, o Shopping Costanera é uma boa pedida, pois abriga a primeira (e anda única) H&M da América do Sul e H&M é algo que a gente não resiste. Eu consegui achar boa parte da coleção da Isabel Marant, mesmo uma semana depois de ter sido lançada, enquanto lá fora já tinha se esgotado;
– não deixe de subir pelo menos em um dos famosos cerros da cidade, o Santa Lucia ou o (o mais alto) San Cristóbal, pois a vista que ambos oferecem é de tirar o fôlego, tanto da cidade quanto dos Andes. Com certeza você passará próximo a ambos, já que um fica no final do bairro boêmio Bellavista e o Santa Lucia fica em Lastarrias;
– vá no final do dia bater perna em Bellavista, o bairro mais boêmio de Santiago. Além de ter uma bela galeria de street art, tem um boteco ao lado do outro. É nesse bairro que fica o Cerro de San Cristóbal (só é possível subir ao topo até às 17h) e a casa que foi do Pablo Neruda, que vale a visita. Em Bellavista não se acanhe, escolha um boteco, pegue uma mesa na calçada e fique até o sol se por tomando uma boa cerveja, enquanto observa o burburinho local e as pessoas à sua volta. Se ainda se animar, escolha um restaurante na região, pois opções não faltam. Duas dicas são: Republicano e o Restobar KY, o segundo em especial se quiser ser surpreendido ou surpreender alguém pela escolha;
– restaurantes para ir: Santiago tem uma lista interminável de restaurantes e os preços são mais atraentes do que em São Paulo. Eu fiz uma lista, mas não consegui ir em todos, porém ainda assim indico alguns de olhos fechados só pelas pessoas que o indicaram: Peluqueria Francesa, Blue Jar (fica numa rua atrás do Palácio de Moneda e me ofereceu uma experiência gastronômica para comer de joelhos: medalhão com um bloco em cima de creme de abacate com ervas, que foi derretendo com o calor da carne. Chorei de emoção), Caleta Lastarria, Patio Bellavista que tem várias opções de restaurantes, Coquinaria, Astrid & Gastón especialista em cozinha peruana;
– se tiver pique, vá ao Borde Río, um centro gastronômico que fica a 10km do Centro. Eu não fui, mas no geral a melhor sugestão por lá é o Zanzíbar;
– para quem ama japonês, o melhor da cidade (não só o melhor japonês, mas também considerado um dos melhores restaurantes de Santiago), vá ao Osaka, número 1 no Trip Advisor. O restaurante nasceu em Lima, mas hoje é encontrado em Santiago, Buenos Aires, México e agora em São Paulo, na Rua Amauri que abriu suas portas há poucos meses atrás;
– lembre-se: sempre reserve os restaurantes onde quer jantar ou vai acabar na mão, como eu acabei um dia;
– cafés não faltam na cidade, mas eu adorei minha experiência no Wonderful, que é super charmoso, tem cultura de café, que é bem tirado, além de sanduíches deliciosos. Para quem estiver em busca de brunch, recomendo dar uma zapeada nessa lista;
– para sair à noite vá ao The Clinic, bar cheio de histórias, comida e rock’n roll ao lado do Museu de Belas Artes; Bar Constituicion, que tem sempre shows ao vivo. Caso prefira música eletrônica, vá ao Etniko (Bellavista) ou no Hotel W (Las Condes). Para uma boa cerveja com bate-papo, vá conhecer o Bar Berri, em Lastarria. Atendimento bacana, cervejas especiais, empanadas e ainda um incrível salão no andar superior. Caso esteja aberto, vá pra lá;
– não deixe de andar pelo bairro Itália, partindo da Avenida Santa Isabel à Bilbao pela Avenida Itália. É uma rua cheia de galerias, lojas de roupas e design, bares, restaurantes e cafés. Super charmosa, é atualmente um dos cantos mais cool de Santiago. Entre em todas as portinhas, pois elas sempre reservam ótimas surpresas. Se for almoçar por lá, escolha o restaurante espanhol Casaluz, que tem um jardim nos fundos super fofo, boa comida e ótimos vinhos;
– não deu tempo de ir, mas se conseguir, vá espiar o bairro Brasil, que tem bons restaurantes e noite agitada;
– baixe o app Oanda, pois aquela moeda (peso chileno) tem tantos zeros que é fácil se perder: R$ 1 = 223,92 CPL.
Dicas não faltam na cidade, que é pequena, mas merece ao menos 3 dias batendo perna por lá. Santiago é o típico canto europeu na América do Sul.
E o nosso presente foi um lindo Halo que deu ainda mais brilho às nossa mini-férias, visto durante o festival Primavera Fauna:
*Foto destaque: alobos Life
Lalai prometeu aos 15 anos que aos 40 faria sua sonhada viagem à Europa. Aos 24 conseguiu adiantar tal sonho em 16 anos. Desde então pisou 33 vezes em Paris e não pára de contar. Não é uma exímia planejadora de viagens. Gosta mesmo é de anotar o que é imperdível, a partir daí, prefere se perder nas ruas por onde passa e tirar dicas de locais. Hoje coleciona boas histórias, perrengues e cotonetes.
Ver todos os postsLalai. Adorei o post, aliás até me identifiquei com ele, pois estou indo conhecer o Chile no próximo mês exatamente porque comprei ingressos para ir no Primavera Fauna :). Já notei todas as suas dicas e tenho certeza que vou amar a cidade. Um abraço Léli
Léli, também to indo pra lá ;) hoje publicamos um guia mais completo da cidade: http://bit.ly/guiasantiago. Da uma olhada ;)
Post muito bom, Lalai!
Qualquer dia dou um pulinho por lá e volto pra conferir as dicas ;)
Beijos
Vivemos em um mundo de opções pasteurizadas, de dualidades. O preto e o branco, o bom e o mau. Não importa se é no avião, ou na Times Square, ou o bar que você vai todo sábado. Queremos ir além. Procuramos tudo o que está no meio. Todos os cinzas. O que você conhece e eu não, e vice-versa. Entre o seu mundo e o meu.